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Edição 127
21 de maio de 2008

Por uma boa causa

Projeto de lei obriga a presença de cirurgiões-dentistas em UTIs


Jefferson Carrasco

Na seqüência de reportagens sobre a odontologia, o Por uma boa causa desta semana discute uma questão polêmica que circula como um dos principais assuntos do Conselho Regional de Odontologia (CRO). A fim de mudar antigos hábitos do sistema hospitalar, o projeto de lei do deputado Neilton Mulim propõe a obrigatoriedade de cirurgiões-dentistas nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), visando maior eficácia no tratamento dos pacientes, um barateamento nos custos dos hospitais e a diminuição de casos de óbitos nas unidades.

– De início, quando li sobre essa idéia de impor a presença dos dentistas nas UTIs, não entendi muito bem, porque na minha época de hospitais, não havia isso. Então, depois de uma reflexão mais ponderada, pensando em trabalhos e estudos científicos já realizados, acredito que o projeto seja de suma importância – diz Edimilson Porangaba, diretor da Faculdade de Odontologia da UFRJ.

Nas cláusulas do projeto, dêem relação a prevenção e a tratamento, há a defesa embasada no grande potencial do meio bucal para originar infecções. Segundo o deputado Neilton Mulim, faz-se necessária a higienização adequada ao paciente, devido à inter-relação entre doenças bucais e sistêmicas. O indivíduo que chega ao hospital com seu diagnóstico pode sofrer uma soma nos prejuízos fisiológicos, uma vez que um terço das infecções contraídas nas unidades é advinda da cavidade bucal.

O diretor da Faculdade de Odontologia aponta agravantes na ausência da assistência odontológica. “Um cirurgião-dentista nas equipes de UTIs é relevante se pensarmos que os microorganismo alojados na boca podem se disseminar, fomentando uma doença sistêmica.”

A placa bacteriana, a doença periodontal, as estomatites e infecções periimplantares (inflamação comum em paciente com próteses ou implantes) podem evoluir, portanto, atingindo outros órgãos e, dessa forma, piorando o quadro do paciente, com o desenvolvimento de pneumonia, abscessos ou endocardite bacteriana. De acordo com dados apresentados na ocasião, entre 20% e 50% dos pacientes em UTI que contraem pneumonia morrem. Se o paciente estiver entubado, o percentual de óbitos sobe para 80%.

As ações de higienização, de acordo com Edimilson Porangaba, são a limpeza de tártaro, a remoção da placa bacteriana, o tratamento da cárie, se já houver, e o exame preventivo para o paciente que possui implante.

Com isso, o diretor levanta um segundo argumento para a implantação da lei – o aspecto econômico. “Com essa ação de tratamento com finalidade de prevenir, o paciente não contrai novas doenças ou complicações e o seu tempo de permanência da UTI pode ser reduzido, além de serem reduzidas as quantidades de remédios.” O projeto idealiza algo rentável, não somente válido para a saúde.

Segundo o Conselho Regional de Odontologia (CRO), o projeto de lei foi discutido na Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) na última quinta-feira, 15 de maio, e aguarda aprovação. O próximo avanço seria o encaminhamento para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, e depois o Senado Federal. Com relação a esse caminho, o diretor da Faculdade de Odontologia se mostra otimista. “Acho que será aprovado por todos esses trâmites, porque essa situação é real e precisa ser atendida”, conclui.

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