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Edição 108
22 de novembro de 2007

Por uma boa causa

Conjunto de problemas

Clarissa Lima

Para dar continuidade a seqüência de matérias sobre doenças neurodegenerativas, o “Por uma boa causa” desta semana fala sobre Deterioração Cognitiva Vascular. O termo designa um conjunto de síndromes clínicas caracterizadas por degradação cognitiva e alterações comportamentais causadas por doença cérebro-vascular.

Márcia Rozenthal, doutora em Psiquiatria e Saúde Mental pelo Instituto de Psiquiatria (Ipub) da UFRJ, professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e coordenadora do Centro Multidisciplinar de Pesquisa e Extensão sobre o Envelhecimento (Cempe) daquela universidade, realiza suas pesquisas nesse campo científico declara que “na Psicogeriatria, o estudo das demências é altamente relevante, em especial quando são considerados os dados epidemiológicos. Existem várias causas para demências como a Doença de Alzheimer, traumas cerebrais e, no caso específico, a Doença Vascular Cerebral”.

História da patologia

No século XIX, autores como o suíço Otto Ludwig Binswanger e o alemão Alois Alzheimer descreveram a Degeneração Cerebral Ateriosclerótica, considerada a atrofia cerebral presente em idosos como resultado de Isquemia Cerebral Crônica, causada por doença ateriosclerótica dos pequenos vasos, depois chamadas de demências por múltiplos infartos.

No início do século XX, o neurologista alemão descreveu a patologia que leva seu nome, distinguindo-a do outro tipo. Para Márcia Rozenthal “mesmo assim, ambas as demências eram prevalentes em idosos e era preciso distingui-las clinicamente. Criou-se, então, um método capaz de fazer a diferenciação: a clássica escala que define os sintomas mais típicos de demência vascular, chamada de Escore Isquêmico de Hachinski. Segundo Hachinski, diferentemente da Doença de Alzheimer, que tem seu início e curso lentos e insidiosos, a demência vascular pode ter início abrupto da sintomatologia, progredindo em degraus. Seu curso pode ser oscilante, pode haver história de hipertensão arterial, de acidente vascular cerebral (AVC), de arterosclerose e sintomas neurológicos focais (Hemiparalisia, por exemplo).

Números importantes

Márcia afirma que a prevalência de doença cérebro-vascular varia de 15% a 25% das causas de demência. Há também distinções geográficas que se tornam relevantes nas estatísticas. “Nos países mais desenvolvidos a Doença de Alzheimer é a causa mais comum (mais da metade dos casos de demência lhe são atribuídos). Nos países em desenvolvimento as demências vasculares aparecem em primeiro lugar. Isso ocorre devido às populações menos conscientes e pouco acostumadas a cuidar preventivamente de sua saúde. Assim, a falta de controle dos fatores de risco mais comuns, como hipertensão e diabetes, pode ser responsável por esta diferença.

Além dos fatores citados pela psiquiatra, o tabagismo e as disfunções cardíacas, como a fibrilação arterial e doenças coronarianas podem resultar em demências vasculares. As doenças vasculares cerebrais afetam mais os homens. Embora não se deva, necessariamente, associar esse problema a idosos, de fato acomete, com mais freqüência, pessoas a partir dos 65 anos. Cerca de 1,5% da população mundial na faixa etária de 65-69 anos sofre do problema; entre os 70-74 anos, a estatística sobe para 3%; 75-79 anos, são 6%; e, entre 80 e 84 anos, acomete 12% das pessoas.

Sintomas e tratamento

Os principais sintomas desse problema são a deterioração intelectual, o déficit de memória recente e a desorientação espaço-temporal. Também podem ocorrer oscilações no comportamento e no humor, além de vários outros sinais relacionados à origem dos problemas. Márcia Rozenthal cita algumas lesões vasculares que podem levar à demência: “vários infartos (obstruções de pequenos ou grandes vasos), chamados demência por múltiplos infartos; únicos ou não, mas que têm localização estratégica; outros da microvascularização subcortical, que levam a isquemias e a doenças das fibras nervosas; e ainda um tipo de arteriopatia hereditária chamada Cadasil (Cerebral Autosomally Dominant Arteriopathy).”

Segundo ela, o advento da neuroimagem mostrou que a demência por múltiplos infartos era apenas um dos tipos de demência vascular, tornando-se instrumento altamente importante no diagnóstico desses problemas. Além disso, utiliza-se também a avaliação neuropsicológica para chegar a resultados definitivos.

Enfim, as formas de tratamento podem ser associadas a doenças degenerativas como o Mal de Alzheimer, assim como podem focar o tratamento dos fatores de risco. Márcia Rozenthal também avalia a importância de frisar que o nível de escolaridade acumulado nos primeiros anos de vida é importante como prevenção do desenvolvimento de demência na velhice.

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