Agência de Notícias da UFRJ www.olharvital.ufrj.br
Edição 089
12 de julho de 2007

Por uma boa causa

Pequenas porém assustadoras

Mariana Mello

As baratas são comumente conhecidas pelo asco, medo, nojo e até repulsa que causam em algumas pessoas. Contudo, é importante ressaltar que o convívio bastante próximo entre o homem e esse inseto pode ocasionar problemas mais sérios, que vão além do susto: as baratas são vetores de microorganismos prejudiciais ao ser humano. Por isso, nessa semana a editoria Por uma boa causa aborda esses insetos sociais, hóspedes nada bem-vindos nos domicílios.

Antiqüíssimas no planeta Terra, as baratas atuais, se comparadas a suas ancestrais, demonstram enorme capacidade de adaptação às condições ambientais e de resistência – elas colonizam quase todos os tipos de ecossistema. Existem milhares de espécies de baratas, dentre as quais as silvestres são maioria. Quando em seu hábitat natural, que geralmente se caracteriza por ambientes tropicais, as baratas se alojam em caules e raízes de vegetação ou sob madeiras e pedras podres. Assim, não representam perigo algum para o homem – muito pelo contrário, elas têm sua devida importância na medida em que compõem a cadeia alimentar, servindo de alimento para outros animais e atuando como saprófago, na ciclagem dos nutrientes.

Pragas urbanas

As baratas são seres onívoros, ou seja, sua alimentação é diversificada e consiste em resíduos de origem animal e vegetal. Devido a essa característica, segundo o professor Ednildo de Alcântara Machado, do departamento de Entomologia Médica do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ, elas ocupam diferentes nichos, sendo encaradas como “seres cosmopolitas”. A versatilidade alimentar das baratas também facilitou sua boa adaptação ao ambiente urbano:

– Esses insetos encontram nas instalações humanas ambientes pequenos, escuros, escondidos, quentes e úmidos, que favorecem sua proliferação. As construções urbanas servem de abrigo para eles – revela Ednildo. Segundo ele, existem muitas baratas, porém uma porcentagem muito pequena de espécies pode ser considerada praga urbana. Dentre elas estão a Blattaria germanica e a Periplaneta americana. Curiosamente conhecida como francesinha, a Blattaria germanica apresenta um potencial reprodutivo maior do que a americana, e por isso é considerada efetivamente uma praga. Já a americana é também chamada de barata voadora ou barata-de-esgoto.

As baratas domésticas ou urbanas geralmente apresentam hábitos noturnos, períodos nos quais elas procuram alimento e parceiros para acasalamento. Porém, é de conhecimento geral que elas circulam por aí também durante o dia – a má notícia é que esse comportamento significa a existência de uma alta densidade populacional desses insetos. Baratas representam um perigo à saúde na medida em que transportam diversos patógenos, como bactérias, fungos, protozoários, vermes e vírus. Além disso, elas ainda servem como hospedeiros intermediários no processo de reprodução assexuada desses parasitas.

A própria composição das ootecas, “pacotes” que abrigam os ovos das baratas até o momento da eclosão e que são comumente encontrados nos armários, favorece a persistência desses insetos no contexto urbano. Segundo Ednildo, os ovos têm uma proteção mecânica ao ambiente externo uma vez que a ooteca, que armazena de 13 a 16 ovos, é impregnada de cálcio. Essa dureza confere mais uma vantagem adaptativa às baratas, pois seus filhotes recebem proteção extra em relação àqueles de outros insetos.

Mecanismos de controle

Os ambientes preferidos pelas baratas são a cozinha e o esgoto, nos quais há disponibilidade de alimento e abrigo. Ainda que indesejáveis, porém, as baratas não são eliminadas facilmente, As pulverizações de inseticidas, quando espaçadas, até que se mostram eficientes; contudo, segundo Ednildo, quando sistemática e constantemente expostas a esses produtos, as baratas acabam desenvolvendo modificações genéticas que geram resistência e garante a perpetuação da espécie. Além disso, os recantos escolhidos como abrigo pelas baratas são tão escondidos que muitas vezes não são atingidos pelos produtos químicos. De acordo com o pesquisador, a fama de resistência das baratas à radioatividade – muito se comenta que um ataque nuclear extinguiria os seres humanos, mas não as baratas – tem fundamento. “O exoesqueleto representa uma proteção adicional, mas não só para as baratas, mas para todos os organismos que dispõem dele”, ele explica.
  
Além do controle químico, existe ainda o controle biológico das baratas, realizado por uma espécie muito peculiar de vespa, a Evania appendigaster e pesquisado pela professora Suzete Bressan, também da UFRJ. Ela estuda a relação parasitária existente a Evania e as baratas: as vespas colocam seus ovos dentro dos ovos das baratas e, quando os últimos eclodem, as larvas do parasita se alimentam de todas as reservas e se desenvolvem. Dessa maneira, é promovido um controle da população de baratas, neste caso os insetos hospedeiros. “Essa é uma estratégia muito usada, porém existe um problema: como essa vespa é muito específica, pode ser que as duas espécies desapareçam juntas. Diminuindo a população de baratas, também diminuem suas ootecas e, consequentemente, essas vespas perdem seu local de reprodução”, finaliza Ednildo.

Confira o vídeo feito pelos pesquisadores da UFRJ Roberto Eizemberg e Suzete Bressan:

Baratas: procuradas vivas ou mortas



Anteriores