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Edição 049
17 de agosto de 2006

Ciência e Vida

Vidas suspensas

Médicos do Hospital Universitário analisam a situação da Aids no início do século XXI

Taisa Gamboa

Os dados de 2005 do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) são claros: em todo o mundo, estima-se que haja, hoje, 40,3 milhões de pessoas vivendo com HIV. Apenas no ano passado, quase 5 milhões de pessoas no mundo foram infectadas e 3,1 milhões morreram em função da epidemia.

Os efeitos da doença entre o sexo feminino, no entanto, são os que mais preocupam. Em termos globais, quase a metade de todas as pessoas infectadas são mulheres: 46% dos adultos. Na América Latina, elas respondem por 32% dos 1,8 milhões de soropositivos. No Brasil, as tendências da doença seguem um padrão semelhante: número maior de casos entre heterossexuais, especialmente mulheres, e entre pessoas pobres, sendo que a epidemia se dissemina com velocidade cada vez maior no interior do país.

Embora ainda seja possível observar o crescimento do número de casos entre o chamado sexo frágil, os dados mais recentes apontam para a estabilização da epidemia. Para se ter uma idéia, em 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou que o Brasil teria cerca de 1.200 mil novos casos de infectados pelo vírus HIV no ano 2000. Uma década depois, apenas a metade desse número foi registrada. Apesar de representar uma quantidade muito grande de doentes, a drástica redução da progressão de contaminados foi um alívio para a saúde pública, e resultado de anos de pesquisa e trabalho dos médicos brasileiros e de medidas do governo federal.

A oferta de medicamentos combinados e a orientação adequada garantiram bons resultados. “Chegamos a um ponto onde a Aids tornou-se uma doença crônica como o colesterol alto ou a hipertensão. Se o paciente pára de tomar o remédio pode até morrer, mas se mantiver o tratamento conforme a orientação médica, sua sobrevida é ampliada em muitos anos”, destaca o doutor Luiz Antônio Alves de Lima, infectologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ).

Paulo Feijó Barroso, também infectologista do Hospital Universitário, garante que, antes da utilização do coquetel, um soropositivo era capaz de viver no máximo até 12 anos. Hoje, a perspectiva de uma pessoa que se descobre com HIV é muito próxima de alguém que não contraiu o vírus.

Mesmo orgulhosos pelo belo trabalho desempenhado, os médicos, especialistas na área, cedem parte dos “louros” à mídia. “Através da discussão pública sobre sexo, Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), em especial a Aids, os meios de comunicação, principalmente a televisão, foram responsáveis pela transmissão de informações simples e eficazes, em todo o território nacional. A participação de artistas nos anúncios a favor do uso da camisinha cedeu credibilidade à campanha e aumentou a penetração das informações. Se há 20 anos atrás, apenas 20% dos jovens usavam a proteção, hoje, esse número chega a 70%”, analisa doutor Luiz Antônio.

Apesar da euforia com os bons resultados, muitas pessoas ainda se contaminam, principalmente as mais carentes e com poucos anos de estudo, a Aids se pauperizou. E é por isso que as pesquisas continuam avançando. Uma rede internacional de cientistas está pesquisando uma vacina preventiva contra a Aids. Desde que as pesquisas começaram, na década de 80, mais de cinqüenta testes já foram feitos, e a participação do Brasil tem sido de grande relevância, tanto na fase de criação, produção, quanto de testes.

- Sendo realista, em alguns anos é possível que nós tenhamos algumas respostas. Mas tudo no HIV é complicado. Foi assim quando descobrimos que o AZT não funcionava sozinho. Mesmo que tenhamos alguns problemas no início da produção e utilização da vacina preventiva contra a Aids, sabemos que é o caminho seguir, a única forma verdadeira de se controlar essa epidemia.- acrescentou Paulo Feijó Barroso. Os dois infectologistas da UFRJ prevêem que em menos de 10 anos, alcançaremos uma fórmula eficaz contra a doença.

Na busca por esses objetivos, o Projeto Praça Onze, sob coordenação do médico Mauro Schechter, deu início a um importante estudo de pesquisa da vacina preventiva contra a Aids, intitulada HVTN 502. Em fase avançada, a vacina é considerada por especialistas uma grande esperança no combate a Aids, e necessita de voluntários. O projeto da UFRJ está selecionando 230 voluntários entre homens e mulheres.

“Estamos em busca de mulheres de 18 a 45 anos, que tiveram parceiro sexual soropositivo nos últimos seis meses, ou que sejam profissionais do sexo, ou que tiveram sífilis ou doença inflamatória pélvica. Também estamos procurando homens que estejam na faixa etária entre 18 e 45 anos e que tenham feito sexo com homens nos últimos seis meses”, disse Mônica Barbosa, coordenadora de Educação Comunitária do Projeto Praça Onze. Os interessados em se tornar voluntários deverão procurar o Projeto, no Hospital Escola São Francisco de Assis (Avenida Presidente Vargas, 2863, Cidade Nova – RJ) ou ligar para no telefone (21) 2273-9073.

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