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Edição 039
8 de junho de 2006

Faces e Interfaces

Namorar não é fácil

Taisa Gamboa

imagem olho no olho

Dia 12 de junho, próxima segunda-feira, é dia dos namorados. As relações amorosas estabelecidas por homens e mulheres não parecem ser tão sublimes quanto a abordagem poética acerca do amor. Uma paquera, um namoro, tudo muito simples e perfeito. Porém, são muitas as questões que permeiam os encontros e desencontros entre homem e mulher, mas o fato é que, é na relação que o ser humano atua e se revela, tornando-se feliz ou triste.

Vários fatores estão envolvidos nas escolhas dos parceiros e na manutenção da relação, e não são poucas as pessoas que procuram ajuda psicológica na tentativa de administrar melhor suas questões nesse tipo de relacionamento. Para esclarecer algumas questões referentes a esse tema, o Olhar Vital convidou a psicanalista Tânia Coelho dos Santos, professora do Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica da UFRJ, coordenadora do Núcleo Sephora de Pesquisa e membro da Escola Brasileira de Psicanálise; e Elizabeth Chacur Juliboni, psicanalista e professora adjunta da UFF.

 

Tânia Coelho dos Santos

Professora do Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica da UFRJ

“Não existe apenas um tipo de relacionamento amoroso, nossos laços são múltiplos. Um homem não ama uma mulher do mesmo modo que uma mulher ama um homem. Uma mãe não ama seu filho do mesmo modo que é amada por ele. Os desencontros entre pessoas que se amam são, portanto, uma regra e não uma exceção. Mas uma coisa é certa, quase todos os tipos de relacionamento são perigosos. É difícil não rimar amor com dor.

Além disso, o que uma mulher busca em um homem é diferente do que o que ele procura nela. Há mulheres que se sentem filhas de seus companheiros; outras os consideram seus filhos, mas geralmente, uma mulher espera que um homem seja uma bússola ou um herói. Entre eles, uma parte as trata como mãe, enquanto a maioria escolhe a companheira pelo desejo sexual.

Essas discrepâncias entre os objetivos de um em relação ao outro é um fator que favorece os desentendimentos. De um modo geral, as mulheres exigem dos homens uma coisa que eles detestam: falar de amor. Os homens amam em silêncio e, como todo mundo sabe, não gostam de ‘discutir a relação’. Isso é sempre perigoso para ambos. O desencontro é freqüentemente uma experiência de devastação.

Os valores pessoais vão mudando com o passar dos anos e em função do amadurecimento de cada indivíduo. Dessa forma, os relacionamentos amorosos se alteram muito de acordo com a idade. Geralmente para pior. As exigências da vida  fazem com que os relacionamentos caiam na rotina e percam o encantamento apaixonado dos primeiros tempos. O trabalho excessivo, a atenção exigida pelos filhos e os problemas financeiros são alguns dos principais fatores responsáveis por estas mudanças.”

Elizabeth Chacur Juliboni

Psicanalista e professora adjunta da UFF

“Quando estamos falando de sujeitos humanos  perdemos a possibilidade de considerar padrões de relacionamentos. Devido ao modo como  somos constituídos não é mais possível pensar em uma tipologia única para as relações, principalmente as variadas manifestações amorosas com as quais nos deparamos em nosso cotidiano. Quando levamos em consideração um casal, onde um investe amorosamente no outro, tudo será resultado da negociação entre as partes.

Não há definição para afeto. A famosa citação que diz que a outra face do amor é o ódio tem fundamento. Essa dualidade está na base de todos os nossos relacionamentos. Se pudéssemos estar avisados  da plasticidade de manifestações que as ligações amorosas comportam, talvez a gente pudesse lidar melhor com o que nos afeta. Ficar esperando que o outro responda ao nosso ideal só será mais perigoso para a saúde do relacionamento.

Apesar das particularidades da feminilidade e da masculinidade, e de alguns aspectos comuns a ambos, o que cada um busca, seja homem ou mulher, não é determinado pelo gênero. Cada mulher e cada homem procura fazer do outro seu objeto de amor em função de sua história, suas escolhas, sua posição subjetiva frente ao mundo. Não há como generalizar.

É claro que com o passar do tempo, os relacionamentos mudam. Se pensarmos na idade, sem analisar o seu sentido cronológico, uma associação amorosa pode mudar em função do tempo a ser percorrido e no qual cada sujeito vai ter que se haver com novas experiências e suas conseqüências. A questão biológica não deve ser levada em consideração, pois a ciência permite uma longevidade e qualidade de vida cada vez maiores. O que deve ser destacado é que o modo como cada um se relaciona amorosamente com o outro é fruto de um percurso de escolhas onde as pessoas constroem seus objetivos e aprendem a lidar com eles ao longo da vida.”

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