• Edição 200
  • 03 de dezembro de 2009

Microscópio

Universidade abre as portas para ouvir especialistas de diferentes áreas sobre o crack



Fórum é o pontapé inicial para o desenvolvimento de pesquisas contra a droga

Thiago Etchatz

Numa iniciativa inédita, a UFRJ abre as portas para ouvir especialistas das áreas médica, jurídica, social e da mídia sobre a dependência química causada pelo crack. O objetivo do fórum “Crack – Destruição Progressiva da Sociedade: a Academia Pode Ajudar?”, promovido pelo Programa de Desenvolvimento de Fármacos do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB/UFRJ), é trazer para a universidade diferentes olhares sobre o problema da droga a fim de solucioná-lo a partir do desenvolvimento de pesquisas.

“Temos a preocupação de desenhar moléculas, estudar as suas atividades para causar coisas boas. Então, temos que agir quando causam coisas ruins. Há a possibilidade de atuarmos nesse processo. Por isso nasceu a ideia do fórum”, constata Roberto Takashi Sudo, professor titular do Programa de Desenvolvimento de Fármacos do ICB e coordenador do fórum.

Boom do crack

Para o professor, nesse primeiro momento, a universidade não possui experiência para desenvolver algo contra o crack, que teve ultimamente crescimento exponencial do consumo nos grandes centros urbanos, principalmente entre jovens de 11 a 25 anos. Segundo o psiquiatra Jorge Jaber, especialista no tratamento de dependentes químicos, em cerca de 18 meses houve um crescimento de 70% no número de pacientes que procuram atendimento para se tratar da dependência do crack nas duas clínicas em que ele administra na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

De acordo com o doutor Roberto, a explicação para tal crescimento se deve a dois fatores fundamentais. “O primeiro é o preço; é uma droga bem mais barata por causa das impurezas (em média, a pedra de crack custa R$ 5,00). O segundo é a velocidade de ação. Quando se usa a droga por via inalatória, o crack é fumado, a distribuição do princípio ativo é muito rápida, da mesma forma que a eliminação do efeito, a sensação de bem-estar.”

O vício acompanha a rapidez do efeito da droga. O seu consumo causa aumento do ritmo cardíaco, as pupilas se dilatam e a pressão sanguínea e a temperatura corporal sobem. O usuário se sente inquieto, ansioso e irritado, se tornando agressivo, paranoico ou mesmo fora da realidade. As principais consequências do consumo da droga são problemas cardíacos, parada respiratória, derrames ou infartos. A combinação com o álcool, não raramente, é fatal.

Como a Academia pode ajudar

Com o fórum, “a universidade toma a posição de escutar. Queremos obter informação de um psiquiatra, jornalista, promotor,.pessoas que lidam com o mesmo problema, mas com diferentes olhares. Vamos indagá-los sobre o que esperam da Academia para que possamos desenhar as ações mais efetivas para a resolução do problema daqui a dois, três anos. Faremos uma série de atividades para colocar a Academia no ponto máximo do conhecimento sobre a questão dos efeitos da parte da farmacologia, da toxicologia”, analisa Roberto Sudo.

O professor argumenta que a utopia seria desenvolver algo em termos de atuação biológica, para que as moléculas pudessem fazer com que o indivíduo não sentisse o bem-estar provocado pelas drogas. “Dentro do Programa de Desenvolvimento de Fármacos temos colegas que fazem a parte da química medicinal, mexem com moléculas. Se soubermos o alvo em que essas moléculas atuam, poderemos antagonizar o efeito da droga”, afirma Roberto. Uma das metas dos pesquisadores do ICB é analisar as substâncias que compõem o crack em equipamentos especializados, para ver quais os seus princípios ativos.

Depoimento de quem vivenciou o problema

Uma das palestras do fórum será ministrada por Carlos Rosa, que relatará a própria experiência. “É uma pessoa que está recuperada e hoje trabalha ajudando as áreas de reabilitação. Ele nos dará a dimensão exata do que a droga é capaz, quais as alterações biológicas, psicológicas que isso pode criar no indivíduo, e a dificuldade de se livrar dela”, constata Sudo.

Serviço

O fórum “Crack – Destruição Progressiva da Sociedade: a Academia Pode Ajudar?” acontece na segunda-feira, 7 de dezembro, das 9h30 às 12h30. Entre os palestrantes estão Marcos Kac, promotor de Justiça, Carlos Costa, da Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia, Tyndaro Menezes, produtor de reportagem da TV Globo, e o psiquiatra Jairo Werner.

O evento é aberto ao público e ocorre no auditório da Farmacologia, localizado no primeiro andar do bloco J do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ (avenida Carlos Chagas Filho, 373, Cidade Universitária).