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Edição 110
06 de dezembro de 2007

Saúde e Prevenção

Doença causada por excesso hormonal

Clarissa Lima

A síndrome de Cushing é uma doença caracterizada pelo excesso do hormônio cortisol. Ela tem várias causas e pode trazer inúmeras complicações às pessoas. Embora seja rara, seus sintomas são males freqüentes. Por isso, ela é digna de atenção e estudo.

Leonardo Vieira Neto, aluno de pós-graduação, doutorando da UFRJ e membro do Centro de Pesquisa em Neuroendocrinologia do Serviço de Endocrinologia da Faculdade de Medicina, explicita as causas deste problema: “O Cushing pode ter origem endógena ou exógena. O modo endógeno é causado por um fator interno ao organismo, o que, no caso, seria um tumor localizado, na maioria dos casos, na hipófise ou na glândula supra-renal. Este tumor pode estimular a produção do cortisol e fazer, com isso, que surja a síndrome. O Cushing exógeno, por sua vez, é ocasionado pela administração de medicamentos que contenham glicocorticóides (usados em tratamentos contra asma, doenças auto-imunes ou dermatoses, por exemplo), que incentivam, também, a síntese do cortisol.”

O pesquisador ressalta que o cortisol é um hormônio vital, quando está na quantidade certa. O excesso, contudo, pode trazer uma série de complicações: “Ganho de peso e acúmulo da gordura, principalmente na região central do corpo (tronco) e na face, são sintomas que podem designar o problema. O cortisol excessivo também pode levar a quadros como hipertensão, diabetes, fraqueza muscular, osteoporose. O aparecimento de estrias largas em tons de violeta é um sinal bem característico do Cushing. E, além disso, pode ocasionar o hirsutismo, que é o surgimento de pêlos pelo corpo, em especial na face e no abdômen.”

Tratamento e prevenção

Leonardo afirmou que a doença é potencialmente grave: “Em si, esta síndrome não é grave. Entretanto, as complicações que ela traz são grandes, implicando em morbidade e mortalidade para o paciente”.

A prevenção torna-se, então, importante: “Não há formas de evitar a síndrome endógena. Mas para prevenir a forma exógena da doença, o médico deve procurar administrar a menor quantidade possível do medicamento com glicocorticóides e, de preferência, fazer uso tópico do remédio, com pomadas e bombas de ar no caso dos asmáticos, ao invés de sistêmico, a via oral ou intravenosa. Logicamente, nem sempre é possível manter os níveis baixos ou fazer estas aplicações localizadas menos agressivas. Mas, sempre que houver uma chance de reduzir a dosagem do medicamento, ela deve ser aproveitada”, avalia o estudante. Esta forma não serve apenas para prevenir o surgimento do problema como também para tratá-lo.

Monitorar a pressão e a taxa glicêmica também são medidas válidas para evitar o aparecimento da doença.

Segundo o doutorando, o diagnóstico é difícil. Para identificar a síndrome, primeiramente são realizados exames laboratoriais, que indicam a origem do problema (glândulas hipófise ou supra-renal). Depois disso, faz-se exames de imagem, como tomografia e ressonância na glândula acusada pelo teste em laboratório. “As taxas do hormônio, contudo, podem ser altas em ambas as glândulas, o que torna mais trabalhoso o processo.” Por fim, o tratamento pode ser cirurgia para extração do tumor ou uso de medicamentos à base de cetoconazol, substância que bloqueia a produção do cortisol.

Incômodo feminino

Esta doença pode acometer ambos os sexos (a taxa de incidência em mulheres é pouco maior do que nos homens) em qualquer idade. Contudo, ela traz transtornos maiores para pessoas do sexo feminino, e não é difícil imaginar o porquê. “Nos homens, a presença de pêlos na face e no tronco é freqüente, e eles se importam menos com a aparência física. No entanto, a obesidade e o hirsutismo incomodam muito as mulheres, que são mais vaidosas”, destaca o pesquisador.

Enfim, o doutorando encerrou seu discurso reiterando a importância do conhecimento acerca deste mal: “É importante que os médicos e a população conheçam melhor a síndrome de Cushing, afinal, é através do diagnóstico e do tratamento efetivo que podemos diminuir a morbidade e a mortalidade dos pacientes, promovendo melhorias em sua qualidade de vida.”

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