Agência de Notícias da UFRJ www.olharvital.ufrj.br
Edição 125
08 de maio de 2008

Faces e Interfaces

A dieta da mãe influencia a determinação do sexo do bebê?

Tatiane Leal

A determinação do sexo do bebê é feita por fatores genéticos. Mas, algumas vezes, ouvimos que consumir algum tipo de alimento específico pode favorecer o nascimento de um menino ou uma menina. Um estudo britânico afirma que a dieta da mulher antes da concepção influencia na determinação do sexo do bebê. Durante a pesquisa, 740 mulheres em primeira gravidez relataram seu histórico alimentar antes e durante os primeiros estágios da gestação.

A pesquisa da Universidade de Exeter e Oxford publicada na revista especializada Biological Sciences, da Royal Society, concluiu que mulheres com alimentação mais calórica foram mãe de filhos homens, enquanto a maioria das mulheres, com alimentação de baixa caloria, tiveram meninas. Os pesquisadores ressaltam o hábito de tomar café-da-manhã e o consumo de cereais e de certos tipos de nutrientes como fatores para o aumento de chances de conceber um embrião do sexo masculino.

O Olhar Vital convidou a nutricionista Elisa Maria de Aquino Lacerda, do Instituto de Nutrição Josué de Castro e o geneticista Franklin Rumjanek, do Instituto de Bioquímica Médica para discutir esses resultados e essa questão da influência nutricional na determinação do sexo dos bebês.

Elisa Maria de Aquino Lacerda

Professora adjunta do Instituto de Nutrição Josué de Castro, especialista na área de materno-infantil

“Que a dieta influencia na gestação em relação ao tamanho da criança, é certo e mostrado em centenas de estudos. Quanto melhor a alimentação, melhor o peso da criança, quanto melhor a alimentação da gestante, melhor condição de saúde. Agora, em relação ao sexo do ser humano, não há tantos estudos. Eu não digo que esse é o primeiro porque antes houve outros, com mulheres africanas desnutridas e com italianas magras, que geravam mais filhas. Então isso realmente já está sendo encontrado na literatura. Agora, até que ponto a nutrição e os nutrientes em si vão interferir nisso, não está claro. É ainda muito contraditório.

Em animais, há dezenas de trabalhos relacionando a dieta da mãe com o sexo dos filhotes. Há estudos com vacas e outros ruminantes, primatas, cavalos, carneiros e ratos. E a maior parte dos trabalhos segue essa linha de que quanto melhor a dieta, mais machos nascem. Mas, eles colocam que há várias causas não nutricionais que podem levar ao favorecimento de um dos sexos. No caso de animais, algumas são o estresse materno, a maior densidade populacional e o momento em que a fertilização ocorre. Agora de nutrição, encontrei pouca coisa que comprove essa modificação. Deve-se lembrar que correlação não é sinônimo de causalidade. Uma coisa aumentar ao mesmo tempo que outra não, necessariamente, é a causa dela.

Outra questão importante é a forma de levar a público a informação. Imagina se quem está interessado em ter um bebê começa a consumir muito alimento achando que vai ter um filho homem. Ou o contrário, quem quer uma menina pode começar a fazer uma restrição alimentar, algo perigoso e indesejável na gestação. Quando, na verdade, não é exatamente assim que isso funcionaria individualmente. Isso pode acabar acontecendo quando leigos ouvem esse tipo de resultado. Esses primeiros trabalhos sempre causam impacto quando os resultados aparecem. Então, acho que isso ainda vai dar origem a outros trabalhos. Por isso, acho complicado que isso determine algum tipo de procedimento que as pessoas possam tomar visando escolher o sexo da criança.”

Franklin Rumjanek

Professor do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular de Schistossoma Mansoni e Câncer, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ

“Sabemos que o sexo dos filhos depende do tipo de espermatozóide que fertiliza o ovo. Se for do tipo X, o embrião será do sexo feminino. Se for um espermatozóide Y, o bebê será do sexo masculino. Sabe-se que a chance de um espermatozóide X ou Y fertilizar o ovo se aproxima de 50%. Para que a dieta influencie este equilíbrio, temos que admitir que o estado de nutrição da mulher influencie a população de gametas masculinos. No caso citado, se a mulher tem uma dieta altamente calórica, isso de algum modo selecionaria os espermatozóides Y, em detrimento dos X.

É difícil, no momento, imaginar qual mecanismo estaria envolvido nessa seleção, uma vez que não há uma ponte clara entre a dieta e a população de gametas masculinos. A menos que a dieta calórica tornasse o ovo mais impermeável ao espermatozóide do tipo X. Se isso ocorre ou não, ninguém sabe. O que podemos afirmar é que, uma vez havendo a fecundação, o sexo do embrião permanece o mesmo até o nascimento.

Algumas questões também devem ser levantadas. Será que as mães que participaram da pesquisa se lembravam de fato da dieta que consumiram por ocasião da concepção? Os pesquisadores tiveram que confiar nesses relatos. Além disso, o valor obtido na pesquisa, afirmando que 56% das mulheres de alimentação calórica antes da concepção foram mães de meninos, não está muito distante de 50%. Temos que saber também se o tratamento estatístico foi adequado ou não. E, se o número de mães que participaram da pesquisa aumentasse, o desvio se manteria? É importante levar tudo isso em consideração.

Então, é difícil supor, com o conhecimento que temos no momento, a possibilidade de afirmar que o consumo de certos alimentos possa exercer nos humanos algum tipo de influência na determinação do sexo dos bebês.”

Anteriores