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Edição 071
08 de março de 2007

Microscópio

Doenças Endêmicas são um problema emergencial de saúde pública do país

Isabella Bonisolo, da AgN/Praia Vermelha

Entre os dias 11 e 15 de março, em Campos do Jordão, acontece o XLIII Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Uma das áreas temáticas do evento enfoca as doenças endêmicas: problemas infecciosos que ocorrem de forma permanente à população de uma determinada região. Dependendo da doença, ela pode ter um período epidêmico, mas todas estão presentes durante todo o ano e por longos períodos. No país, as mais comuns são a dengue, tuberculose, malária, doença de chagas e esquistossomose.

Devido às baixas condições de moradia do país, cerca de 6 milhões de pessoas estão infectadas pela doença de chagas. Alberto Chebabo, médico da Coordenação de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), explica que o inseto que transmite essa doença encontra condições favoráveis em casas humildes, feitas de palha e barro e com buracos. “Além disto, animais como cachorro, gato e porco podem ser hospedeiros do parasita, dificultando ainda mais as ações de controle. A eliminação completa da doença é difícil, pois animais silvestres funcionam como reservatórios da doença na natureza”, completa o médico.

Não menos importante, a dengue também é uma doença endêmica que dá “dor de cabeça” ao Ministério da Saúde. Nos últimos dez anos, as epidemias estiveram presentes, mudando apenas de região do país. Para que a situação mude, Alberto Chebabo diz que a conscientização deve ser duradoura e permanente. “Não adianta lançar campanhas apenas na época de chuvas, quando os casos tendem a aumentar e as epidemias já estão instaladas. As ações de combate ao foco do mosquito devem ser mantidas durante todo o ano, em todas as regiões do país”.

Outra doença que não fica de fora da lista dos problemas emergenciais de saúde pública do país é a malária. O Brasil é o país com maior número de casos nas Américas e o terceiro do mundo. “A malária é uma doença endêmica grave, muito comum na região amazônica. O estado de Rondônia é o que tem maior incidência, com 70,86 casos positivos/1000 habitantes, seguido pelo Pará com 69,01 e Amazonas com 49,22, segundos dados de 2004 do Ministério da Saúde”, revela Chebabo.

A esquistossomose também é uma das doenças endêmicas importantes no Brasil, que atinge 19 estados numa faixa que vai do Maranhão à Minas Gerais.

- Sobre a esquistossomose, por ser uma doença de baixa mortalidade, o controle das formas graves tem grande sucesso no Brasil. Há redução das taxas de mortalidade de 0,77/100.000 habitantes em 1977 para 0,35/100.000 habitantes em 1995. Sem dúvida, a forma mais eficaz de combate é a melhoria nas condições sanitárias, principalmente de oferta de serviços de água e esgoto às populações de baixa renda nas regiões afetadas – informa o infectologista.

Chebabo ainda afirma que o investimento para erradicação destas doenças tem um custo muito elevado. “Algumas têm conseguido sucesso, como a de controle da tuberculose que tem reduzido o número de casos e oferece diagnóstico rápido e tratamento adequado aos pacientes. A campanha de prevenção à dengue também tem sido eficaz em alguns estados, mas existem regiões onde as ações foram interrompidas e o ciclo da doença voltou a aumentar o número de casos”.

Já as campanhas para as outras doenças endêmicas têm conseguido reduzir muito lentamente os surtos epidêmicos. Alberto afirma que somente através “das melhorias das condições sócio-econômicas e de habitação da população é que a incidência destas doenças pode reduzir”.


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