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Edição 128
29 de maio de 2008

Notícias da Semana

Embrionárias podem ajudar pesquisas médicas

Aprovação da Lei de Biossegurança é comemorada por cientistas

Marcello Henrique Corrêa

Ontem, 29 de maio, foi um dia importante para a ciência brasileira. Em debate desde 2005, o uso de células tronco embrionárias para pesquisa foi, enfim, aprovado pelo Supremo Tribunal Federal. Sob fortes críticas de entidades mais conservadoras como a Igreja Católica, o uso desse tipo de célula está finalmente autorizado. Falta definir, entretanto, como será o perfil de regulamentação ética para a utilização. De qualquer forma, o consenso entre a comunidade científica é de que se trata de um passo importante para o avanço das pesquisas.

É também o que acha Franklin Rumjanek, professor do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular de Schistossoma Mansoni e Câncer, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ. Franklin lembra que algumas pesquisas já utilizam métodos semelhantes, com células tronco da medula óssea, porém esse tipo de célula não apresentam ação tão eficaz. “Essas células, além de serem mais escassas, também não respondem tão bem à programação de diferenciação como ocorre com a célula embrionária”, explica o pesquisador.

Para o Franklin, que é geneticista, além das pesquisas aplicadas à medicina – ponto forte da luta pela aprovação – a célula tronco apresenta uma característica importante para a pesquisa básica. “Na área de genética, se o pesquisador quiser se dedicar a descobrir como funciona o processo de diferenciação de uma célula em um determinado tecido, ele poderá se dedicar melhor, como nos principais laboratórios do mundo”, afirma o Rumjanek, ressaltando, porém, que o que chama mais a atenção no momento é a parte de pesquisa aplicada.

Regulamentação

Depois de aprovado o uso das embrionárias, o STF presenciou mais uma discussão. O principal motivo era a imposição de normas mais rígidas para regulação das pesquisas. De acordo com Franklin Rumjanek, esse tipo de discussão é redundante com relação a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). “É natural que os legisladores queiram tomar as medidas de cautela, porém a Conep já se encarrega de exercer uma fiscalização, que já envolve quaisquer trabalhos com humanos”, aponta o professor. “Além disso, de uma forma geral, os cientistas são pessoas éticas. A figura do ‘cientista louco’ só existe no imaginário popular”, complementa.

A pesquisa aplicada

Para aqueles que estão nas filas de transplantes ou sofrem com as seqüelas das doenças neurodegenerativas, a regulamentação das pesquisas com as embrionárias pode representar um pouco de esperança. Segundo o professor, a contribuição imediata vai ser no campo dos trabalhos que envolvem tecidos que não se regeneram. “Por exemplo, o músculo cardíaco não se regenera. No caso de um infarto, o tecido se transforma em um tecido cicatricial, que não contribui para o funcionamento do órgão. Nesse sentido, podemos imaginar que qualquer patologia e situação que envolva o coração vai ser o principal alvo”, analisa Rumjanek. Além dos tecidos cardíacos, o cientista destaca o tecido do sistema nervoso, que também não se regenera.

Apesar de serem possibilidades para um futuro, precisar quando a população vai colher os frutos dessas pesquisas pe inviável, de acordo com o professor. “Isso é impossível fazer, porque mesmo em pesquisa que não envolva aplicação médica, como as pesquisas básicas, é muito difícil prever em quanto tempo resultados serão alcançados, por causa dos imprevistos mais variados, desde falta de luz e água até compra de material”, esclarece.

Futuro

Segundo o pesquisador, ainda é cedo para pensar em passos mais ousados, como a clonagem terapêutica. “Acho que precisamos caminhar por etapas, e o governo parece concordar com isso. É claro que um cientista tem idéias por minuto, portanto nada impede que isso caminhe para fins os mais variados, incluindo clonagem para fins terapêuticos”, avalia o professor. “O fato é que a Ciência caminha de acordo com a imaginação e a curiosidade do cientista. Em última análise, é a sociedade que vai endossar ou não o tipo de pesquisa que será feito”, conclui.


Médico é homenageado no Hospital Universitário

José Papi completou 70 anos no último dia 21

Marcello Henrique Corrêa

Professores, alunos, colegas e pacientes lotaram o auditório Alice Rosa, no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), na manhã desta quinta feira, dia 29 de maio, para homenagear José Ângelo de Souza Papi, professor titular do Departamento de Clínica Médica. Papi completou seus 70 anos de vida e muitos outros de trabalho e colaboração à Faculdade de Medicina da UFRJ, ao Hospital Universitário e à ciência brasileira, de acordo com seus colegas.

Para quem se dedicou como professor por tanto tempo, não haveria nenhum modo melhor de celebrar o momento do que com uma aula. Por isso, as comemorações dos 70 anos de José Papi foram iniciadas com sua conferência, sobre “O universo da auto-imunidade”. Basicamente, a auto-imunidade é caracterizada pela resposta imune a células e tecidos do próprio organismo. Doenças auto-imunes mais conhecidas são a artrite reumatóide, diabetes tipo 1 e a tireoidite de Hashimoto.

Durante a aula, o professor destacou alguns aspectos do assunto, como a prevenção e o alto custo das pesquisas nessa área. “Estudar auto-imunidade é um desafio caro. Sabemos que pesquisa em auto-anticorpo é bem cara, para país de primeiro mundo”, observou o médico.

Ao final da palestra, quando a emoção já fazia falhar a voz do professor, montou-se a mesa de honra, com a presença de Sylvia Vargas, vice-reitora da UFRJ, Almir Fraga, decano do Centro Ciências da Saúde, Antônio Ledo, diretor da Faculdade de Medicina e Alexandre Cardoso, diretor do HUCFF. O próprio homenageado permaneceu no local e também compôs a mesa.

Durante a cerimônia, eles recordaram a relação com o professor e médico. Alexandre Cardoso foi um dos que lamentou não ter sido aluno de José Papi durante a época de graduação, diferente de Sylvia Vargas, que declarou ter tido essa honra. Ex-alunos ou não, todos concordaram que a contribuição do médico foi muito significativa. “José Papi esteve sempre presente no cotidiano do Hospital Universitário. Estava sempre fazendo suas funções e sustentando o elevado tom. Ele é um exemplo de professor, no qual devemos mirar”, declarou Alexandre Cardoso.

O diretor também comentou a crise do HUCFF, se referindo ao comentário de José Papi, a respeito do custo das pesquisas em auto-imunidade. “Como um hospital de alta complexidade, que procura trabalhar na fronteira do conhecimento, poderá viver sem recursos adequados para desenvolver suas atividades?”, questionou Cardoso. Antônio Ledo, que também expressou sua admiração por José Papi, declarou sua solidariedade aos problemas passados pelo Hospital.

Além das declarações dos presentes, José Papi foi homenageado ainda pela Sociedade de Reumatologia do Rio de Janeiro com uma placa comemorativa, que celebrava “a dedicação e o carinho” pela entidade. Além disso, o médico recebeu o carinho de uma de suas ex-alunas e da paciente Neuza Lima. “Gosto muito do senhor e lhe sou muito grata. Quando entrei aqui me sentia muito mal e hoje estou bem, graças ao senhor e à equipe. Obrigada”, declarou a paciente.

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