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Edição 047
03 de agosto de 2006

Faces e Interfaces

O Lixo nas grandes cidades

Mariana Elia e Taisa Gamboa

A enorme quantidade de lixo produzida todos os dias não tem destino adequado, já que a maior parte é jogada nos chamados lixões. A miséria e a falta de perspectivas levam pessoas a viverem no entorno desses lixões, comendo os restos e vendendo o que ainda pode ser aproveitado. A coleta de latas é outra forma encontrada para garantir o sustento. Além disso, os dejetos aumentam o número de microorganismos e animais transmissores de doenças. O que fazer com o lixo? O reaproveitamento é rentável ou somente dá vazão a uma pequena parte de todo o resíduo? Para responder essas questões, convidamos o professor Reinaldo Bozelli, do Instituto de Biologia da UFRJ, e a professora Elen Vasques Pacheco, do Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano do Centro de Tecnologia.

 

 

Reinaldo Luiz Bozelli

professor adjunto e biólogo do laboratório de Limnologia do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da UFRJ

“O lixo de que tratamos aqui são resíduos sólidos, de origem domiciliar e comercial, que as pessoas descartam por serem restos de suas atividades ou por considerarem que não tem utilidade. Os dejetos variam de acordo com as características econômicas, sociais e culturais de quem o produz, tendo na sua composição toda sorte de materiais. O lixo brasileiro, de maneira geral, é na sua maior parte composto por matéria orgânica, como restos e partes não aproveitadas de alimentos e de outros vegetais.

No ambiente, ele causa uma grande variedade de problemas que podemos classificar de forma bem ampla como poluição. Exemplos destes problemas são o incômodo visual e o odor. Além disso, o lixo atrai diversos tipos de animais como ratos e insetos, muitos deles transmissores de doenças para o Homem; prejudica o solo e as reservas de água de forma direta; e pode vir a contaminar o ambiente com a liberação de compostos tóxicos presentes em sua composição, tais como os metais.

Os lixões são grandes depósitos onde os dejetos são simplesmente jogados sem o menor cuidado, nem procedimento prévio no local. À medida que começa a apodrecer ocorre a formação do chorume, líquido poluente, de cor escura e odor nauseante, originado de processos biológicos, químicos e físicos da decomposição de resíduos orgânicos.

A elevada carga orgânica presente no chorume faz com que ele seja extremamente poluente e danoso às regiões por ele atingidas. Somado à água das chuvas, esse líquido provoca a lixiviação, carregando os compostos orgânicos, presentes nos aterros sanitários, para o meio ambiente, podendo atingir, inclusive, ambientes aquáticos e os lençóis freáticos, contaminando nossas reservas subterrâneas de água. Quando chega a rios e lagos, o chorume enriquece a água provocando o fenômeno da eutrofização da água. Neste caso o ambiente se deteriora, apresenta mau cheiro, falta de oxigênio e mortandade de peixes.

A queima do lixo é uma forma de lidar com ele, porém, não pode ser feita de qualquer forma e em qualquer lugar, pois gera problemas de contaminação do solo e do ar. Para reduzir estes problemas deve ser realizada em incineradores, onde condições adequadas de queima são atingidas e filtros apropriados minimizam a poluição atmosférica.

Os aterros sanitários são uma boa solução, desde que construídos da forma correta e controlados. A escolha do terreno adequado, sua perfeita impermeabilização, seu manejo correto com o imediato recobrimento do lixo trazido, coleta e tratamento do chorume e, em alguns casos, o aproveitamento dos gases produzidos fazem parte da boa administração de um aterro e garantem a qualidade devida da população que vive ao seu redor. O inconveniente é que eles ocupam muito espaço, mas isso só seria minimizado com mudanças na sociedade capazes de reduzir a quantidade do lixo gerado.

Neste sentido, devemos lembrar que tão importante quanto discutir os aspectos relacionados a correta destinação do lixo é discutir de forma profunda e responsável nossos padrões de consumo, de desperdício e a inconsistência de uma sociedade calcada sobre os descartáveis. É inconcebível que um país como o nosso, desigual, injusto, com bolsões de miséria e fome, tenha um lixo tão abundante, com tanta comida e desperdício energético. Literalmente jogamos no lixo o nosso futuro.”

Elen Vasques Pacheco

Professora do Instituto de Macromoléculas Eloisa Mano

“O aterro sanitário não é a solução, mas um paliativo. A solução para a grande quantidade de lixo produzida é o reaproveitamento, seguindo a regra dos três ‘r´s’: reduzir, reutilizar e reciclar. É possível e necessário reduzir a quantidade de lixo produzida, através de educação ambiental e de políticas públicas. As embalagens de produtos comercializados, por exemplo, podem ser mais leves, sem exigir tanta energia para seu fabrico.

A coleta seletiva, que direciona o material para reciclagem, é fundamental para redução do lixo nas cidades. Quase 100% do lixo pode ser reciclado. Os restos de alimentos servem de adubos para hortas comunitárias. O papel, o plástico e o vidro também podem ser reciclados.

É preciso diferenciar os aterros sanitários, dos aterros controlados e dos lixões. Os aterros sanitários são construídos de forma a controlar os resíduos, através do tratamento do chorume, que só existe quando há um grande acúmulo de lixo, e da compactação dos gases produzidos, a fim de gerar energia. Além disso, o solo, com uma superfície de argila, deve ter pouca impermeabilização. Os aterros controlados são, na verdade, lixões modificados para atender a algumas medidas sanitárias. Neles, não há um controle ambiental tão intenso, mas, por outro lado, não expõem o lixo a céu aberto, como no caso dos lixões.

O Governo não tem recursos para garantir as necessidades básicas, como educação, saúde e segurança, como imaginar que haverá investimento para a gestão de resíduos? E ainda faltam no Brasil profissionais capacitados, com experiência nesse tipo de gerenciamento. Em relação às pessoas que vivem do lixo, a partir do momento em que o poder público tomar medidas de gerenciamento do lixo, com tratamento e controle, elas poderão trabalhar em cooperativas de coleta seletiva e viver de forma mais digna.

A universidade já vem trabalhando nesse sentido, uma vez que diversos trabalhos e pesquisas sobre novas formas de reciclagem e coleta seletiva vêm sendo desenvolvidos. Além de cursos e programas de atualização sobre o tema.”
 

Da mesma forma, os gases produzidos nos aterros controlados e lixões. Mas nos aterros sanitários, tudo é tratado. Os gases são compactados para produção de energia e o chorume é tratado para não poluir os lençóis freáticos.

Os aterros sanitários necessitam de solo com pouca impermeabilização, o lixo deve ser monitorado. É diferente dos aterros controlados, que são lixões com medidas sanitárias."

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