www.olharvital.ufrj.brEdição 104
25 de outubro de 2007
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25 de outubro de 2007
Uma das bebidas mais populares entre pessoas de todas as idades e classes sociais, o refrigerante, é ao mesmo tempo mocinho e vilão. Apesar de ser a opção mais prática para acompanhar uma refeição ou aliviar um dia de calor, é considerado um grande vilão da saúde bucal. Isto porque contém açúcar, pode provocar cáries e enfraquecer a estrutura dental, por exemplo, o esmalte e a dentina.
Uma pesquisa desenvolvida pelos professores Jaime Cury e Cláudia Fushida, da Universidade Estadual de Campinas, avaliou o efeito dos refrigerantes na erosão do esmalte-dentina. Os resultados mostraram que a porcentagem de perda de dureza foi de 18,7 a 28,9 para o esmalte e 24,6 a 32,6 para a dentina. A saliva tem capacidade de recuperar esta estrutura, mas apenas parcialmente. A porcentagem de recuperação variou de 43,6 a 35,6 para o esmalte e de 40,5 a 34,6 para a dentina.
Mitos e verdades
De acordo com a professora Gisele Damiana da Silveira Pereira, da Faculdade de Odontologia da UFRJ, qualquer refrigerante com açúcar é prejudicial à dentição e pode causar cáries. “Existe uma bactéria chamada Streptococcus mutans, causadora da doença. O produto da metabólise desta bactéria é um líquido ácido que, em contato com o dente, causa uma erosão e, com o tempo, a cárie. Qualquer alimento açucarado promove isso, principalmente quando a pessoa não mantém bons hábitos de higiene”, afirma a professora que realizou pesquisa sobre a acidez dessas bebidas.
De acordo com o estudo, a maior parte dos refrigerantes deixou de ser ácida. “Não posso afirmar com toda certeza que não existem mais refrigerantes ácidos, mas a Coca-cola, por exemplo, uma antiga grande vilã, hoje está mais neutralizada”, esclarece. O boato – bastante difundido pela internet – de que este refrigerante é ácido a ponto de limpar pedras-mármore e remover ferrugens não corresponde à realidade, segundo a professora.
Hoje em dia, a maior restrição ao consumo de refrigerantes acontece por causa de sua coloração. Quando se faz tratamento para clarear os dentes, recomenda-se evitar qualquer alimento com corantes. “O paciente deve manter uma saída para o pigmento dos dentes. Então, fazemos restrições principalmente a refrigerantes como Fanta Uva e Coca-cola entre outras bebidas, mate, vinho, café e guaraná natural”, explica a professora. Isto acontece principalmente porque os líquidos com corantes penetram mais facilmente nos dentes, prejudicam bastante o tratamento. Para não comprometer o sucesso do clareamento, é indicado ao paciente beber refrigerantes incolores.
Cuidados com os dentes
A simples ingestão de açúcares não determina o desenvolvimento da cárie. Tudo depende da freqüência com que estes alimentos são ingeridos, e dos cuidados higiênicos. “O refrigerante precisa ficar um tempo na boca, em contato com os dentes, e a pessoa precisa ter a bactéria. Vários fatores precisam interagir ao mesmo tempo, e por um período longo, para que a doença aconteça”, afirma Gisele. Existem algumas formas de proteção, como o flúor (presente na água tratada e nas pastas de dentes) e a saliva. Porém, ainda assim, os excessos devem ser evitados. “Se um indivíduo toma um refrigerante às 10 horas da manhã, escova os dentes e só consome outro alimento açucarado por volta das 2 da tarde, dificilmente terá problemas. A nossa saliva protege, promovendo a remineralização dos dentes. Temos os ciclos de desmineralização e remineralização, uma compensação fisiológica do nosso organismo”, explica a professora.
Qualquer alimento ácido pode causar a erosão dental. Se são ingeridos com uma freqüência muito grande, o esmalte dos dentes se desgasta. Então, a dentina (camada logo abaixo do esmalte) fica exposta. Como ela é um pouco mais escura, a impressão é de que os dentes escureceram. “Para o tratamento da erosão, deve-se primeiro controlar suas causas, para depois restaurar os dentes. Tudo depende do grau de desgaste. Em relação aos riscos dos refrigerantes, fica a mensagem principal: consuma com moderação e você terá sua saúde dental garantida”, finaliza a professora.