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Edição 048
10 de agosto de 2006

Saúde e Prevenção

Não sinta a estação na pele

Isabella Bonisolo

O Rio de Janeiro nunca teve invernos rigorosos, mas as altas temperaturas alcançadas no período esse ano são surpreendentes. Isso trouxe para os moradores da cidade maravilhosa a possibilidade de sentir na pele, às vezes literalmente demais, tudo o que um bom dia de calor pode proporcionar: praia, piscina, idas ao parque. Esses hábitos de verão que são retomados no inverno podem levar a graves conseqüências, caso o mito do inofensivo “sol de inverno” seja mantido.

Segundo o professor Luiz Maia do Instituto de Geociências da UFRJ, no inverno, a média é que cheguem no Rio de Janeiro de três a quatro frentes frias por mês. Quando se instalam, juntamente com os ventos vindos do oceano, promovem queda brusca de temperatura, com dois a três dias de céu encoberto e típicas precipitações contínuas. Esse é o padrão, porém não há rigor nem regras na natureza.

O que acontece para que o inverno carioca tenha cara de verão é que “as frentes frias chegaram ao Sul do Brasil já muito fracas e estavam sendo obrigadas a se deslocar pelo oceano em virtude de um grande bloqueio resultante da circulação geral da atmosfera”, explica o professor. Na verdade, esse bloqueio natural são as massas de ar subtropicais que estão em um constante “confronto” com as massas de ar polares (frias). No Brasil inteiro é comum esse jogo de forças entre as duas distintas massas, só que geralmente a subtropical deixa a polar passar. Nesse inverno, porém, ela estava tão forte e resistente, que impediu a invasão das frentes frias. “As massas de ar subtropicais foram bastante abrangentes, tomando quase todo o Brasil. Isso gerou muitos problemas localizados, como falta de precipitação, baixa umidade, queimadas, entre outros”, esclarece Maia.

Como a umidade do ar está inversamente relacionada com a temperatura do ambiente, o inverno estilo 40 graus enfrentado pelo carioca chegou a ter apenas 20% de umidade do ar nos horários mais quentes de certos dias. Isso pode ocasionar o ressecamento da pele, que constantemente evapora, a sensação de boca seca e problemas oftalmológicos para aqueles que usam lentes. A única prevenção prevista para esses casos é a ingestão de água em abundância, mesmo sem vontade e no que diz respeito aos olhos, especialistas aconselham o uso de “lágrimas artificiais” para a manutenção do umedecimento ocular.

No inverno, mesmo com o céu claro, o índice ultravioleta (UV) – intensidade da radiação UV do sol incidente sobre a superfície – é menor que no verão. O professor Luiz Maia ressalta que o problema é que as pessoas acreditam nessa verdade tão ao extremo que extrapolam o tempo de exposição ao sol. “O problema é o efeito acumulativo do sol na pele. Se você fica um minuto, está recebendo uma certa dosagem. Se você fica dez minutos, aquela dosagem continua entrando, sendo absorvida pela camada superficial da pele”, explica Maia.

A professora Sueli Carneiro da Faculdade de Medicina e Dermatologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), adverte que a exposição ao sol no inverno também causa dano à pele e fotoenvelhecimento. “Se a pessoa considerar que o sol de inverno é bom para a pele  e ficar exposta  por tempo prolongado, pode sofrer queimaduras, aumentar a perda de líquidos, aumentar a velocidade do envelhecimento cutâneo, adquirir dermatoses causadas pelo sol e até cânceres cutâneos”, alerta a dermatologista.

Há uma tendência à diminuição da proteção solar no inverno, porque os dias  são mais curtos, o amanhecer é mais demorado e há sempre uma sensação de que o sol não vai aparecer e se o fizer, terá a característica de "sol fraco". O que se notou, porém, é que a história é bem diferente do que se imaginava. A médica aconselha a redução da exposição ao sol, o uso de protetores solares (físicos e químicos) e de roupas adequadas, e recorda que o maior pecado das pessoas é a não ingestão de líquidos e a irregularidade na rotina do uso de hidratantes e umectantes na pele.

Para aqueles que não resistem à pele bronzeada, mesmo no inverno, e fazem de tudo para manter a pele dourada, doutora Sueli tem a receita ideal que deve ser seguida em qualquer estação do ano. “A pessoa que  se expõe regularmente ao sol por pouco tempo, nas primeiras horas da manhã, com a pele devidamente protegida costuma exibir uma cor bronzeada uniforme e ainda previne a osteoporose, alguns tipos de câncer e algumas doenças do sistema imunológico”.

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