Agência de Notícias da UFRJ www.olharvital.ufrj.br
Edição 052
06 de setembro de 2006

Por uma boa causa

Gagueira: chega de estigmas

Isabella Bonisolo

O Olhar Vital, durante o mês de setembro, apresenta uma série de matérias sobre disfunções da linguagem ou, mais popularmente, os problemas de fala. Para muitos que sofrem com esses distúrbios, a comunicação no dia-a-dia pode tornar-se insustentável. Há um profissional da área de saúde, porém, capaz de ajudar e mostrar para essas pessoas que a participação efetiva delas na sociedade é possível: o fonoaudiólogo.

 Iniciaremos esta semana com a discussão sobre a gagueira, um transtorno da fluência verbal que se caracteriza por bloqueios, prolongamentos e repetições na fala, além da possível imobilização do indivíduo em uma conversa. Com isso, a condução do ritmo do gago perde a fluidez natural, e acaba se diferenciando muito da do ouvinte, o que geralmente causa estranheza.

Não há teorias concretas que comprovem o porquê da gagueira. Há quatro linhas de pensamento que suspeitam e defendem posições que explicariam o motivo pela qual ela se dá. A concepção articulatória discute que a gagueira é uma alteração muscular na saída da palavra. A que defende o aspecto psicomotor, diz que corpo tem algumas determinações que não são adequadas à palavra, ou seja, o indivíduo desenvolve uma série de rituais de movimento para falar. Uma outra acredita que o comprometimento emocional dá origem à gagueira. A Lingüística, mais adotada, diz que o problema está entre a elaboração do pensamento e a palavra propriamente dita.

Segundo Leila Nagib, professora e coordenadora da graduação do curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFRJ, “o que se tem certeza é que ninguém nasce gago. A gagueira é uma imperfeição da palavra que é adquirida no desenvolvimento de linguagem”. É comum, porém, encontrar pessoas com uma pré-disposição para o problema. Essa idéia da hereditariedade também não é comprovada, mas é bem aceita. Leila Nagib conta que existem muitos casos de crianças gagas que têm pais com a mesma disfunção. O relato mais curioso é que na maioria das famílias, a disfunção da fala do parente já havia sido sanada quando a criança nasceu. Ou seja, isso descartaria o argumento da gagueira por imitação e fortaleceria a possibilidade de o transtorno ser uma questão de genes.

Quando certas crianças passam pela fase do desenvolvimento da fala, a pressão psicológica sobre esse desempenho pode ser tão grande que ocasiona uma gagueira fisiológica. Os pequenos normalmente superam tranqüilamente essa etapa de suas vidas, porém alguns podem permanecer e desenvolver a disfunção da linguagem. “A família tem um papel muito importante nesse momento, no sentido de auxiliar, conversar, falar corretamente com a criança. Seria bom se os pais levassem a criança para consulta com um fonoaudiólogo, onde eles receberiam orientações e aprenderiam como se comportar para não ressaltar ou marcar a gagueira na vida de seus filhos”, ressalta a professora.

A especialista alerta, também, para o errôneo preconceito de mães que tem medo que seus filhos pequenos brinquem com crianças gagas. De acordo com Leila, “ter convívio com elas é perfeitamente natural e não tem o menor problema”. A partir desse preconceito que muitos gagos sofrem desde cedo, as dificuldades de relacionamento se intensificam.

A procura de um especialista é uma questão de qualidade de vida. Durante a terapia, há exercícios específicos para o desenvolvimento de uma fala mais natural, além do trabalho sobre a auto-estima do paciente e sua inserção social. “O gago tem vergonha de falar, de ir a uma loja, por exemplo, e fazer um pedido. A gagueira passa a ser a prioridade e acaba impedindo muitos contatos. Na terapia, nós frisamos que isso não pode acontecer”, relata Leila Nagib. A terapia psicológica pode ser adotada como complemento, já que o fardo do estigma é um obstáculo no andamento do tratamento fonoaudiológico.

Para os que procuram ajuda para a cura da gagueira, a UFRJ disponibiliza, gratuitamente, no Instituto de Neurologia Deolindo Couto, um ambulatório para o tratamento. O atendimento acontece todas as terças-feiras, de 8h às 17h e as responsáveis pelo serviço são as especialistas da UFRJ em estudos dessa disfunção da fala, professoras Juliana Pereira e Leila Nagib.

Anteriores