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Edição 074
29 de março de 2007

Argumento

Suor excessivo tem cura

Tainá Saramago

Rosto, mãos, pés e axilas suando sem parar. Coisas simples como dar as mãos ao namorado ou cumprimentar uma pessoa com um aperto de mão podem ser muito difíceis para mais de 1% da população geral que sofre de Hiperidrose. Um distúrbio que se caracteriza pela sudorese excessiva e incontrolável. Causada pelo sistema nervoso simpático, um sistema nervoso autônomo, que por sua vez é responsável pelas funções que não temos consciência de que estamos realizando. Como o ritmo da respiração; dos batimentos cardíacos e a produção de suor, muito importante na regulação térmica.

Ao contrário do que muitos pensam essa doença tem cura. Existem diversos tratamentos, porém o considerado como irreversível é a cirurgia chamada de simpatectomia-cérvico-torácico minimamente invasiva bilateral.

– Em primeiro lugar recomenda-se os tratamentos dermatológicos, se não funcionar partimos para a segunda tentativa. A injeção de toxina da bactéria “Botulinus” (BOTOX®) sob a pele, para reduzir a transmissão dos impulsos nervosos, podendo melhorar a sudorese de um a seis meses. Se as duas primeiras tentativas não derem certo e o problema afetar muito a vida do paciente, aí sim recomenda-se o tratamento cirúrgico. É bom lembrar, também, que em alguns casos, a hiperidrose pode melhorar com a idade –, afirma doutor Celso Sodré, do Departamento de Dermatologia, do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ.

A cirurgia é feita com técnicas minimamente invasivas que permitem o alcance da cadeia simpática usando apenas duas incisões de aproximadamente 0,5 cm em cada axila, com instrumentos endoscópicos do diâmetro aproximado de um lápis. Um destes instrumentos tem uma micro-câmara de TV embutida, mostrando de forma nítida e clara as estruturas torácicas. A cadeia é então retirada, cauterizada ou clipada com clips de titânio. Para correção da hiperidrose da face retira-se a cadeia simpática na altura da segunda vértebra torácica. Para as mãos retira-se a cadeia simpática na altura da terceira vértebra torácica. Para pacientes com hiperidrose axilar é retirada a cadeia simpática na altura da terceira e quarta vértebra torácica. Ambos os lados são operados na mesma sessão. O procedimento dura cerca de 10 minutos para cada lado. O efeito da cirurgia é imediato e evidente.

Mas o paciente deve ser informado sempre dos riscos de complicações e efeitos colaterais. As complicações que podem ocorrer são o sangramento e o vazamento de ar dos pulmões, porém são raras. Os efeitos colaterais é que são mais comuns. Pode-se ficar com as mãos muito secas, especialmente durante os primeiros meses, o que deve ser prevenido com cremes hidratantes e pode haver a hiperidrose compensatória, que é o aumento da sudorese em outras áreas do corpo que não nas afetadas antes da cirurgia.

Como a área da cabeça, do pescoço, das axilas e das mãos, são responsáveis por um considerável grau de dissipação do calor em humanos, o corpo compensa a diminuição da sudorese nestas áreas decorrente da cirurgia, aumentando o suor em outras áreas, principalmente durante a exposição a temperaturas mais elevadas. Esta sudorese compensatória ocorre em quase todas as técnicas de simpatectomia com uma freqüência aproximada de 40% a 60% dos pacientes operados. A sudorese compensatória ocorre mais freqüentemente nas costas, coxas, peito e abdômen. Tal suor é discreto e bem tolerado na maioria dos casos, mas pode ser abundante num pequeno percentual de pacientes especialmente durante o exercício físico e em ambientes muito quentes e/ou estressantes.

Outros problemas que podem aparecer são a Síndrome de Horner, isto é, a queda da pálpebra e a diminuição da pupila, sem prejuízo da visão, ocorrem com pouca freqüência e na maioria dos casos é revertida com o tempo; em pacientes idosos corre-se o risco de tromboses e embolias pulmonares após a cirurgia; pode-se desenvolver a sudorese gustativa (suor provocado por certos sabores e odores); pode ocorrer queda de em média 10% dos batimentos cardíacos; e o aumento das crises de enxaqueca e do tremor nas mãos em, respectivamente, 40% e 70% dos casos, ambos quando o paciente já sofria desses males.

– A cirurgia só deve ser feita em casos graves ou quando o paciente se incomoda muito com o problema. Existem pacientes que não podem escrever, nem segurar um papel sem toalhinhas e outros que não podem nem digitar no computador sem molhar o teclado de suor. Nesses casos, em que a doença afeta muito a vida da pessoa, a cirurgia pode ser uma boa alternativa –, conclui o dermatologista.

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