Agência de Notícias da UFRJ www.olharvital.ufrj.br
Edição 042
29 de junho de 2006

Faces e Interfaces

A morte sem explicação

Mariana Granja

A Síndrome da Morte Súbita do Lactente ou “Morte do Berço”, como é mais comumente conhecida, ainda hoje é uma incógnita para especialistas. A síndrome, que acomete bebês de até um ano de idade, provoca a morte como conseqüência de uma falha não diagnosticada nos mecanismos de controle nervoso das crianças. Na Grã-Bretanha, cerca de 300 bebês morrem todos os anos, e na Califórnia (EUA), segundo uma pesquisa norte-americana realizada pela organização Kaiser Permanente, de prestação de serviços em saúde, um em cada dois mil bebês é vítima de "morte no berço”.

Um novo estudo, publicado pelo British Medical Journal, traz novas esperanças e informações aos que temem a síndrome. Segundo o jornal, bebês que dormem chupando chupeta têm 90% menos risco de ter a “morte do berço”, caindo para um em cada 20 mil a sua ocorrência. A eficácia do objeto, entretanto, ainda não está comprovada, e, para discutir mais sobre o tema, duas especialistas falam para o Olhar Vital.

 

 

Miriam Perez F. de Andrade

Coordenadora da Unidade de Neonatologia da Maternidade-Escola da UFRJ

“A síndrome da morte súbita do lactente, como o próprio nome diz, é a morte súbita de uma criança com menos de 1 ano de idade e que permanece sem explicação após história clínica detalhada, exame do local do acontecimento e mesmo após biópsia. É mais comum entre dois e quatro meses de idade.

 A causa ainda é desconhecida. Através de estudos epidemiológicos foram identificados alguns fatores de risco: dormir em decúbito ventral (de barriga para baixo), usar travesseiros macios, estar muito aquecido, fumar na gravidez, prematuridade ou recém-nascido de baixo peso (sem ser prematuro). As campanhas desenvolvidas que estimularam as mães a não colocar os bebês para dormir em decúbito ventral, resultaram em uma diminuição significativa da incidência da morte súbita do lactente nos EUA e outros países.

Muitos estudos atribuem à utilização da chupeta, o desmame precoce do lactente, o aumento da incidência de otite média e a má oclusão dentária. A despeito dessas considerações, quatro estudos recentes concluíram que a utilização da chupeta pelos lactentes durante o sono diminui a incidência da morte súbita. Uma das explicações aventadas é de que a chupeta manteria a permeabilidade das vias aéreas superiores, impedindo a obstrução devido a queda da língua durante o sono.

Acho que, diante do conhecimento atual, seria recomendado evitar a utilização da chupeta no início da amamentação (principalmente nos primeiros quinze dias de vida) para não interferir nessa, e, posteriormente, deveria ser estimulada a utilização de chupeta durante o sono. É importante que não sejam esquecidas as demais medidas preventivas como dormir em decúbito dorsal (de barriga para cima), não usar travesseiros ou protetores macios, não agasalhar demasiadamente o bebê, não fumar na gravidez, que comprovadamente tiveram um impacto na redução da síndrome da morte súbita.”

Luiza Calvano

Professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina e do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira - IPPMG

“A síndrome é a morte do lactente (criança de até dois anos). Nessa síndrome você não consegue explicar a morte por nenhum dado da história, do exame físico, não tem uma causa. A maioria dessas crianças vão para a necropsia, e o estudo da patologia, também não consegue demonstrar nenhuma causa.

Apesar da idade lactente ir até os dois anos, a doença é muito mais freqüente no primeiro ano de vida, principalmente entre dois e quatro meses. Existem vários fatores relacionados, que são considerados de risco. Um deles seria a alteração de amadurecimento do centro respiratório, do controle da temperatura, e até mesmo da parte cardiovascular.

Existe relação da “morte do berço” com a criança que por ventura possa sufocar nos travesseiros ou lençóis, tanto que hoje em dia existem algumas medidas para evitar isso. Existem estudos antigos demonstrando que quando a criança dorme de barriga para baixo a síndrome é mais freqüente do que quando o bebê dorme de costas. Então até nos EUA, e aqui também, já preconizamos que todos os bebês durmam de barriga para cima. É óbvio que vai chegar uma hora que o bebê vai querer dormir de barriga para baixo, mas naquele período em que o bebê assim desejar alguém deve estar atento observando a criança.

O que é preconizado como forma de evitar também a síndrome é não dormir em colchões e estruturas que não são adequadas para a criança, cobrir muito a criança não é bom, nem dormir cheio de almofadas, em sofás muito fofos, porque tudo isso pode levar ao sufocamento, além de poder haver uma re-inalação de um ar já saturado de gás carbônico.

Outro fator de risco é o bebê prematuro, ou ainda, se existe histórico de morte súbita na família. A gente preconiza dormir de barriga para cima, mas o prematuro às vezes tem algumas patologias que contra indicam essa forma de dormir. Às vezes para eles é importante dormir de barriga para baixo para melhor estabilização do quadro respiratório, e até para evitar refluxo. O bebê prematuro, seria portanto um bebê de risco.

Eu, hoje, enquanto neonatologista e pediatra, não recomendo a chupeta. Lógico que a criança tem a fase oral, mas a amamentação acabaria com essa necessidade junto com a satisfação alimentar, complementando. Eu conseguiria encontrar mais contras que prós no uso da chupeta. É obvio que a criança que não pode sugar, que tem uma patologia qualquer e que recebe uma dieta que não passa pela boca, que não suga, precisa ter uma saciedade oral. Então nessa exceção, você poderia preconizar a chupeta, mas não vejo vantagem nenhuma que sirva para ajudar no amadurecimento do sistema nervoso central, porque o movimento que a criança vai fazer de sucção ela faz também quando mama o seio materno. Acho que seriam necessários mais estudos que realmente comprovassem essa eficácia da chupeta.”

Anteriores