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Edição 042
29 de junho de 2006

Argumento

Re-processamento de material médico-hospitalar prejudica hospitais

Mariana Granja

- A cirurgia de catarata que fazemos hoje em cerca de 15 minutos levará uma hora e meia -afirma o professor Alexandre Cardoso, diretor do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), ao discutir sobre a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o re-processamento de material hospitalar. Publicada dia 15 de fevereiro, a resolução nº 30 da Anvisa adota uma série de definições para termos como desinfecção, produto médico de uso único e reutilizável e esterilização. Também define o que é re-processamento de material médico, como “processo de limpeza e desinfecção ou esterilização a ser aplicado a produtos para a saúde, que garanta a segurança na sua utilização, incluindo controle da qualidade em todas suas etapas”.

Esses tópicos não sofrem críticas pelos hospitais. Não até o aparecimento de uma lista com cerca de 75 itens que antes eram re-processáveis e que estão agora proibidos pela Agência, tendo de ser adaptados tornando-se de uso único. Essa lista, segundo o professor Alexandre Cardoso, é composta por equipamentos que incluem desde sondas e cateteres a agulhas de biópsia, pinças e bisturis, peças essenciais no ambiente hospitalar e que não têm necessidade de ter seu re-processamento proibido, como ele afirma. “A nossa argumentação é que foram incluídos itens que a experiência tem mostrado que podem ser reutilizados, como, aliás, vinham sendo feito sem nenhum prejuízo para os pacientes. Deve ser dito que as publicações que nos valemos são as mesmas usadas pela Anvisa para permitir a técnica do re-uso ou re-processamento. Destacamos alguns itens que, a nosso ver, podem sair da lista de proibições por serem seguros, como as pinças, bisturis para cirurgia vídeo- assistidas, Facon para cirurgia oftalmológica e agulhas para biópsia de mama”, alega.

O processo para que ocorra o re-processamento é totalmente seguro e pode ser feito de duas formas. Uma delas é a esterilização por autoclave, através de vapor úmido e muito utilizada em hospitais. A outra maneira é através de firmas terceirizadas que utilizam Óxido de Etileno. “Existem trabalhos publicados que atestam a garantia de qualidade dos métodos mencionados e utilizados. Por outro lado, a experiência do HUCFF com a utilização dessas técnicas tem também referendado as publicações acima”, informa o professor.

A importância dos materiais re-processáveis é enorme, trazendo uma série de benefícios tanto para os médicos como para os pacientes que utilizam os itens. “Esses materiais permitem um encurtamento de tempo cirúrgico, técnicas menos invasivas, e uma morbidade menor. Uma vez existindo segurança (como existe) para o seu re-processamento e reutilização por um certo número de vezes, por que não adotar este caminho?”, explica e o professor Alexandre.

A direção do HUCFF foi convidada a debater, na próxima semana, com a Anvisa, sobre o tema, para rever o conteúdo da resolução. Caso ela não seja revogada, as conseqüências, tanto para o HUCFF quanto para as demais instituições que trabalham com re-processamento de material médico-hospitalar são preocupantes, podendo diminuir a qualidade de atendimento e prejudicar a demanda, pelos processos estarem mais lentos. “A consideração de alguns itens da lista como obrigatoriamente descartáveis, certamente elevará o custo dos procedimentos e inviabilizará seu uso como rotineiro (o que hoje fazemos). Os valores pagos pelos procedimentos, pelo SUS, não cobrem os custos, então teremos que fazer os mesmos procedimentos por técnicas antigas, mais demoradas e com maior morbidade”, finaliza o professor.

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