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Edição 085
14 de junho de 2007

Por uma boa causa

Vacina só para maiores

Mariana Mello

Embora mais associada à infância, a vacinação também é voltada para os adolescentes, adultos e idosos – para os quais a imunização é igualmente importante. Por isso, nessa semana, a editoria Por uma boa causa dá prosseguimento ao tema, abordando, porém a vacinação nas faixas etárias que sucedem a infância, ou seja, acima dos 11 anos.

Um dado inicial curioso, constatado por Janaina Rocha Soares, professora do Departamento de Saúde Pública da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN – UFRJ), é o grande interesse por parte dos jovens pela vacinação. Janaína, que há seis meses participa de um convênio entre a EEAN e o Centro Municipal de Saúde João Barros Barreto, em Copacabana – ela e duas outras professoras orientam um estágio curricular com 15 alunos – considera impressionante a procura dos jovens nos postos de saúde públicos, até mesmo fora das campanhas:

– Percebo um interesse especial dos adolescentes. Eles não demonstram relutância alguma ou mesmo descaso. Ao contrário do que se pensa, eles vão por conta própria e não precisam ser convencidos pelos pais.

O calendário oficial de vacinação para adolescentes e adultos estabelecido pelo Plano Nacional de Imunizações (PNI), certamente recomenda a eles menos doses que na etapa infantil, mas que são tão importantes quanto. Elas se resumem à tríplice viral, para sarampo, coqueluche e rubéola; à dT, que previne contra difteria e tétano; a vacina contra hepatite B e contra a febre amarela. Além das doses convencionais, é necessário ficar atento aos reforços, para que o esquema de vacinação seja completo.

Para Janaína, outro motivo bastante contundente a ponto de levar jovens aos postos de saúde em busca de vacinação é a gravidez. “Gestação na adolescência é algo que estimula muitas jovens, pois é preciso montar e respeitar um esquema de aplicação da dT durante essa fase”, ela explica a enfermeira.

Já em relação aos adultos, Janaína nota um menor interesse pelas vacinas, mas ainda assim significativo. Ela exemplifica a situação com a campanha de imunização contra a rubéola, ocorrida há duas semanas. Um dia após o término da ação preventiva, promovida em virtude de um surto epidêmico que vem sendo detectado no Rio de Janeiro, a professora enfrentou momentos difíceis: pacientes fizeram fila no posto e ameaçaram invadir a sala de imunização, tamanha era a busca. Para o alívio geral, Janaína confessa que a campanha provavelmente deve ser reiniciada.

Grande parte dos adultos também procura a vacinação por exigência dos departamentos de saúde das empresas onde trabalha. “As companhias cobram de seus empregados a regularização de seu esquema de vacinação e geralmente exigem as vacinas contra hepatite B e a dT”, conta Janaína Soares. Somado a esse grupo está o dos profissionais da área de saúde, para os quais essas duas vacinas são obrigatórias, e ainda aquelas pessoas que estão prestes a viajar para áreas nas quais a febre amarela é endêmica e buscam a vacina.

Ainda que imprecisos, números comprovam que as campanhas de imunizações para adultos são eficazes, assim como aquelas voltadas para a população idosa. A vacina contra a gripe, que tem validade de um ano e é mais divulgada, gera grande mobilização – na última campanha, só ao posto de Copacabana compareceram quase 20 mil idosos – que puderam perceber de fato os efeitos da imunização desde que ela foi incluída no PNI. Já a anti-pneumocócica é direcionada somente aqueles que moram em instituições fechadas, como asilos e hospitais.

Alguns desleixos, porém, podem comprometer esse caminho de sucesso empreendido pelas vacinas. Mesmo com uma rede de abastecimento eficiente e organizada, que segundo Janaína, atua nas instâncias federal, estaduais e municipais, muitos indivíduos negligenciam seu próprio esquema de vacinação e não tomam todas as doses necessárias à uma imunização completa. “O problema é que eles crêem estar protegidos”, lamenta Janaina.

Um dos líderes em investimentos públicos em imunização, o governo brasileiro vem desenvolvendo pesquisas inovadoras a cerca de vacinas, como a que combate o HPV, vírus do papiloma que atinge grande número de mulheres no país. Janaína garante que, apesar de essencial, esse material ainda não está disponível para ser administrado nos pacientes.

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