• Edição 182
  • 30 de julho de 2009

Por uma boa causa

Ecstasy: a ilusão do prazer

Cília Monteiro


A “droga do amor”. Assim é conhecido o ecstasy, tema que encerra a série do Por uma boa causa de julho, sobre dependência química. Em forma de comprimidos ou cápsulas, é um entorpecente muito consumido nas festas rave, que costumam durar mais de doze horas, embaladas por músicas eletrônicas. “A sensação de quem consome ecstasy é de extremo prazer. O corpo fica leve, como se fosse flutuante. O usuário não tem sono e dança inesgotavelmente”, descreve Magda Vaissman, professora do Instituto de Psiquiatria (IPUB) da UFRJ.

De acordo com Magda, a utilização da droga ocorre desde a década de 1990, geralmente em ambientes com música, pois combinam com a euforia causada pelo consumo. “Com o uso, há uma grande liberação de serotonina, substância que atua no centro de recompensa no cérebro, provocando sensação de profundo bem-estar. A dependência faz com que o indivíduo sinta necessidade de sempre buscar esse reforço positivo da droga”, explica.

Entretanto, quem utiliza ecstasy talvez não calcule os numerosos malefícios à saúde que a droga pode trazer. “Causa aumento dos batimentos cardíacos e da pressão arterial. Provoca hipertermia, que eleva a temperatura do corpo, levando à desidratação. Mesmo algumas semanas após o último consumo, o usuário pode sofrer confusão mental, depressão, problemas de sono, ansiedade e paranoia”, indica a professora. Entre os efeitos crônicos estão prejuízos à memória, consequências na regulação das emoções e distúrbios do comportamento.

Morte em único uso

Segundo a psiquiatra, uma das diferenças entre o ecstasy e outras drogas está no tempo de ação no organismo. “Substâncias de ação rápida, como cocaína e nicotina, são as que mais causam dependência sujeita à síndrome de abstinência. O efeito do ecstasy não é assim, leva de três a seis horas para ocorrer e sua eliminação também é lenta”, aponta.

No entanto, ela alerta: a droga causa grande dependência psicológica. Além disso, o usuário pode também apresentar uma síndrome de abstinência menos visível, caracterizada por depressão profunda no dia seguinte ao uso. “Em um dizer vulgar, essa é uma droga neurotóxica. Comparada a outras, tem maior capacidade de estragar o cérebro. O consumo de ecstasy pode criar uma destruição neuronal, possivelmente irreversível”, adverte Magda.

Pior que isso, o uso da substância pode ser fatal. “É possível que a morte ocorra numa única noite de uso, se dando por hipertensão, falência cardíaca ou renal”, relata. Infarto do miocárdio, convulsões e morte súbita são resultados da overdose de ecstasy.

Tratamento difícil

Não existe fórmula de tratamento específica para a dependência de ecstasy. “Buscamos que o paciente entre em abstinência ou pelo menos reduza o consumo, o que chamamos de diminuição de danos”, diz a especialista.

É um tratamento paliativo, que pode ser auxiliado por calmantes ou tranquilizantes. “Mas o principal são ações psicossociais: trabalhos motivacionais, busca da prevenção de recaída, modificação de hábitos de vida e participação em grupos de autoajuda. Além disso, é preciso mostrar ao usuário os danos que a droga está causando ao seu organismo”, constata.

A professora informou que atualmente o consumo de drogas sintéticas (produzidas em laboratório), como é o caso do ecstasy, vem crescendo bastante. “O nível de apreensão está bem maior, apesar de ser um tráfico internacional, que não envolve plantio e cultivo, como no caso de outras drogas. É um tipo de tráfico diferente, que não ocorre em morros e favelas. É praticado por jovens de classe média e também se dá pela internet”, afirma. Segundo ela, esse tipo de substância está começando a ser produzido no Brasil. Magda Vaissman atentou para o surgimento de outras drogas sintéticas, como o crystal meth e o special k, também perigosas.