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Edição 045
20 de julho de 2006

Argumento

Perigos aéreos

Mariana Elia

Viajar é sempre uma agitação. As viagens de avião são normalmente justificadas por razões de trabalho ou passeio a cidades distantes do local de moradia. Nesses casos, a preparação para a viagem é ainda mais excitante. O que muita gente esquece, no entanto, é que viagens de avião podem causar algumas perturbações no corpo e, por isso, é recomendável ter atenção a alguns fatores de predisposição.

Segundo Fernando Martins, coordenador do Centro de Informação em Saúde para Viajantes da UFRJ (Cives) e professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da UFRJ, as viagens aéreas são consideradas um dos meios de transporte mais seguros, embora a taxa de fatalidade em caso de acidentes graves seja muito elevada (70 a 90%). Apesar de não ser tão comum o acidente aéreo, o ambiente, bem diferente daquele vivido em terra, pode ocasionar alguns problemas de saúde, como o barotrauma do ouvido médio, a cinetose, o discronismo cicardiano, doenças tromboembólicas e desidratação.

- A atmosfera do avião é sui generis. As aeronaves a jato, em geral, voam a uma altitude entre nove e onze mil metros e mantêm uma pressurização interna de 544 mmHg (equivalente à pressão atmosférica de um local com cerca de 2500 metros de altitude). Neste ambiente, com pressão reduzida, existe apenas 71% do oxigênio disponível em um local no nível do mar (como o Rio de Janeiro) e os gases presentes no organismo tendem a se expandir - explica Fernando Martins. Para uma pessoa saudável, em geral, essa variação é bem tolerada, podendo trazer uma leve dor de cabeça. Mas, quem sofre de doenças cardíacas ou pulmonares deve ter mais cuidado e uma avaliação médica antes da viagem é aconselhada. A ingestão exagerada de bebidas gaseificadas pode trazer incômodos por conta das bolhas de gás expandidas dentro do estômago.

Muitas crianças sofrem com dor de ouvido. Na verdade, todos estão sujeitos ao barotrauma do ouvido médio, mas os mais jovens são mais suscetíveis por suas trompas de Eustáquio (tuba auditiva) possuírem diâmetro menor que a dos adultos. Segundo Fernando, o barotrauma é um dos problemas médicos mais freqüentes nas viagens aéreas e é ocasionado por um desequilíbrio entre a pressão do ouvido e a do ambiente. “O ouvido médio é separado do ambiente pela membrana timpânica e comunica-se com a nasofaringe (e com o exterior), da trompa de Eustáquio”. Quando esta última está bloqueada e não permite a passagem do ar, a pressão no ouvido médio torna-se diferente da exterior. Dor, sensação de plenitude no ouvido (“entupimento”) e diminuição momentânea da audição são os sintomas mais comuns da barotite média, que ocorre mais freqüentemente durante as manobras de aterrissagem.

-A mobilização dos músculos da mastigação e deglutição (bocejar, mascar chiclete e beber pequenas quantidades de líquido) ou o aumento forçado (manobra de Valsalva) suave da pressão do nasofaringe (expiração forçada, com a boca fechada e o nariz bloqueado com os dedos) facilitam a abertura da trompa de Eustáquio, aconselha Fernando Martins. Cinetose, jet lag, desidratação e distúrbios de comportamento são outros riscos comuns.

A cinetose é caracterizada por uma perda temporária da sensação de equilíbrio. Aproximadamente um terço da população é suscetível a esse transtorno, que causa palidez, enjôo, vômito e sudorese. Discronismo cicardiano - mais conhecido como jet lag - é uma espécie de confusão do organismo, causada pela alteração de fusos horários. É recomendável, quando chegado ao destino, que a pessoa se exponha ao sol e adapte o sono ao horário local.

A umidade relativa do ar é muito baixa dentro do avião, tendendo à desidratação e ressecamento da pele e das vias aéreas. Além de um possível sangramento nasal, o passageiro pode sentir sintomas de desidratação, como sonolência, dor de cabeça e irritação. Bem diferentes são os distúrbios de comportamento, que não são tão comuns, mas podem ocorrer. As causas, segundo Fernando Martins, ainda não são claras, mas estresse, impossibilidade de fumar, fobia e ingestão de bebida alcoólica têm sido associados a casos de violência e comportamento sexualizado.

O principal risco, no entanto, é as doenças tromboembólicas. Apesar de não serem freqüentes, são graves e é o que mais preocupa os profissionais da recente Medicina de Viagem. A trombose venosa profunda não é exclusividade das viagens de avião, mas pode acometer qualquer pessoa que permaneça muito tempo na posição sentada. A imobilidade prolongada dos membros inferiores, aliada ao ambiente seco e de baixa pressão, favorece à formação de coágulos nas veias. Existe ainda a possibilidade de desprendimento desses coágulos, o que pode resultar na obstrução de vasos arteriais nos pulmões. “A embolia pulmonar produz falta de ar de início súbito, dor torácica, e nos casos mais graves, diminuição da pressão arterial, causando, por vezes, morte súbita”, comenta Fernando. Mulheres que utilizam anticoncepcionais orais, portadores de doenças hematológicas que aumentam a coagulação, maiores de 40 anos, pessoas que se submeteram a cirurgia recente, entre outros casos, são mais suscetíveis ao desenvolvimento da trombose. Estas pessoas devem procurar um especialista, já que meias elásticas e medicamentos adequados podem auxiliar na prevenção. “A ingestão adequada de líquidos e o exercício com as pernas (flexão, extensão e rotação) durante o vôo são medidas de prevenção importantes”, conclui Fernando Martins.

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