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Edição 056
05 de outubro de 2006

Por uma boa causa

Os agrotóxicos e sua primavera silenciosa

Taisa Gamboa

Publicado no início da década de 1960, “Primavera silenciosa” (Silent Spring), de Rachel Carson, foi a primeira obra a detalhar os efeitos adversos da utilização dos pesticidas e inseticidas químicos sintéticos sobre o ambiente e o custo dessa contaminação para a sociedade humana.

A autora indicava que a utilização dos agrotóxicos estava interferindo nas defesas natural do próprio ambiente. Rachel Carson ainda acrescentava considerações a respeito da liberação do uso dos agrotóxicos com pouca ou nenhuma pesquisa prévia sobre seu efeito no solo, na água, no ar, nos animais e no próprio homem.

Mas afinal, o que são agrotóxicos? E quais os riscos que eles representam à saúde e à biodiversidade? A legislação vigente e a fiscalização atual são suficientes para controlar a sua produção e uso? Quais as alternativas que estão sendo desenvolvidas? Durante as próximas edições o Por uma Boa Causa responderá essas e outras questões, ao longo da série "Os agrotóxicos e sua primavera silenciosa".

Os agrotóxicos são produtos de natureza biológica, física ou química que têm a finalidade de exterminar pragas ou doenças que ataquem as culturas agrícolas, pastagens, florestas e ambientes urbanos, hídricos e industriais. Podem ser classificados em herbicidas, que controlam as ervas daninhas; inseticidas, controladores de insetos; e fungicidas, que destroem ou inibem a ação dos fungos que atacam as plantas.

De acordo com a professora Irene Garay, vice-diretora do Instituto de Biologia da UFRJ, os agrotóxicos surgiram junto com o desenvolvimento da ciência e das diferentes tecnologias que despontaram no início do século XX. O aumento da qualidade de vida das sociedades favoreceu o crescimento populacional e, junto a isso, surge a preocupação com a produção de alimentos. O número de pessoas aumentava exponencialmente e a agricultura mundial ainda funcionava, na maioria dos locais, de forma artesanal. É exatamente diante desse panorama que os agrotóxicos começam a ser utilizados maciçamente.

Se durante a 2ª Guerra Mundial eles foram utilizados até como arma, no Brasil, sua utilização tornou-se evidente em ações de combate a vetores agrícolas na década de 1960. Anos depois, os agricultores foram liberados a comprar esses produtos de outros países.

Mas a facilitação para a compra e uso dos agrotóxicos teve um efeito devastador. Segundo Irene Garay, a utilização intensiva e irregular desses produtos provocou danos diretos e indiretos ao homem. "No ambiente, a contaminação do ar propaga a ação do agrotóxico para além da área desejada. Quando já está em contato com o solo, as cadeias tróficas são afetadas, o que desequilibra o funcionamento do solo, acelerando a sua degradação. Na água, os agrotóxicos infectam os lençóis freáticos e terminam por atingir, assim, o homem, formando um ciclo devastador", destaca a professora.

Seus efeitos no organismo humano são lentos, silenciosos e, às vezes, letais. Problemas neurológicos, respiratórios, dermatológicos e de fertilidade são apenas algumas das lesões sofridas por milhares de pessoas que, por ignorância, ou irresponsabilidade de terceiros, foram contaminados por agrotóxicos.

Para controlar seu uso indiscriminado, reduzindo a degradação ambiental e os riscos ao homem, uma série de leis foram criadas de forma mais direcionada para a questão dos agrotóxicos. Como funciona a legislação e fiscalização a esse respeito será o tema da próxima edição desse boletim.

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