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Edição 119
27 de março de 2008

Ciência e Vida

Castanha de caju oferece novo tipo de protetor solar

Priscila Biancovilli

Abundante no Brasil, especialmente nas regiões costeiras do Norte e Nordeste, o cajueiro é e sempre foi uma das principais plantas frutíferas tropicais, especialmente pela grande possibilidade de aproveitamento de suas partes. Sua seiva produz tinta, sua raiz tem propriedades purgativas, e seu pseudofruto – a parte colorida e carnosa, rica em vitamina C e ferro – é bastante apreciada por seu sabor, servindo como matéria-prima para sucos, mel, doces e passas, entre outros alimentos. A castanha (curiosamente o verdadeiro fruto desta árvore, diferente do que o senso comum imagina), possui proteínas, carboidratos, ferro, cálcio, fósforo e sódio. Saboroso e nutritivo, este fruto agora foi condecorado com mais uma propriedade: o uso como protetor solar.

Uma pesquisa realizada a partir de uma parceria entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade de Brasília e a Universidade Católica de Brasília, estudou produtos isolados do líquido extraído da casca da castanha do caju (LCC). A partir disso, foram sintetizadas substâncias que podem proteger a pele contra os raios solares. Patenteado nacional e internacionalmente, o protetor solar brasileiro espera agora uma boa oportunidade de comercialização.

Participação da UFRJ

A UFRJ deu início ao trabalho com a castanha de caju a partir das pesquisas da aluna Emeli Moura de Araújo, do Programa de mestrado em Ciências Farmacêuticas, que iniciou seu trabalho no ano de 2002. “Nossa parte consistiu em estudar algumas substâncias extraídas deste fruto, avaliando a fotossensibilidade in vitro e em cobaias (fotoirritabilidade dérmica e ocular em coelhos). Primeiro,  27 substâncias foram isoladas do líquido da castanha. Em seguida, outras 10 foram sintetizadas a partir dele. Por fim, de todas estas, quatro apresentaram um Fator de Proteção Solar (FPS) adequado para a comercialização”, explica a professora Sheila Garcia, do Laboratório de Controle da Qualidade de Fármacos e Medicamentos, na Faculdade de Farmácia da UFRJ.

Dentro das universidades participantes, a UFRJ é a única a conseguir determinar o fator de proteção solar destas substâncias, aplicando um teste in vitro. “Dentro da parceria com as universidades em Brasília, realizamos também os ensaios para avaliar a fotomutagenicidade e a fotogenotoxicidade in vitro, numa parceria com o laboratório do professor Álvaro Leitão, da Biofísica, e alguns professores da Faculdade de Farmácia”, esclarece a professora. Apesar de o LCC ser cáustico e provocar queimaduras na pele, se usado de forma bruta, pesquisas realizadas com substâncias sintetizadas não apresentaram nenhum tipo de problema.

“Aqui, trabalhamos também na formulação de fotoprotetores. Faz parte do nosso projeto de pesquisa a formulação de filtros solares em lipossomas, com dissertações de mestrado concluídas e trabalhos de iniciação científica em andamento. As estruturas dos lipossomas aumentam o tempo do fotoprotetor na pele e lhe conferem resistência à água”, afirma Sheila.

Atualmente, as pesquisas dentro da nossa universidade estão paradas, por falta de financiamento. “Para continuar o trabalho na UFRJ, as universidades parceiras em Brasília deveriam desenvolver estas substâncias com fator de proteção solar em maior quantidade, e a pesquisa não é barata”, destaca a professora. Desta forma, não há a possibilidade de evoluir na produção deste cosmético.

Vantagens e comércio

As vantagens da comercialização deste produto seriam especialmente o preço, já que sua base é uma substância largamente encontrada no Brasil, e o aproveitamento da casca da castanha do caju, que não apresenta nenhuma utilidade prática. “Enfim, criaríamos o primeiro filtro solar brasileiro, já que todos os que são usados nas formulações nacionais são importados”, atesta a professora.

Os protetores solares atuais são elaborados de maneira totalmente sintética, desde o início. Não partem de nenhum produto natural, mas apenas da reação de moléculas sintéticas. As substâncias que apresentaram fator de proteção solar acima de 5 foram desenvolvidas pela UnB a partir de dois métodos. “Ou as moléculas eram separadas do líquido da casca da castanha antes do processo sintético, ou realizava-se a reação diretamente no LCC. As técnicas demonstraram resultados semelhantes, não existindo ainda um número de repetições que avalie qual a melhor”, explica Sheila.

Em 2006, uma empresa de cosméticos demonstrou interesse em comprar a patente do produto, porém nada se concretizou. “Por isso mesmo, não há possibilidade de vermos o filtro solar obtido da castanha de caju tão cedo no mercado”, finaliza a professora.

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