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Edição 049
17 de agosto de 2006

Faces e Interfaces

Maconha como medicamento

Isabella Bonisolo e Mariana Borgerth, da AgN/PV

A Organização Mundial de Saúde tem protocolos específicos que autorizam o uso médico da maconha como medicamento, sob supervisão e normatização do Ministério da Saúde de cada país que o julgue necessário. Países como os Estados Unidos da América e a Holanda, também, mantém esta forma de tratamento. A recomendação do Comitê Assessor sobre álcool e drogas para o Ministério da Saúde do Brasil é que este deve defender a continuidade das pesquisas nessa área.

Apesar do tratamento já ter sido adotado na Europa e nos Estados Unidos, no Brasil ainda não são produzidos medicamentos com essa droga. Por trás disso há inúmeros problemas, como a falta de controle na produção e comercialização da maconha e os embargos políticos.

Segundo Núbia Verçosa, professora adjunta de Anestesiologia do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina, a maconha como medicamento, pode ser utilizada como antiemético (diminuição do vômito) nos tratamento dos tumores cancerígenos quando são utilizados os quimioterápicos e também para diminuir a pressão intra-ocular dos pacientes com glaucoma. Muitos defendem que existe uma gama de medicamentos que podem ser utilizados para o tratamento desses problemas, acarretando menos riscos para o paciente. Para discutir essas questões, convidamos a professora Lílian Hennemann da Clínica da Dor do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) e o professor Marcelo Cruz do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (IPUB).

Lílian Hennemann

Professora do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), anestesista e coordenadora de ensino do Programa de Tratamento da Dor e Cuidados Paliativos.

“Todo medicamento vem da natureza. O que acontece é que após pesquisas, os laboratórios pegam a substância que tem função ativa, o que for válido, isola para depois industrializar e o que for impureza, descarta. Se fizer isso com a maconha, ela pode ser uma alternativa, mas não dá para usar agora do jeito que ela se encontra.

O uso da maconha como medicamento ainda será desenvolvido. Os sub-produtos dela podem até ser aproveitados, mas isso é algo para o futuro, quando a droga for purificada da cannabis. Ela na forma que se tem disponível no Brasil, possui inúmeros produtos além do princípio ativo válido para uso medicamental. Produtos esses que causam problemas psíquicos.

A liberação da maconha no Brasil também é complicada. Ela não é a abordagem mais adequada, há outras drogas com melhor eficácia, com menos efeitos colaterais e que envolvam menos questões políticas. Hoje, existem medicamentos melhores que a cannabis para o que dizem que ela seria a solução. Pode ser a droga para o futuro, mas ainda não se aprimorou a química dela”

Marcelo Cruz

Doutor em Psiquiatria, do Instituto de Psiquiatria - IPUB/UFRJ

“Estas substâncias têm se mostrado promissoras em pesquisas e em uso clínico porque têm como propriedade aumentar o apetite, diminuir a náusea e aliviar as dores, principalmente aquelas causadas por espasmos musculares. Pelo fato de possuírem tais propriedades estas substâncias vêm sendo utilizadas no tratamento de doenças que levam à caquexia (emagrecimento extremo e que pode levar à morte) causada por inibição do apetite e/ou náuseas e vômitos, comum em alguns pacientes com Aids ou com determinados tipos de câncer e/ou pacientes que fazem uso de quimioterapia. Suas propriedades de diminuir as dores por espasmos justificam o seu uso em tratamento de quadros como a esclerose múltipla, uma grave doença neurológica. Estes usos são justificados por pesquisas que mostram que estas substâncias são eficientes, ou seja, produzem as melhoras esperadas.

Como qualquer substância, pode provocar efeitos colaterais. Estes efeitos colaterais já são popularmente conhecidos, como a sedação, a diminuição da atenção e da memória. Outros, como alterações temporárias das percepções são evitadas com o controle da dose, mas o risco de dependência existe e deve ser considerado como os demais. Na realidade, a avaliação da indicação de uma medicação sempre deve levar em consideração os malefícios e benefícios do seu uso.

Estudos vêm sendo feitos nesse sentido. No Brasil, o Dr. Dartiu Xavier da Silveira do Programa de Orientação e Atendimento a Dependente (PROAD) da UNIFESP e o Dr. Elisaldo Carlini do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) da UNIFESP têm pesquisas sobre este assunto e ambos são favoráveis ao uso terapêutico da cannabis. Na UFRJ, a discussão existe e aponta para a continuidade das análises. Acho que os estudos devem prosseguir e nos casos em que for comprovada a eficácia das substâncias, o tratamento não deve deixar de ser feito.”

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