• Edição 196
  • 5 de novembro de 2009

Ciência e Vida

Estudo revela os efeitos dos ácidos graxos e dos óleos vegetais no organismo



Ana Paula Monte - AgN/CT

Entender a composição e os efeitos que os ácidos graxos e os óleos vegetais podem ter nos alimentos e no organismo do consumidor. Esse é o objetivo do estudo “Metabolismo e bioatividade de ácidos graxos de alimentos para seres humanos in vivo”. O projeto de pesquisa desenvolvido desde 2006 pelo professor Alexandre Guedes Torres, do Instituto de Química da UFRJ, é apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj).

“Esse projeto é composto por dois subprojetos. No primeiro, estamos estudando os isômeros de CLA (ácido linoleico conjugado) e seus efeitos no ser humano. Eles podem estar relacionados à obesidade, diabete e a uma série de outros efeitos biológicos”, relatou Alexandre. O segundo projeto consiste em um estudo sobre os ácidos graxos e os topós presentes em óleos vegetais, fontes ricas em vitamina E. “Os topós são compostos dos quais fazem parte a principal forma de vitamina E na alimentação. Iremos verificar como esses elementos podem se relacionar com a capacidade antioxidantes dos óleos.”

Os isômeros de CLA estão naturalmente presentes em lacticínios. Por isso, foram analisadas amostras destes produtos vendidos por grandes indústrias no mercado a varejo do Rio de Janeiro. “Estamos medindo a concentração dos isômeros de CLA em lacticínios durante as diferentes estações do ano. Dessa forma, poderemos investigar os efeitos do metabolismo do CLA no organismo humano e como estes podem estar relacionados com a chamada Síndrome Metabólica”, explicou o professor. A síndrome metabólica é um conjunto de fatores de riscos para algumas doenças, como, por exemplo, a diabete.

Resultados e próximos passos

Até o momento, os resultados das pesquisas foram surpreendentes. O estudo relevou que a concentração de CLA nos lacticínios consumidos no Rio de Janeiro é muito parecida com a da produção de leite de vaca na Europa. “A dieta dos animais europeus é bem mais variável do que a dos animais brasileiros. Eles quase nunca vão aos pastos nos períodos frios, e durante essa época passam a se alimentar de rações. Por isso ficamos surpresos em encontrar composições tão semelhantes, já que as alimentações são distintas”, frisou o professor.

Além disso, os estudos constataram que também existe uma variação de CLA em lacticínios durante as estações do ano. “Não esperávamos que a concentração de CLA fosse ser tão diferente ao longo do ano. Nossa variação climática é bem menor comparada à da Europa, mas ainda assim, como ocorre lá, a concentração de CLA praticamente dobrou na primavera, se compararmos ao período do inverno”, destacou Alexandre.

Já em relação aos óleos vegetais, os resultados das pesquisas não causaram grandes surpresas. “Analisamos os óleos mais consumidos no Brasil, como a soja, o milho, a granola e o girassol, e as composições encontradas estavam dentro do esperado”, revelou o professor.

O próximo passo para esse estudo é a tentativa de ajustar um modelo matemático que explicaria a capacidade antioxidante dos óleos. “Conhecendo a composição química dos óleos, poderíamos entender e dar uma aplicação prática para a sua capacidade antioxidante. A esperança é de que no futuro essa nova função possa ser desempenhada em teste de controle de qualidade dos óleos”, finalizou Alexandre.