Agência de Notícias da UFRJ www.olharvital.ufrj.br
Edição 091
26 de julho de 2007

Microscópio

Profissionais se organizam para formar Associação Brasileira de Saúde Mental


Stéphanie Garcia Pires - Agência UFRJ de Notícias - Praia Vermelha

“Eqüidade, ética e direito à saúde: desafios à saúde coletiva na mundialização” foi o tema central do IV Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, do XIV Congresso da Associação Internacional de Políticas de Saúde e do X Congresso Latino-americano de Medicina Social, que se uniram em Salvador na semana passada. Ligia Costa Leite, professora e pesquisadora do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ) esteve lá, discutindo propostas e caminhos para a participação social, no sentido de promover a saúde mental e prevenir o sofrimento psíquico.

No que Ligia caracterizou como um evento de grande importância, uma conquista foi a assembléia de fundação em que ficaram definidos os primeiros detalhes para a organização da Associação Brasileira de Saúde Mental. O objetivo, de acordo com a especialista, é uma atuação multidisciplinar, agrupando profissionais da psiquiatria, da psicologia, do serviço social, educadores, filósofos, antropólogos, entre outros, que dêem um enfoque à questão da saúde em seus estudos.

A pesquisadora atenta para o interesse desta associação em articular os diversos saberes em benefício da saúde mental da população. “Porém, a abordagem será diferente do que vemos predominar no setor da psiquiatria. Em vez de concentrar nossos esforços no tratamento por medicações, vamos trabalhar na prevenção”, argumenta Lígia. Mais detalhadamente, a proposta é enumerar os diversos caminhos de intervenção na sociedade que evitem nas pessoas a necessidade de tratamento e, de fato, ir promovendo a saúde mental.

Segundo a especialista, essa promoção pode se concentrar em algumas áreas. Por exemplo, pensar a saúde mental no âmbito do trabalho, pesquisando quais são os empregos tipicamente mais estressantes para as pessoas. “Policiais, médicos, psicólogos, uma imensidão de trabalhadores que diariamente se vêem lidando com os problemas alheios e não conseguem se afastar disso completamente, afinal, são humanos e influenciáveis pelas emoções alheias”.

— Basta olhar para os professores primários de escolas públicas. Eles são constantemente acusados como culpados pela precariedade do ensino no Brasil, pelo fracasso de seus estudantes. Nossa associação olharia para esta questão com outros olhos, buscando perceber os efeitos que essa culpa gera nos professores enquanto sujeitos, indivíduos para além de sua profissão — explica Lígia.

Outro exemplo citado por Lígia são os meninos de rua, caso que ela especificou melhor durantes os congressos em Salvador, na palestra Tô Com Medo De Mim Mesmo: a necessidade de promoção da saúde mental para a juventude na pós-modernidade. Segundo Lígia, o que se vê proliferar principalmente na mídia é uma caracterização estereotipada desses meninos. “Ora são dignos de repulsa, ora de piedade, mas nunca são definidos como eles mesmos, a complexidade de quem são”. A Associação Brasileira da Saúde Mental quer modificar essa abordagem.

— Em vez de seguir a tendência de simplesmente afastar esses meninos de rua da sociedade, colocando-os dentro de abrigos, vamos buscar ouvir suas opiniões, a história de cada um deles, criar vínculos e, gradativamente, trabalhar na saúde mental, na reabilitação psicossocial. Com isso, queremos influenciar também a mudança de atitude dos outros profissionais que já lidam com os meninos de rua em um processo que claramente não tem dado certo — explica a especialista.

Por fim, Ligia concluiu que a associação é um passo importante para pensar e desenvolver novos caminhos de tratar a população. “Promover a saúde mental e unir esforços para prevenir o sofrimento psíquico, antes que a situação se agrave ao ponto de o indivíduo precisar ser tratado, é essencial e mais seguro para as pessoas”, alerta. 

Anteriores