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Edição 108
22 de novembro de 2007

Microscópio

VI Encontro de Pacientes do Hospital Universitário

Priscilla Biancovilli

Nos próximos dias 26 e 27 de novembro, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) receberá o VI Encontro de Pacientes. O evento é organizado pela Comissão dos Direitos dos Pacientes (CDP), órgão assessor da Direção Geral do hospital que promove os encontros anualmente. Apesar do nome, a reunião não é específica aos pacientes. Estudantes, profissionais e professores, tanto do HUCFF quanto de outros locais podem participar.

De acordo com Maria da Conceição Lopes Buarque, assessora da Direção Geral e presidente da CPD, “o tema de cada encontro é definido pelas discussões que se destacaram ao longo do ano. Os debates mais interessantes são estruturados e transformados em palestras”. Este ano, o tema é “Autonomia do paciente e direitos humanos”, e contará com a presença de profissionais de diversas áreas. “Uma das palestrantes será a arquiteta Iva Rosa Coppedè, autora da cartilha Tratado para uma vida melhor, um passo-a-passo sobre como ter acesso aos locais para adquirir medicamentos gratuitos, conseguir isenção de impostos como IPVA, IRPF entre outros nos casos de doença grave. Em suma, o livro reúne informações para o paciente ter pleno acesso aos seus direitos, que ele muitas vezes sequer imagina que tenha”, explica Maria da Conceição.

Discussões

Uma das mesas tratará sobre autonomia do paciente. O tema pode suscitar dúvidas, já que as atuais relações médico-paciente, bastante hierárquicas, são vistas como naturais. “Hoje paira um tipo de comportamento voltado para a submissão do paciente, a não-autonomia. Se o médico dá um diagnóstico e receita determinado tratamento, a tendência é o paciente aceitar, passivo, sem questionar os porquês. Apesar de não haver uma reflexão sobre isso, devemos reconhecer este problema grave. Afinal, falamos da relação do paciente com sua própria vida, com sua saúde. O questionamento é incomum, é até considerado inconveniente para alguns médicos e profissionais de saúde”, atesta Maria.

O Termo de Consentimento, por exemplo, é um documento que os hospitais devem entregar aos pacientes, informando-os sobre os riscos e benefícios de uma cirurgia ou um tratamento. “No entanto, o Termo é visto pela maior parte dos profissionais e pacientes apenas como mais um papel. Não se incentiva a leitura de cada tópico, com atenção. Muitas vezes ele é escrito em letras pequenas e entregue no meio de outros documentos. O Termo deve ser visto como um exercício de cidadania, e não mais um papel”, explica a organizadora do VI Encontro. “O profissional de saúde não foi preparado para ser questionado e eu mesma me incluo nesse grupo. O objetivo da comissão também é pensar por que nosso trabalho não pode receber críticas. Por que a opinião do médico e de outros profissionais de saúde deve ser soberana?” continua a Maria da Conceição.

No segundo dia, o direcionamento dos debates será para a formação médica e práticas cotidianas de saúde. Um dos palestrantes, o médico Reinaldo Rondineli, comentará a bem-sucedida experiência de clínica ampliada no Instituto Nacional do Câncer (Inca) no qual “o atendimento não é somente do médico. Visa-se a integralidade do cuidado, não apenas acerca da doença, mas também do sujeito como um todo: que tem família, filhos e problemas sociais. Ele não é apenas um apêndice ou um câncer, mas uma pessoa”, atesta Maria. Outra discussão será a das ONGs e a importância do fortalecimento dessas organizações na luta pelos direitos do paciente. Comparecerão ao evento o Grupo de Resgate à Auto-Estima e Cidadania do Obeso (Graco), Amigos do Transplante e a Associação de Apoio à Mulher Portadora de Neoplasia (AAMN), todas com atuação no HUCFF.

Encontro

Para Maria da Conceição, cada encontro é um desafio. “Esse trabalho ainda está no início. Estamos sensibilizando aos poucos a comunidade para participar dele e exercitar a cidadania”. Mesmo que este seja o sexto encontro, não há previsão de público. “A participação sempre foi oscilante. Às vezes muitas pessoas comparecem, às vezes não. É difícil medir com antecedência. Vamos prestar contas à comunidade do que a comissão discutiu durante o ano e debater a cidadania. Se uma pessoa apenas comparecer, já estamos no lucro, pois sabemos que ela multiplicará esse conhecimento para outras pessoas.”

Este ano, o Encontro de Pacientes acontecerá no auditório Alice Rosa, 12º andar do Hospital Universitário. Maiores informações podem ser obtidas pelo telefone 2562-2188.

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