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Edição 067
11 de janeiro de 2007

Saúde e Prevenção

Álcool líquido: o perigo está dentro de casa, mas pode ser evitado

Fernanda de Carvalho - Agn/CT

 Com álcool não se brinca. Infelizmente, as crianças são umas das maiores vítimas de queimaduras acidentais envolvendo álcool líquido 92,8° INPM (Instituto Nacional de Pesos e Medidas), altamente inflamável. Uma campanha - organizada pelas instituições Pro Teste, Criança Segura, Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (SINPEEM), Associação Médica Brasileira (AMB) e Associação Paulista de Medicina (APM) - está sendo realizada para tentar pôr fim à comercialização do produto, além de alertar a população para os seus perigos.

No dia 20 de novembro, foi lançada a cartilha “Segurança é coisa séria. Não use álcool líquido 92,8° INPM”, que faz parte da campanha para que as pessoas deixem de usar o produto, mostrando os riscos e cuidados que devem ser observados com relação a esse tipo de álcool. Um abaixo-assinado com mais de 10 mil assinaturas, organizado e apoiado pelas entidades citadas, foi encaminhado para a Câmara dos Deputados em dezembro passado, a fim de que os projetos de lei pela proibição da venda do produto sejam votados em caráter de urgência.

Segundo dados presentes na cartilha da campanha, que pode ser acessada na página eletrônica www.criancasegura.org.br, um número aproximado de 150 mil brasileiros sofrem queimaduras resultantes de acidentes com álcool líquido 92,8° INPM anualmente, dentre os quais cerca de 45 mil são crianças. Elas foram as principais beneficiadas em 2002, quando a agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) proibiu, através da Resolução RDC-46, a venda de álcool nessa gradação.

Nos primeiros meses da proibição, que teve início dia 20 de fevereiro daquele ano, a Sociedade Brasileira de Queimadura (SBQ) realizou uma pesquisa que revelou uma redução de 60% no índice de acidentes com o álcool líquido, levando em consideração 56 centros de queimados no país. No entanto, não demorou muito para os fabricantes derrubarem o cumprimento da Resolução e os acidentes voltarem a ocorrer com mais freqüência.

O sofrimento das pessoas e o número de vítimas de queimaduras não foram às únicas coisas que diminuíram com a RDC-46/2002, da ANVISA. Pesquisas também mostraram que o Governo economizou com a redução de pacientes queimados - os quais normalmente possuem um custo diário de tratamento elevado -, reduzindo os gastos com o Sistema Único de Saúde (SUS).

Dicas e cuidados

Segundo o professor Angelo da Cunha Pinto, do Departamento de Química Orgânica do Instituto de Química (IQ/UFRJ), o álcool etílico ou etanol é utilizado no IQ como reagente químico ou como solvente para limpar vidrarias de laboratório. “Mesmo em um ambiente onde o produto é utilizado de forma consciente por alunos e professores, é preciso cuidado: No Instituto de Química, sempre que é possível evita-se usar álcool etílico ou qualquer outro solvente inflamável nas aulas experimentais, nos primeiros períodos do curso de Graduação”, afirma.

O professor chama a atenção para o uso dos recipientes com álcool que, segundo ele, devem ser armazenados em locais seguros e refrigerados, longe da chama e do alcance das crianças. “Não se deve usar álcool para acender, por exemplo, churrasqueiras, como é de costume”.

O curioso é que há ainda uma crença popular, totalmente descabida, que atribui ao álcool líquido o maior poder de limpeza. Tal mito fez com que o álcool gel tivesse pouca aceitação no mercado, apesar de ser mais vantajoso e seguro: este é menos volátil (rendendo mais chama ao evaporar por um tempo mais longo) e menos explosivo. O gel, ao contrário do produto líquido, não se espalha, reduzindo os riscos de queimaduras graves.

O fator preço também influenciou a permanência do álcool líquido nas prateleiras. “Os fabricantes insistem no líquido principalmente por seu preço ser menor. Para produzir álcool na forma de gel, é necessário um investimento tecnológico mais específico, o que torna o produto mais caro”, analisa o professor Alcides da Silva, do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais (NPPN/UFRJ).  

Para o uso doméstico, existe uma série de produtos, muitas vezes até mais eficazes na desinfecção do que o álcool líquido 92,8° INPM, que podem evitar acidentes, sem prejuízo na qualidade. Como exemplo, podemos citar os diversos tipos de detergentes para limpeza, além do próprio álcool gel, para vidros. “Água e sabão ainda são essenciais para uma boa limpeza, e resolvem a maioria dos casos”, aconselha Angelo.

Acidentes

Em caso de acidente por queimadura ou ingestão de álcool líquido, o melhor a se fazer é procurar, imediatamente, ajuda médica. Quanto às queimaduras, em particular, devemos levar em conta seus diferentes graus existentes. Se for um ferimento simples, a região afetada deve ser lavada com bastante água, a fim de que a parte superficial da pele atingida seja novamente hidratada.

Já as queimaduras mais graves necessitam de um atendimento médico mais específico. “No Rio de Janeiro, o Hospital do Andaraí é especializado nessa área. No caso de ingestão, levar o indivíduo para o hospital e informar o médico ou enfermeiro sobre o ocorrido”, indica o professor Angelo.

A campanha contra o uso do álcool líquido 92,8° INPM pretende evitar esses acidentes, gerando uma conscientização nos consumidores. “A importância dessa campanha consiste no objetivo de reduzir o número de acidentes. Deve ser veiculada no rádio e na televisão de forma clara, com exemplos e depoimentos de pessoas (ou parentes) vítimas de acidentes com álcool”, opina Alcides.

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