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Edição 063
23 de novembro de 2006

Argumento

Fome de magreza

Mariana Elia

 Docinhos, frituras, pães. São muitas as opções para uma dieta rica em carboidrato e gorduras. Apesar do número de obesos vir aumentando sistematicamente no mundo, o outro lado também é preocupante. O excesso de magreza é hoje defendido como padrão de beleza e as mulheres, principalmente jovens, sofrem na briga com a balança. Mas se você pensa que o problema está na bulimia e anorexia, distúrbios, graves na alimentação, engana-se. A perda de peso pode ser sinal para uma diversidade de doenças, algumas silenciosas e debilitantes.

A deficiência alimentar, que inicia o processo de emagrecimento, causa "amenorréia, osteoporose, desnutrição, avitaminose de todos os tipos, alteração da função cardíaca, anemia, entre uma série de outras complicações", enumera o professor e endocrinologista Adolpho Melich, do Serviço de Nutrologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF). Doenças neoplásicas, diabetes não controlado e doenças metabólicas podem, por sua vez, desencadear a perda de peso. Segundo ele, classifica-se genericamente a magreza em três grupos: o magro constitucional, que traz uma estrutura mais longilínea por natureza, o emagrecimento secundário, que está associado a doenças desencadeadoras de perda corporal e os distúrbios alimentares.

A diferenciação de cada um deles se faz na anamnese ambulatorial, acompanhada de histórico alimentar e clínico, além de exames laboratoriais. José Egídeo de Oliveira, professor da Faculdade de Medicina da UFRJ (FM) e chefe do Serviço de Nutrologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), indica também a importância de vícios, como o tabaco, na perda de peso. “É preciso ainda fazer o exame físico, que indica o Índice de Massa Corporal (IMC) e a circunferência abdominal, por exemplo”, explica José Egídeo. O IMC é calculado a partir da divisão do peso pela altura, multiplicado pela altura da pessoa (peso/altura x altura). Se o resultado for menor que 19, seu peso está abaixo do recomendado. Esse cálculo porém não pode ser utilizado em crianças.

A deficiência de vitaminas pode levar a maior suscetibilidade a infecções, danos neurológicos, cardíacos e oftálmicos. “A falta de vitamina A pode acarretar a perda da visão, mas isso é recuperável, em alguns pacientes, com transplante de córnea”, diz o chefe do Serviço. Em outros casos, entretanto, a subnutrição pode levar até a morte. O caso da modelo paulistana, Ana Carolina Reston, que faleceu por infecção generalizada, causada por anorexia, levou a sociedade a repensar o padrão de beleza atual. Modelos e dançarinos lutam contra qualquer grama adquirido e as jovens adotam esse estilo, sofrendo com uma estrutura, que, às vezes, dificilmente são alteradas.

José Egídeo aponta, em contrapartida, os prejuízos de uma subnutrição infantil, conseqüência, principalmente, de condições sócio-econômicas desfavorecidas. De acordo com o professor, dependendo do grau de acometimento nutricional, o indivíduo pode ter marcas neurológicas pelo resto da vida, como dificuldade na coordenação motora e no aprendizado.

A magreza excessiva pode ser indicação para internação, a fim de controlar os danos dos sistemas respiratório, digestivo e circulatório. O suporte com sonda ou via parenteral podem ser utilizados para regulação nutricional, mas, em geral, uma reorientação alimentar é suficiente. “O principal é atentar para o estilo de vida. A melhor recomendação é manter uma alimentação balanceada, com todos os grupos alimentares, e uma atividade física regular. Para adultos, caminhadas de quatro a cinco vezes por semana, durante meia hora, são as melhores opções”, aconselha José Egídeo de Oliveira.

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