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Edição 119
27 de março de 2008

Microscópio

Traumatismo craniencefálico é pouco explorado

Monique Pereira – AgN/PV

O Centro de Estudos do Instituto de Psiquiatria (IPUB) da UFRJ realiza nessa sexta-feira, 28 de março, às 10h30, no auditório Leme Lopes do IPUB — av. Wenceslau Brás, 71 - Praia Vermelha — a palestra “Seqüelas cognitivas e psiquiátricas do Traumatismo Craniencefálico”, a ser proferida por Paulo Mattos, professor da UFRJ e diretor do Centro de Neuropsicologia Aplicada (CNA), que concedeu uma entrevista ao Olhar Vital para explicar alguns pontos relevantes apresentados na exposição.

O professor afirma que, originalmente, a conferência é direcionada a profissionais de saúde mental, pesquisadores, graduandos, mestrandos e doutorandos do IPUB que se interessam em estudar esse campo, com o objetivo de disseminar as pesquisas e descobertas nessa área da neurociência.

De acordo com Paulo Mattos o Traumatismo craniencefálico (TC) pode causar seqüelas significativas, dependendo da gravidade e dos locais acometidos no cérebro. Nos Estados Unidos, segundo ele, aproximadamente 200 mil pessoas são hospitalizadas a cada ano com o diagnóstico de TC, com um custo aproximado de 4 bilhões de dólares ao ano. “No Brasil, a mortalidade pelos TCs é de cerca de 40 indivíduos em cada 100 mil habitantes”, relatou o professor.

Mattos revela que o TC é a principal causa de óbitos e seqüelas em pacientes multitraumatizados; acidentes automobilísticos são responsáveis por metade da prevalência; quedas, por 21%; assaltos e agressões, por 12% e lesões relacionadas a esportes e recreação, por 10% do número de casos.

Segundo o diretor, o TC pode ocasionar, nos indivíduos sobreviventes, sintomas diversos como zumbidos, alta sensibilidade aos ruídos, alta sensibilidade à luminosidade, visão turva, diplopia (visão dupla), dificuldades com a atenção e a memória, precariedade no processamento de informações e irritabilidade, entre outros. “Alguns indivíduos podem até se tornar apáticos e sem a espontaneidade que tinham anteriormente ao trauma”, declarou Mattos.

O especialista terá como base para a realização da palestra os dados de algumas pesquisas realizadas com pacientes afetados pelo TC. Os estudos revelaram que o exame neuropsicológico, com testes específicos para avaliar cada uma das funções cognitivas (intelectuais) do indivíduo, associado a entrevistas estruturadas (com perguntas padronizadas) e questionários específicos, permite identificar os quadros secundários aos TC, também denominados seqüelas pós-concussionais — sintomas ou características adquiridos devido ao trauma — que podem ser transitórias ou permanentes.

Nos Estados Unidos, de acordo com o diretor, existem inúmeros casos de simulação de seqüelas pós-concussionais, em que o indivíduo exige uma compensação financeira do Estado alegando ter sofrido conseqüências de um acidente. A disseminação de notícias sobre TC na mídia tornou muito mais fácil o acesso de leigos a sua sintomatologia. “Nestes casos, apenas peritos poderão identificar que se trata de um quadro de simulação”, ressaltou Paulo Mattos.

Saiba outras peculiaridades do TC

Após o impacto, o TC pode ser classificado em três categorias: leve, no máximo apresenta sinais de confusão ou sonolência e totalmente curável; moderada; e severa, em que a vítima permanece em coma, sem abertura ocular.

Apesar da alta incidência de TC, a grande maioria (50 a 75%) é considerada leve, o paciente não apresenta qualquer sinal ou sintoma de lesão neurológica, de fratura de osso craniano ou do próprio cérebro.

Os indivíduos que sofrem TC podem apresentar inclusive alterações físicas, dependendo da gravidade do caso. O paciente pode evoluir para um quadro de epilepsia pós-traumática, em função das lesões estruturais.

Os TCs podem ocasionar diferentes padrões de prejuízo, dependendo de dois critérios: gravidade (leve, moderado ou severo) e tipo de lesão (difusa ou focal). Lesões difusas são as que acarretam lentidão de pensamento, dificuldades de atenção, fadiga e, associadas ao TC severo, podem acarretar alterações de linguagem e visuais-espaciais.

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