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Edição 053
14 de setembro de 2006

Saúde e Prevenção

Uma pedra no meio do caminho

Isabella Bonisolo

Se as cólicas na altura dos rins e a dificuldade de urinar te perseguem incessantemente, está na hora de procurar um médico. Mais comum do que se imagina, o cálculo renal, ou a mais popularmente conhecida como pedra nos rins, atinge cerca de 12% dos homens e 5% das mulheres, pelo menos uma vez na vida.

Os cálculos renais são aglomerados de cristais que se formam na urina quando ela está saturada, ou seja, com pouca água. Essa condição de pouca solubilidade favorece a junção de duas substâncias, o Cálcio e o Oxalato que, com o tempo, formam as “pedrinhas”. Maurilo Leite, professor da Faculdade de Medicina e médico do Serviço de Nefrologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) explica que “uma urina cada vez mais diluída evita que os cristais aproximem-se e agreguem-se, formando os cálculos”.

Não apenas o fator água é importante, mas também as condições do paciente que pode estar eliminando quantidades anormais de Cálcio (hipercalciúria), de Oxalato (hiperoxialúria) ou de Ácido Úrico. Isso também possibilita a união dos cristais que compõem uma pedra nos rins.

Quando as formações calculosas são pequenas, às vezes há a eliminação pela urina sem que o indivíduo perceba. Em média, essas “pedras” têm no máximo oito milímetros. “Elas passam pelo ureter de forma arrastada e dolorosa, às vezes com dor de fortíssima intensidade”, explica o nefrologista.

O relato de pacientes com esse problema aponta a dor do cálculo renal como algo focado na região lombar. Se o cristal for eliminado pela urina, o desconforto migra, acompanhando o corpo estranho que se desloca pelo aparelho excretório. Apesar disso ser um bom sinal, já que o organismo está forçando a retirada de um mau elemento, a eliminação natural é marcada por lesões nos canais urinários que levam a sangramentos.

Deve-se recorrer o mais rápido possível a um médico caso os sintomas acima sejam freqüentes. O diagnóstico recente do problema evita que o tamanho dos cálculos aumentem conforme o tempo. Através de um exame simples, o EAS (Elementos Anormais e Sedimentos), ou tomografia, é possível detectar e visualizar os formatos dos cristais, e então diagnosticar qual a natureza deles. “Os cristais de Oxalato assemelham-se a pequenos envelopes”, exemplifica Maurilo.

Caso os cristais atinjam tamanhos impossíveis de serem eliminados pelas vias urinárias, uma intervenção é necessária. Atualmente o uso de cirurgias é a opção menos escolhida, pois há um método menos invasivo, a litotripsia, que realiza pequenos choques quebrando as pedras grandes. “As ondas de choque traumáticos fragmentam diretamente no ponto certo. Como se tornam pedaços pequenos, eles podem passar pelas vias normais, sem necessidade de uma cirurgia”, argumenta o professor.

Para aqueles que já tiveram cálculo renal, é quase uma regra que o problema apareça mais vezes. Em homens, há 50% de chance de ocorrerem novos casos 10 anos depois do primeiro. Já nas mulheres, a taxa da probabilidade cai para 30%. Maurilo Leite conta que há uma eterna “luta para diminuir a recorrência de formação de Cálcio e aumentar o espaço entre a freqüência dos casos”.

Há maneiras, porém, de prevenir as primeiras aglomerações de cristais no organismo, além de evitar novas formações. A ingestão de pelo menos dois litros e meio de água por dia é fundamental para que a urina esteja sempre diluída. A ingestão de alimentos cítricos também é recomendada, já que eles são inibidores naturais da formação de cristais.

Um aspecto, porém, deve ser ressaltado. Ao contrário do que muitos pensam, a eliminação do Cálcio na dieta não é benéfica. Se a pessoa já tem a tendência de formar cálculos por causa dessa substância, o organismo estimula o hormônio paratireóide a buscar o que está sendo suprido. Logo, a maior reserva que um ser humano tem de Cálcio - os ossos - é então desmineralizada. “Sempre se pensou que a diminuição da ingestão do Cálcio estaria prevenindo o aporte do mineral que geraria o cálculo. Hoje se sabe que não é assim que funciona. Se está se fazendo uma dieta com pouco Cálcio, o corpo busca no osso o que ele precisa”, esclarece Maurilo Leite.

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