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Edição 101
04 de outubro de 2007

Por uma boa causa

O perigo pode estar no melhor amigo do homem

Marcello Henrique Corrêa

Vacinar um animal de estimação e ter cuidado no contato com animais pode fazer a diferença entre a vida e a morte. Bichos – seja cão, gato ou pombo – podem ser portadores de vírus causadores de diversas doenças, algumas letais. Pensando nisso, o Olhar Vital traz na editoria “Por uma boa causa” de outubro, matérias explicando melhor como ocorrem essas doenças, como são prevenidas e tratadas.

Para abrir a série de reportagens, a doutora Regina Barbosa Moreira, chefe do serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) do Hospital Universitário Clementino Fraga  Filho, explica os detalhes da raiva. A doença pode levar à morte ou causar danos no sistema nervoso. “A raiva é transmitida por um vírus e ocorre a partir do contato entre mamíferos”, explica Regina.

A doença pode ser dividida em dois grandes grupos de casos: a raiva urbana e a silvestre. Os casos de raiva urbana são decorrentes do contato com cães ou gatos contaminados. Normalmente, o vírus é transmitido pela mordida do cão, ou pela arranhadura do gato. Em áreas silvestres e rurais, normalmente o contágio ocorre por meio dos roedores e morcegos hematófagos.

O vírus da raiva, ao infectar humanos, se comporta de maneira parecida com outras doenças do sistema nervoso. Segundo a doutora, os primeiros sintomas são confusão mental e dor de cabeça. Caso a doença não seja freada nesse estágio o paciente pode manifestar crises convulsivas e, posteriormente, apatia e coma. Após esse estágio mais grave, a doença leva o indivíduo ao óbito; o máximo que se pode fazer é aliviar os sintomas mais graves.

Para não se confundir com outras doenças, há um diagnóstico diferencial interessante para a raiva, segundo Regina. Por exemplo, o paciente dessa doença manifesta a chamada aerofobia. “Quando se sopra o rosto do paciente, ele tem uma sensibilidade muito alta”, relata a médica. Além disso, a hidrofobia, famoso sintoma da doença, também é uma particularidade da doença. Nesse sintoma, o paciente fica extremamente sensível à água, tem dificuldades inclusive em bebê-la. “Esses reflexos ocorrem porque os nervos ficam muito inflamados e muito sensíveis a qualquer estímulo externo”, explica Regina.

Segundo a especialista, é muito importante, para fazer esse tipo de diagnóstico, analisar o histórico do paciente, saber se houve algum acidente com animais. Como a raiva não tem cura, quanto antes for cuidada, melhor. “Todas as condutas necessárias nesse sentido são em relação à prevenção da doença”, conta a médica. Segundo ela, há dois casos em que a vacina anti-rábica se faz necessária: em acidentes com cães e gatos ou em pessoas que estão em constante risco de serem infectadas, como veterinários.

O primeiro grupo representa os casos comuns de raiva urbana. O procedimento padrão é aplicar a vacina. Se o estado for mais grave, é necessária também a aplicação do soro anti-rábico.

No segundo caso, a vacina deve ser administrada regularmente, a fim de evitar maiores problemas. “Por exemplo, quem vai descobrir cavernas, onde podem ser encontrados morcegos, é vacinado antes da expedição. É uma vacina pré-exposição à raiva”, exemplifica a médica e explica “a vacina usada atualmente não é perigosa, ao contrário da antiga. Há cerca de cinco anos, o Brasil substituiu a vacina, causadora de seqüelas como paralisia e síndrome de Guillain-Barré, entre outras complicações neurológicas.”

Controle da doença

— Para a raiva urbana, consegue-se um controle muito bom vacinando-se a maior parte dos animais da cidade —, afirma Regina. Segundo ela, vacinando-se a maior parte de cães e gatos, é possível diminui significativamente o número de casos. Contudo, a médica ressalta um detalhe importante sobre a vacinação animal, não totalmente confiável. “Apesar de o animal ser vacinado, nada é garantido se ele estiver no período de incubação de raiva”, explica. “Por causa disso os procedimentos iniciais de profilaxia no paciente são idênticos, seja o animal transmissor vacinado ou não”, completa a médica.

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