Agência de Notícias da UFRJ www.olharvital.ufrj.br
Edição 062
16 de novembro de 2006

Argumento

Leopoldo De Meis recebe Premio Anísio Teixeira de Educação



Priscila Biancovilli

Leopoldo De Meis, professor do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ, recebeu no último dia 8 de novembro, pelas mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Prêmio Anísio Teixeira de Educação, pelos seus trabalhos em pesquisa na área de Ciências da Vida e pelo projeto que visa despertar a vocação científica em alunos de baixa renda. Criado em 1981, o prêmio é uma homenagem ao educador baiano, que dirigiu a Capes - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - entre 1951 e 1963.

Leopoldo De Meis, nas últimas duas décadas, vem dirigindo seus esforços a uma causa tão nobre quanto difícil. Ele pretende abolir o estigma que crianças e adolescentes costumam ter a Ciência como algo chato e inatingível. Desde 1988, quando criou, na UFRJ, os cursos de férias para alunos de baixa renda, já recebeu aproximadamente 2.600 alunos de 600 escolas públicas. A satisfação é tão grande que boa parte deles repete a dose nos cursos do semestre seguinte.

Paralelamente, De Meis montou também um grupo de Ciência e Arte que se dedica à difusão da Ciência de maneira criativa. Livros, DVDs e espetáculos teatrais abordam temas à primeira vista complicados, como Respiração, Primeira Lei da Termodinâmica, Ciclo de Krebs e o Método Científico. O material é distribuído gratuitamente em escolas públicas para discussão.

Trampolim para a carreira científica
Os cursos de férias acontecem a cada seis meses e atendem alunos do Ensino Médio e professores da área biológica. Ao invés de se estruturar dentro da conhecida hierarquia mestre-aprendiz, em que o detentor do conhecimento transmite a informação de maneira verticalizada, as aulas funcionam de maneira contrária. "Lá, são os estudantes que respondem às próprias dúvidas, através de experimentos científicos feitos em conjunto com alunos da pós-graduação", afirma De Meis.

- A proposta é estimular o pensamento crítico dos estudantes, acabando com a noção de que o professor é dono da verdade absoluta. O projeto voltado aos professores mostra que eles também podem fazer Ciência dentro da sala de aula, simplificando a transmissão do saber através das experiências adquiridas no curso - relata o professor.

O sucesso da idéia fez com que Leopoldo conseguisse diversos financiamentos, como o da Fundação Vitae e, mais recentemente, da Capes e da Finep - Financiadora de Estudos e Projetos. Hoje, outras nove universidades públicas do Brasil já aplicam essa metodologia de ensino.

Aqueles alunos que se destacam no curso de férias são selecionados para trabalhar dentro do Laboratório de Bioquímica Médica. Antes mesmo de concluir o Ensino Médio, os adolescentes têm a oportunidade de entrar em contato com alunos de pós-graduação e colaborar nas pesquisas dos mais diversos gêneros. Além disso, recebem uma ajuda de custo de R$ 150 e financiamento para tudo que for necessário ao aprendizado e ao ingresso na universidade pública: livros, cursos de inglês, curso pré-vestibular, taxas de inscrição para provas, entre outros.

Segundo Leopoldo, este projeto é vantajoso não apenas para o aluno, mas também para o pesquisador: "o jovem de baixa renda aprende bastante com o pós-graduando, sobre o método científico e os projetos. Enquanto isso, o pesquisador entra em contato com uma nova realidade que o 'menino' trará para ele", atesta o professor.

Somente no Laboratório de Bioquímica Médica da UFRJ já passaram 47 jovens, e desses, mais de 60% ingressaram na universidade pública. Reinaldo Sousa dos Santos, de 21 anos, é um deles. Formado na Faculdade de Farmácia, o estudante se prepara para a prova de mestrado: "o curso de férias foi um divisor de águas na minha vida. A partir dele, fui chamado para entrar no projeto de baixa renda. O programa não apenas me ajudou a entender melhor a Ciência, como também me ajudou financeiramente, pagando meu pré-vestibular e inscrições para os vestibulares das universidades públicas. Depois, quando entrei na universidade, continuei trabalhando como bolsista de Iniciação Científica, e agora pretendo fazer mestrado".

Uma outra característica a ser destacada no projeto é seu caráter cíclico. O aluno entra no curso, participa do programa de baixa renda, vai para a graduação e a partir daí retorna como monitor, auxiliando os novatos. Desta forma, sua sustentabilidade é garantida.

Carlos Alexandre Henrique, de 20 anos, também passou pelo curso de férias em 2003 e hoje está no 2º período da Faculdade de Letras: "trabalho na Iniciação Científica e em projetos culturais dentro da minha faculdade. O que acho mais interessante nesse projeto de baixa renda é a convivência com pessoas de diferentes idades, origens e áreas de atuação. A troca de experiências é muito importante para minha carreira".

Ciência e Arte
Por muito tempo, Ciência e Arte foram consideradas duas formas distintas e insolúveis de analisar a natureza. Até hoje, em especial nas escolas, o ensino da Ciência é muito atrelado à razão, às fórmulas decoradas e sem utilidade prática, o que torna o aprendizado monótono.

Para resgatar o encanto dessa área do conhecimento, Leopoldo De Meis produziu o livro O Método Científico, que hoje já está na 4ª edição. Feito em parceria com o artista Diucênio Rangel, a obra é organizada em formato de quadrinhos e explica o início do pensamento científico, de forma atraente.

A partir desse livro, outras iniciativas foram surgindo, como por exemplo uma peça de teatro baseada em O Método Científico (ABC, 1997), um outro livro intitulado A respiração e a 1ª Lei da Termodinâmica (1998),e o DVD Mitocôndria em Três Atos.

Para Leopoldo, o objetivo principal dessas obras é emocionar, porque, segundo ele, a emoção motiva o aprendizado.

De Meis é professor titular da UFRJ, doutor honoris causa das universidades de Buenos Aires (Argentina) e Católica de Louvain (Bélgica), e fundador da Academia de Ciências da América Latina. Entre diversas distinções, recebeu as Ordens Nacionais do Mérito Acadêmico e Científico, nas classes Grã-Cruz e Comendador.

Anteriores