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Edição 054
21 de setembro de 2006

Por uma boa causa

Apenas um problema de leitura

Isabella Bonisolo

Albert Einstein, Darwin, Winston Churchill, Leonardo Da Vinci, Pablo Picasso, Walt Disney e até o galã Tom Cruise. Além da fama por alguma descoberta ou talento que encantaram o mundo, as personalidades citadas possuem outro ponto em comum: a dislexia. A lista de pessoas de sucesso que foram ou são vítimas do problema não pára por aí, o que garante uma prova concreta de que disléxicos são muito capazes.

A dislexia é um distúrbio com o qual a criança apresenta uma dificuldade na aquisição da fluência da leitura. Esse problema, que atinge cerca de 10% da população mundial, manifesta-se geralmente na época da alfabetização, não descartando a possibilidade de um diagnóstico tardio, já na pré-adolescencia.

O grande medo dos pais, que descobrem que seus filhos são disléxicos, é quanto ao nível de inteligência que eles possuem. Renata Mousinho, professora do curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFRJ, afirma que crianças com esse distúrbio são tão capazes quanto qualquer outra e que o preconceito é a grande barreira  a ser enfrentada. “Elas tem apenas uma leitura lenta, silabada, dificuldade de rimas, o que se torna um contraste com o resto do desenvolvimento global delas que é perfeitamente normal”, explica a professora.

A confirmação disso pode ser observada através da esperteza, facilidade de aprendizado em geral e da aguçada percepção de informações advindas de produtos audiovisuais que essas crianças demonstram ter. “A dificuldade específica delas é a transformação de letras em som em uma seqüência lógica”, aponta Renata.

Fragmentar o tempo de estudo ao longo do dia, ler juntamente com a criança e apresentar estímulos audiovisuais. Segundo Renata Mousinho, essas são algumas atitudes que os pais podem e devem ter para facilitar a vida da criança disléxica.

— O sucesso do disléxico é decorrente do que ele trás biologicamente, ou seja, se o seu problema é severo ou não. Se a criança disléxica está aprendendo na sala de aula sobre Egito antigo, por exemplo, ela poderá absorver o conteúdo muito melhor caso veja um filme sobre isso, em vez de ter a leitura como único recurso. Tem que abusar dos canais que não geram dificuldades —  aconselha a professora.

A origem do distúrbio, que possui diversos níveis de severidade, é justificada biologicamente. Após a investigação de até três gerações acima da maioria dos disléxicos, encontrou-se pelo menos um parente que sofreu com esse problema de alteração de padrões neurológicos. Com isso, não se pode esperar cura, mas uma qualidade de vida melhor caso o paciente siga corretamente o tratamento fonoaudilógico.

A anomalia que gera essa dificuldade de leitura, ao contrário do que se imagina, não é decorrente de um problema estrutural do sistema nervoso e sim da função dele. Um leitor sem dificuldade estimula três pontos do lado esquerdo do cérebro, enquanto que um disléxico ativa uma parte da direita e tenta compensar com mais uma da esquerda. “O problema é algo do funcionamento, e não anatômico”, esclarece a fonoaudióloga.

— A leitura é o canal geral aonde absorvemos o maior número de informações. Mas quem tem um problema com ela não tem nenhum impedimento, caso siga o caminho correto e aprenda a caminhar com as próprias pernas — explica Renata.

O Ambulatório de Transtornos da Língua Escrita que a UFRJ oferece para a comunidade atende todas as terças-feiras, de 8h às 17h, no Instituto de Neurologia Deolindo Couto (INDC). A coordenadora do serviço, professora Renata Mousinho, relata que qualquer um que suspeite do distúrbio pode submeter-se aos testes, porém o tratamento fonoaudiológico só é aberto aos moradores da região próxima ao INCD.

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