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Edição 071
08 de março de 2007

Saúde e Prevenção

Dengue se prolifera no Brasil

Tainá Saramago

A Dengue é uma doença tropical com altas chances de cura, mas pode matar. Já é considerada, no Brasil, uma epidemia. O número de casos registrados é maior do que o esperado. Por não ter sintomas específicos, a doença pode ser confundida com várias outras, como leptospirose, sarampo, rubéola. São doenças que provocam febre, prostração, dor de cabeça e dores musculares generalizadas. Um médico consegue, por exames em laboratório, definir a doença e tratá-la corretamente.

Outro fator que é importante que disfarça a grande incidência de casos da doença é que dois terços das pessoas que contraíram o vírus da dengue não sabem. Sem falar nos casos que foram tratados em médicos particulares que muitas vezes não registram o caso, havendo também aquelas pessoas que morreram de dengue sem saber.

No Brasil, atualmente, existem três tipos de dengue e elas são transmitidas da mesma forma, pela picada da fêmea do mosquito aedes aegypti, o vetor da doença. Todos os tipos de dengue oferecem risco de morte e o máximo de vezes que uma pessoa pode ter dengue, até hoje no Brasil, são três vezes. A partir da segunda vez o caso fica mais grave.

Uma grande preocupação dos médicos é a chegada dos Jogos Pan Americanos. A Venezuela já possui o tipo quatro da doença e a chegada da delegação e dos possíveis turistas, pode trazer o vírus para o Brasil. Grande parte da população brasileira já possui anticorpos contra as variações do vírus daqui, porém o tipo quatro é inédito e pode acarretar uma epidemia.

No Rio de Janeiro, hoje, as áreas mais afetadas são Jacarepaguá e Barra da Tijuca, que foram as áreas menos atingidas há algum tempo atrás. Mostrando que a dengue não foi controlada, ela deixou de afetar com mais freqüência os lugares que antes eram os maiores focos porque essas pessoas já têm os anticorpos contra o vírus.

A mídia costuma dar muita ênfase no “Dia D” de combate a dengue. Porém, é ilusão passar para a população que em um dia, pode-se fazer tudo para acabar com a dengue. “O D deveria ser de década e não de dia. A campanha é equivocada, tanto é que todo ano se faz o dia D e a dengue não é erradicada. O problema vai além, não é só água parada e destampada. Ainda não se tem o controle do vetor, temos que fazer estudos e pesquisas para que se tenha o controle do mesmo. Sem falar nas áreas sem saneamento básico, com lajes e caixas d`água descobertas.”, afirmou o Edimilson Migowski, chefe e professor de infectologia pediátrica do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, da UFRJ.

Os sintomas da dengue são muitos e não aparecem obrigatoriamente juntos. Pode se ter dores de cabeça, dores no corpo, dores atrás dos olhos, manchas vermelhas na pele, febre, dores de garganta, diarréia, sinais de icterícia e lesões hepáticas. “Mas deve se ter cuidado pois há muitas doenças com sintomas parecidos como Febre Amarela, Leptospirose, Hepatite A,  Febre Maculosa e Dengue. Então se o diagnóstico não for correto você acaba prejudicando o paciente.”, diz Edimilson.

Outro fator muito importante lembrado pelo especialista foram os sinais de alarme. “A maioria da população não é informada corretamente sobre eles. A partir do quarto ou quinto dia da doença, se a pessoa estiver sem febre, com sangramentos, dor abdominal forte, vômitos, diarréia e queda de pressão arterial ela deve procurar com urgência um médico, mesmo que ela tenha saído do médico há horas atrás. Porque muitas vezes por a pessoa não estar mais com febre ela acha que está melhorando, quando na verdade está sendo vítima de uma dengue grave e pode estar perto da morte”,  alerta o médico.

O tratamento da dengue deve ser a ingestão de muito líquido, repouso, o mínimo de analgésicos possível e esperar que o organismo combata o vírus. Lembrando, também, de sempre utilizar repelente, para não deixar que uma fêmea do aedes aegypti pique a pessoa contaminada e acabe se tornando mais um vetor do vírus, podendo infectar outras pessoas.

Quanto à utilização de medicamentos, é importante ressaltar que não se deve usar o ácido acetilsalicílico (Aspirina, AS) em caso de dengue ou de suspeita. O medicamento mais utilizado, atualmente, é Paracetamol, porém não há estudos que comprovem a sua total eficácia e a segurança para que não prejudique o paciente. Inclusive já foram relatados casos de lesões hepáticas com o uso desse.

- Há muito que se estudar ainda. Não sabemos o melhor remédio e nem como controlar o vetor da dengue. Cuba acabou com o mosquito, porém causou desequilíbrios ambientais, acabando com passarinhos e outros seres. Não precisamos de apenas um dia no ano para acabar com a Dengue e sim do esforço em conjunto do Estado, dos pesquisadores e da mídia para acabar com a dengue - , concluiu o especialista.


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