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Edição 051
31 de agosto de 2006

Microscópio

Farmacoterapia da obesidade

Taisa Gamboa

Na segunda semana de setembro, a Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), promove a décima edição do Congresso Brasileiro de Nutrologia, em São Paulo. Uma das palestras mais concorridos do evento é o que aborda a Farmacoterapia da obesidade, discutindo os tratamentos medicamentosos relacionados à doença que tem desafiado a Medicina no século atual.

A obesidade é uma doença crônica caracterizada por um acúmulo excessivo de gordura que interfere no bem-estar físico e psíquico do indivíduo, diminuindo a sua qualidade de vida. Embora, e indiscutivelmente, seja determinada por uma maior ingestão energética associada à diminuição do seu dispêndio, a obesidade também envolve fatores genéticos, endócrinos, neurológicos, psicológicos e ambientais. Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) indicam que mais de um bilhão de pessoas no mundo têm excesso de peso e esse número poderá chegar a 1,5 bilhão, antes de 2015.

Considerada um problema de saúde pública, a obesidade provoca diversas co-morbidades, tais como diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, doença cerebrovascular, apnéia do sono, dermatites e câncer de mama e de endométrio. Essa enorme quantidade de problemas relacionados e a sua etiologia multifatorial (estudo das várias causas) são os motivos que movem nutricionistas e médicos a lutar pelo aperfeiçoamento do seu tratamento.

De acordo com Glorimar Rosa, professora do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC) da UFRJ, a reeducação alimentar e o aumento da atividade física são o ponta pé inicial para a superação da doença. Se o indivíduo não responde a essas medidas, os tratamentos, psicoterápico e cirúrgico, também podem ser empregados. Mas quando nem essas terapias são suficientes e o doente já apresenta co-morbidades que comprometem sua qualidade de vida, a opção pela associação de fármacos também é uma solução.

A anfetamina, um das primeiras drogas empregadas no tratamento antiobesidade, atua no hipotálamo (situado na base do cérebro) reduzindo a sensação de fome, mas apresenta inúmeros efeitos colaterais no Sistema Nervoso, tais como insônia, agressividade e desencadeamento de quadro psicótico. Além disso, a anfetamina pode provocar dependência, motivo pelo qual foi retirada do mercado brasileiro.

Os medicamentos termogênicos (produtores de calor), que elevam a queima energética, são outros que apresentam problemas. Eles podem ocasionar acidentes vasculares hemorrágicos e, por isso, também estão sendo retirados do mercado. “Essas medidas de controle são empregadas pelo Ministério da Saúde, através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que, entre outras funções, testa, regula e fiscaliza o comércio de medicamentos”, destaca Glorimar.

Segundo ela, alguns dos fármacos antiobesidade liberados ao tratamento apresentam ação sistêmica, reduzindo a ingestão e ampliando o gasto energético. Existem também os remédios disabsorvidores, como o Xenical, que, segundo evidências científicas, melhoram as co-morbidades anteriormente mencionadas. Entretanto, muitas vezes, os efeitos secundários desses medicamentos são decorrentes do seu mecanismo de ação, que resulta em fezes amolecidas e gordurosas, diarréia, flatulência, e incontinência fecal.

As vitaminas lipossolúveis (A, D e E) são outra opção de farmacoterapia contra a obesidade. Estudos têm demonstrado uma depleção (perda desses elementos) importante dessas substâncias entre a população, sendo recomendada a suplementação das mesmas. Considerando que a depressão é um achado comum nos indivíduos obesos, o uso de fármacos com a finalidade de combatê-la, especificamente, é indicado.

Para Glorimar Rosa, o mais importante no tratamento da obesidade é a mudança do estilo de vida, contemplando principalmente a reeducação nutricional, sem a qual observa-se o chamado efeito sanfona, muito mais deletério à saúde que a permanência na obesidade. “Acreditamos que uma alimentação balanceada seja a base do tratamento antiobesidade, e é por isso que os nutricionistas têm o compromisso de desenvolver projetos de pesquisa que gerem subsídios para o aperfeiçoamento da prescrição nutricional”, destaca a professora.

Glorimar e Eliane Rosado, também professora do INJC, estão desenvolvendo pesquisas que investigam a interação gene-ambiente, ou seja, a relação entre o consumo de diferentes tipos de gorduras e sua possível influência na expressão do gen do PPAR g 2, um dos genes candidatos à promoção da obesidade.

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