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Edição 129
05 de junho de 2008

Ciência e Vida

Folha do babaçu pode ser analgésica e antiinflamatória

Priscila Biancovilli

O babaçu é uma planta comum nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, é fonte de sustento econômico para diversas famílias. Isso acontece porque todas as partes desta palmeira podem ser aproveitadas para fins econômicos, desde o caule até as flores, passando pela casca dos frutos. Uma pesquisa da Faculdade de Farmácia e do Instituto de Química da UFRJ estuda agora as propriedades fitoterápicas da folha desta planta. De acordo com os pesquisadores, o babaçu pode conter substâncias analgésicas, antioxidantes e antiinflamatórias.

– Iniciamos este trabalho já há quatro anos. Os pesquisadores da farmácia têm contato com populações do Norte e Nordeste do nosso país, inclusive indígenas, o que facilita a produção de um trabalho etnobotânico. Isso consiste em montar um relato de uso das plantas em determinado local, coletando diversos materiais –, explica Patrícia Dias Fernandes, professora do Laboratório de Farmacologia da Inflamação, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da UFRJ. Todo o trabalho no laboratório é realizado dentro do previsto em lei. A exploração em áreas federais ou públicas só deve ser iniciada a partir de uma autorização do governo.

Desenvolvimento da pesquisa

Atualmente, a pesquisa está em fase de testes em animais e células de cultura. “Sempre que há indicação de alguma flor, folha ou fruto como agente analgésico ou antiinflamatório, testamos aqui em modelos animais, para avaliar se esta atividade de fato existe ou não. Assim, aos poucos, vamos tentando descobrir qual das substâncias do vegetal possui funções benéficas para a saúde. É importante deixar claro que trabalhamos sempre dentro dos princípios exigidos pelo Comitê de Ética”, destaca a professora.

A proposta do trabalho é, mais à frente, tentar identificar na planta uma ou mais substâncias que sejam responsáveis por atividades analgésicas ou antiinflamatórias, e que possam ser sintetizadas quimicamente. “No futuro, quem sabe, este material pode se transformar em um medicamento. Porém, uma possível conquista deste gênero ainda levará algum tempo para se tornar realidade, afinal necessitamos desenvolver inúmeros outros testes para que um possível remédio chegue às prateleiras”, esclarece Patrícia.

Uma das alunas de doutorado que participa desta pesquisa trabalha isolando as substâncias dos extratos da folha do babaçu. “Queremos descobrir qual ou quais moléculas possuem propriedades fitoterápicas”, afirma a professora. O trabalho acontece da seguinte forma: as folhas são recolhidas, desidratadas naturalmente e trituradas. A partir daí, faz-se a purificação do material, separando-o em pequenas porções, cada uma com frações de substâncias. “Porém, muitas vezes a quantidade que recebemos não se mostra suficiente para testes com animais, e não surte efeitos. Para que possamos conseguir uma porção adequada de substâncias, o ideal seria que se partisse de uma quantidade de folhas dezenas de vezes maior, algo muito difícil de ser executado na prática”, explica Patrícia.

Outro problema é que o babaçu existe apenas no Norte e Nordeste do Brasil, o que faz o grupo de pesquisa necessitar da ajuda de algum morador local para a coleta. As folhas inteiras não podem ser despachadas para o Rio de Janeiro, pois se trata de um processo caro e complicado. “Ainda assim, esse processo não se resume apenas à coleta: devemos ter uma identificação por GPS do local, além de levar um botânico para certificar a espécie das folhas, entre outros trâmites. A amostra da planta, além disso, deve ser depositada em um herbarium ou horto, e necessitamos juntar folhas, flores, frutos e sementes”, afirma a professora.

Cultura popular

A idéia geral da pesquisa é identificar uma ou mais moléculas com propriedades analgésicas ou antiinflamatórias, sintetizar e buscar uma patente para isso. “Por outro lado, gostaríamos também de comprovar biologicamente um produto já bastante utilizado pela população. No Nordeste, é comum algumas feiras venderem ‘garrafadas’, que são sucos com folhas ou frutos triturados, indicados para a cura de diversos problemas, desde a falta de virilidade até artrite e reumatismo”, enumera Patrícia.

Para confirmar ou negar uma informação sobre os possíveis princípios terapêuticos do babaçu, são necessários estudos conclusivos ainda em curso. Muitas pessoas acreditam que as folhas podem ser consumidas livremente, por se tratar de um produto natural. “Isso não é verdade. Como diz o velho ditado, tudo em excesso faz mal. Os medicamentos nada mais são que venenos bem dosados. E as plantas não são inocentes apenas por existirem na natureza”, alerta a professora.

Um exemplo típico deste problema é o boldo. “Essa planta, bastante comum em quintais de casas na cidade ou no campo, pode provocar hepatite se consumida em excesso. Ninguém deve jamais partir para a automedicação, mesmo que com plantas”, aconselha a pesquisadora.

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