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Edição 087
28 de junho de 2007

Argumento

Programa de assistência a gestantes soropositivas reduz taxa de bebês infectados


Julianna Sá

Uma das principais causas de infecção pelo HIV - Vírus da Imunodeficiência Humana - em crianças é através da transmissão vertical, ou seja, da mãe infectada para o bebê. O Programa de Assistência Integral à Gestante HIV Positiva, fundado em 1995 pela doutora Susie Andries Nogueira, na época, chefe do serviço de Doenças Infecciosas e Parasitárias do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ, comprova a eficácia do tratamento desenvolvido ao longo de seus 12 anos de existência.

O vírus, cada vez mais presente em mulheres, pode ser passado à criança no período de gestação, no momento do parto e até mesmo através da amamentação, o que gerou uma demanda por tratamentos que fossem capazes de reduzir tal risco. Com o objetivo de diminuir os índices de transmissão vertical, o projeto coordenado pela médica infectologista Elizabeth Machado, funciona no Pré-natal do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) e já atendeu mais de 900 gestantes.

– Há 13 anos, em 1994, a publicação dos resultados de um estudo chamado PROTOCOLO 76 foi fundamental para a criação do programa. Foi o primeiro trabalho publicado na literatura mundial mostrando que o uso do anti-retroviral zidovudina (AZT) em gestantes soropositivas reduzia a transmissão vertical do HIV. Neste trabalho a taxa de transmissão foi de 22% naquelas que não usaram o anti-retroviral, contra 7.6% naquelas que tomaram AZT durante a gestação, portanto uma redução de 66% na taxa de transmissão vertical do HIV – conta a atual coordenadora.

Os resultados alcançados pelo projeto indicam alto índice de eficiência no tratamento. Dados comprovam que, até 2001, 96,6% das pacientes tomaram A.Z.T.oral durante a gestação e 88,0% A.Z.T.venoso durante o parto, sendo de 22 semanas a média de tempo gestacional ao iniciar o tratamento com A.Z.T.oral. A taxa de crianças infectadas foi de 3,5%, contabilizando sete crianças ao todo. Atualmente os registros apontam nove crianças infectadas verticalmente, num total de 900 gestantes com resultado sorológico completo de quase 750 crianças, desde o início do programa.

Com a associação entre o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), o Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) e a Maternidade Escola, situada em Laranjeiras, o Programa de Assistência Integral à Gestante HIV Positiva se estabeleceu como um projeto de atendimento multi-profissional dentro da universidade na mesma consulta.

– O Programa oferece uma assistência multidisciplinar às gestantes: atualmente somos duas infectologistas, duas obstetras, duas enfermeiras, duas psicólogas, dois nutricionistas e dois assistentes sociais, além de uma equipe de quatro pediatras que acompanham os bebês após o nascimento, – relata a infectologista.

O atendimento é focado para todas as gestantes da área programática denominada AP3 e AP5, indicadas no gráfico abaixo. A idéia é prevenir a transmissão vertical do HIV usando os anti-retrovirais apenas durante a gestação, suspendendo o tratamento após o parto, ou seja, o anti-retroviral é usado apenas para diminuir a transmissão vertical. “O fluxo se dá da seguinte forma: a gestante chega para o atendimento pré-natal nos postos da região e são testadas para o HIV. As que tiveram sorologia positiva são encaminhadas para o nosso serviço onde elas são novamente testadas para confirmação do diagnóstico e para o início do tratamento”, explica Elizabeth Machado.

Além do aspecto em relação ao tratamento e ao acompanhamento da gestação promovida pelos infectologistas e obstetras, as gestantes recebem instrução nutricional, orientação por parte de assistentes sociais quanto aos recursos da rede disponíveis para os portadores do vírus HIV, como o vale-transporte, e, para as mães que não têm moradia, existe a preocupação de entrar em contato com entidades que possam receber essas gestantes e assegurar que elas possam um local para se estabelecer, ou o apoio após o nascimento do bebê. Em suma, o trabalho é feito de acordo com as necessidades específicas de cada situação. As enfermeiras e psicólogas atuam tentando minimizar o impacto do diagnóstico na vida das gestantes, reiterando a importância do sexo seguro e da boa adesão ao tratamento para que possam gerar um filho saudável. “Convocar os companheiros dessas gestantes para esclarecimento também é de extrema importância”, ressalta a coordenadora. Ouras orientações também são feitas, como indicações de preparo do leite do bebê, que compõe uma parte essencial da assistência, já que as mães não podem amamentar esses bebês.

– O fator psicológico é muito importante e tem peso semelhante à questão da saúde. As gestantes precisam estar bem para fazer o tratamento de forma correta, isto é, ter uma boa adesão ao tratamento. Precisa saber que o monitoramento de sua saúde deve ser contínuo para uma vida saudável, melhorando as condições para que ela crie o filho. A impossibilidade de amamentar ainda é um fator de frustração que também tem que ser trabalhado, pois visa algo muito mais importante que é ter um bebê sem a doença. Além disso, os problemas psicológicos são amplos: há as que têm deficiência mental, ou que estão presas, algumas não possuem família e não podem trabalhar, citando apenas alguns dos problemas enfrentados por essas mulheres – destaca Elizabeth Machado.

O bebê

Não é somente a gestante que recebe assistência por parte do programa. Assim que o bebê nasce ele é encaminhado para o serviço de Pediatria do IPPMG, onde é acompanhado até completar um ano de idade, época na qual já se sabe se ele adquiriu o vírus ou não. A criança também recebe o AZT até completar seis semanas, para depois ser tratada com um antibiótico, o Bactrim, até que se confirme que não adquiriu o HIV, o que ocorre, em geral, após o quarto mês de vida, por meio de exames sorológicos.

O acompanhamento pós-parto promove cuidado integral à mãe e ao bebê, oferecendo, durante seis meses, leite gratuitamente. A doação é oriunda do Ministério da Saúde e de uma ONG – Amigos da gestante HIV positiva – desenvolvida pelo próprio programa, nos quais os médicos, estudantes e simpatizantes da causa doam principalmente leite em pó, também distribuindo enxovais e mamadeiras ou contribuindo com quantia em dinheiro trimestralmente.

– Com a verba nós mantemos a distribuição do leite até que as crianças tenham um ano de idade, pois achamos que seis meses é um tempo curto, já que a renda familiar das pacientes, para agravar, é muito baixa . Remédios também são distribuídos para tratamentos diversos das mães – encerra a infectologista.

O horário de atendimento do programa é de 8h às 12h, segundas e sextas-feiras, no Pré-natal do IPPMG, no campus do Fundão.


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