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Edição 050
24 de agosto de 2006

Por uma boa causa

Herpes: um vírus persistente

Mariana Elia

Como penúltima da série de matérias sobre doenças sexualmente transmissíveis, esta semana é dedicada ao conhecimento da Herpes, seu diagnóstico e tratamento. A Herpes é uma infecção viral que afeta principalmente os lábios e a área genital, mas pode, ainda assim, manifestar-se em qualquer parte do corpo.

O vírus, chamado de HSV (vírus da Herpes simples), tem dois tipos gênicos, 1 e 2. O primeiro ataca basicamente os lábios, enquanto que o segundo costuma acometer a área genital. Segundo o professor Omar Lupi, do Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) e presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia - seção Rio de Janeiro, a herpes tem uma prevalência maior que 80% na população adulta, sendo que o tipo 1 é mais freqüente, tanto em sua distribuição populacional, quanto no índice de manifestações. Entretanto, a diferença nas seqüências gênicas é pequena e o tratamento é o mesmo para ambos.

Como normalmente é assintomática, o indivíduo somente toma conhecimento da doença quando entra em crise, o que pode, inclusive nunca ocorrer (apenas 1% da população portadora tem o chamado quadro exuberante). “A Herpes pode ser também oligossintomática, quer dizer, apresentar alguns sintomas, contanto, eles são facilmente confundidos com uma gripe, como aftas na boca, gânglios e febre”, acrescenta Omar.

O vírus HSV tem a característica de se alojar nos gânglios cervicais, especificamente o sacral e trigeminal, em um estado de latência. Quando há a manifestação, que pode decorrer da alimentação, de estados psicológicos determinados ou de uma baixa na resistência imunológica, o vírus alcança a região da pele, através da inervação. Esse quadro de inativação e de associação com o sistema nervoso dificulta a ação de um tratamento que alcance a cura, pois “a latência caracteriza uma espécie de integração do DNA do vírus ao DNA da célula do organismo. Além disso, o tecido nervoso é muito pouco sujeito a ação do sistema imunológico”, explica o professor. Mesmo assim, há diversos estudos, inclusive alguns realizados pelo professor Omar Lupi, que chegaram a uma vacina, que combate o vírus e suas manifestações. Por terem até agora, no entanto, resultados satisfatórios apenas para mulheres, a indústria farmacêutica não demonstrou interesse.

O diagnóstico é feito, nos dois casos da doença, por exame clínico, pois a manifestação é bastante peculiar. A sorologia não tem grande validade, uma vez que a maioria da população apresenta o anti-vírus do HSV. As crises caracterizam-se por um período de virimia, momento em que o vírus circula pelo corpo, mas ainda não se apresenta na pele, seguido do surgimento de bolhas agrupadas em uma base avermelhada. A sensação de dor e prurido é comum, mas o professor Omar destaca que o diagnóstico em mulheres, como em qualquer DST, é mais difícil, já que não necessariamente as pequenas úlceras estão visíveis. O anti-viral, Asiclovir, é o medicamento básico e tem como objetivo impedir a replicação do vírus.

Apesar de geralmente não se desenvolver em complicações mais graves, a Herpes incomoda quando reincide freqüentemente e traz um impacto psicológico, já que o indivíduo será portador de uma doença por toda a vida. Acima de tudo, a Herpes é uma via de entrada para outras DST, sendo a mais importante o HIV. Incomuns, mas não raros, são os casos em que a mãe manifesta uma crise no momento do parto, o que pode desencadear uma infecção grave no bebê, e o deslocamento do vírus para o encéfalo, causando encefalite herpética.

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