• Edição 205
  • 11 de fevereiro de 2010

Faces e Interfaces

As cores podem curar?

Ana Zahner e Cília Monteiro

A maioria das pessoas certamente conhece a aplicação das cores como recurso artístico, utilizado em pintura de telas, decoração ou moda, por exemplo. No entanto, a relação das cores com o ser humano vai muito além da estética: acredita-se que elas podem influenciar no humor, nos sentimentos e até mesmo na saúde. A aplicação das cores na cura de doenças corresponde a uma prática chamada cromoterapia, que é utilizada desde as antigas civilizações. Atualmente, é considerada uma terapia alternativa. 

Porém, são controversas as opiniões acerca das propriedades terapêuticas das cores, principalmente no Ocidente, onde há extrema valorização da medicina complexa. As cores podem de fato mexer com o organismo humano? Para discutir a questão, falar sobre a cromoterapia e as terapias alternativas, o Olhar Vital convidou os especialistas:

José  Mauro Braz de Lima

Diretor do Hospital-Escola São Francisco de Assis (HESFA) 

"Quando enxergamos uma paisagem ou um objeto, o cérebro não assimila apenas a forma, mas também a cor, que tem o poder de remeter à memória e atuar de forma simbólica, podendo alterar as emoções. Por exemplo, a cor preta para muitos representa o luto, que pode provocar desconforto emocional. Trabalhos e pesquisas demonstraram que a cor influencia na vida emocional, não de forma específica e direta, mas certamente possui algum poder de alteração. Existem cores que remetem ao estado satisfatório, mas isso funciona de forma diferente com cada um, pois o mecanismo depende muito das características pessoais e da história de cada indivíduo.  

Se falarmos de cromoterapia, vamos para outra dimensão. É preciso muito cuidado quando se contextualizam as cores como tratamento, pois, nessa escala, o objetivo da terapia não pode ser curativo, mas sim complementar. Não há patologia humana curável através da cromoterapia; no entanto, esta pode ser um recurso que faz parte de uma série de fatores que podem ajudar como coadjuvante ao tratamento dos médicos especialistas. Terapias alternativas, como a cromoterapia, fazem parte do que chamamos de atenção básica à saúde. 

O HESFA possui uma peculiaridade em relação aos demais hospitais universitários: enquanto outros estão focados apenas numa medicina muito complexa, típica do padrão ocidental, ele se preocupa, em termos de saúde pública, com a atenção básica. Há grande demanda por cuidados primários e contínuos e, de fato, o indivíduo atendido como um todo obtém melhor recuperação. O HESFA é marcado por essa estratégia de atendimento, além do cuidado de alta, média e baixa complexidades.  

Temos o setor de Terapias Complementares, mas é importante saber que ele não substitui o atendimento médico, e sim complementa. Essas terapias podem, por exemplo, auxiliar um paciente de depressão a reduzir sua dosagem de medicamentos. Elas fazem parte de um tratamento amplo, holístico, de atenção global. E os resultados qualitativos são satisfatórios.  

Destaco que houve um curso de medicina indiana no HESFA. Não somos um país oriental, mas queremos aproveitar o que dá certo, sempre com cuidado crítico. Até o século XX, a atenção estava voltada para a doença, muito por influência dos Estados Unidos e da Inglaterra, que valorizam técnicas terapêuticas avançadas. Como professor de Medicina, percebi que é necessária uma visão mais abrangente, que inclua prevenção, atenção à saúde e resolutividade.  

Constatei que a atenção básica de saúde não recebe o devido tratamento. Ela tem que ser dada com mais complexidade, pois, quando bem-feita, é importante até para a redução de agravos nos pacientes. E também é uma forma de reduzir custos excessivos com a medicina terciária, como remédios e exames.  

E há uma questão econômica maior: o sistema de saúde se tornará inviável só  pela medicina mais complexa, que é de alto custo. Prevenção e atenção básica são fatores econômicos também."

Jurema Gouvea

Enfermeira do setor de acompanhamento pré-natal e coordenadora acadêmica do Ambulatório de Terapias Complementares do HESFA  

“A cromoterapia é uma das terapias que a gente chama de complementares. Isso porque ela vem somar, ou seja, pode ser usada com qualquer outro tipo de tratamento. Baseia-se na amplitude de raios: cada cor tem um espectro e alcance dentro de determinado órgão. Essas terapias influenciam os centros principais de energia do nosso corpo, que são os chacras; e cada chacra responde por uma área do corpo.  

A cromoterapia trabalha então determinados órgãos, equilibrando os chacras. Cada um dos sete principais chacras é simbolizado por uma cor que corresponde ao tratamento na cromoterapia. Por exemplo, uma pessoa rancorosa, que não lida bem com as dificuldades da vida, tem que trabalhar o chacra cardíaco, que é o da emoção. As luzes que correspondem a esse chacra são o verde e o rosa. Mas não usamos somente essas duas neste caso. O que fazemos é analisar os chacras em desequilíbrio, no corpo todo, e tentar balancear todos os centros energéticos.  

Por exemplo, a pessoa com muita raiva contida pode ter prisão de ventre, já que tem dificuldade de eliminar as coisas ruins. Aí trabalhamos com os chacras do plexo solar, das funções biológicas. Assim, ao trabalhar o equilíbrio de todo o organismo, a pessoa responde melhor ao tratamento convencional.  

No início do tratamento os pacientes têm uma entrevista inicial com profissionais especializados em cromoterapia. Eles expõem suas queixas e são feitas associações dos fatores que podem estar ligados àquele sintoma. É visto todo o contexto em que a pessoa está inserida, para compreender aqueles fatores. Então, além da entrevista, fazemos uma avaliação pendular (com um pêndulo) para ver a situação dos chacras, se estão desequilibrados e quais. Juntando os sintomas verbalizados pelo paciente e a análise de chacras, fazemos o atendimento que possa contemplar o máximo possível a resolução daquele problema.  

O tratamento é  feito com equipamento de luzes, que são jogadas em cima dos chacras. Mas também funciona com cores de roupas e ambientes. O laranja e o amarelo, por exemplo, são muito usados em restaurantes, pois estimulam o apetite. Os hospitais, também, já não usam muito o branco, pois ele reflete as energias. Ou seja, é bom porque as energias ruins são afastadas, mas também as boas não chegam aos pacientes. Os centros de saúde têm usado então cores mais calmas, como azul, amarelo e verde claros.  

O que tentamos fazer é equilibrar todos os chacras, dando ênfase àquele que está  mais perturbado. É o efeito visual e o efeito do espectro de ação da cor que propiciam o equilíbrio. Utilizamos a cromo não só como tratamento complementar, mas muitas vezes pessoas procuram o HESFA porque ouviram um amigo falar bem do tratamento, e mesmo sem precisar de medicação elas vêm fazer a cromoterapia.”