• Edição 171
  • 14 de maio de 2009

Notícias da Semana

O que esperar das Ciências Biomédicas?

Cília Monteiro

Como parte das comemorações dos 40 anos do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da UFRJ, aconteceu na segunda (11/5) o debate “O que a sociedade espera das Ciências Biomédicas?”. O primeiro palestrante foi o professor Jorge Almeida Guimarães, presidente da Capes.

Jorge considera um desafio provocativo a indagação que deu título à palestra. “Digo de antemão que nossa sociedade quer desfrutar de um presente socialmente justo, o que só pode ser alcançado com educação, ciência e tecnologia”, declara Almeida.

O professor destacou que podem ser esperadas profundas mudanças para a saúde. “Até o fim do século, virão novos conhecimentos na área da genética, substituição de órgãos, talvez com células-tronco, novos equipamentos, novas vacinas, e até mesmo a cura de Alzheimer, câncer, diabetes e Aids”, sugere Jorge.

Ele também propôs a descoberta de alguns ferormônios que provocarão mudanças radicais em muitas sensações humanas, inclusive na esfera sexual. “Sensores especiais e a realidade virtual poderão possibilitar a realização de um novo ato sexual”, apontou.

— Como resultado do progresso e avanço tecnológico neste novo século, não haverá mais lugar para convivência de indivíduos em alto índice de analfabetismo científico. Esse é um desafio — concluiu Jorge.

Olhar o passado e imaginar o futuro

Para Luiz Eugênio Mello, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), definir o que a sociedade espera é uma tarefa impossível. “São questões que envolvem várias dimensões éticas, como o mapeamento genômico. É preciso levar à população os prós e os contras que cada avanço científico pode trazer consigo”, expõe.

Ele acredita que a produção científica brasileira alcançou um novo patamar. Segundo Luiz, o índice de publicações brasileiras na ordem mundial aumentou de 2 para 2,2 por cento. “É preciso olhar para o passado para imaginar o futuro. É necessário dar saltos em qualidade, já que se está avançando em quantidade de artigos”, constata Luiz.

— Mesmo que não se descubram muitas curas, ao entendermos relações de causa e consequência através das pesquisas, podemos facilitar a vida das pessoas. Esse é um ponto fundamental nas nossas ações dentro das Ciências Biomédicas — argumenta. — É essencial que se busque uma sociedade mais justa e uma vida com menos sofrimento. Para isso é preciso que sempre se contribua na educação — concluiu Luiz.

O que os leigos esperam?

— Enquanto Jorge fez uma previsão de futuro e Luiz fez uma crítica à ciência brasileira, que ainda tem que melhorar, eu, como médico, cirurgião, vou falar de outro aspecto: “Qual a expectativa de um leigo?” — indagou Marcos Moraes, diretor-geral do Instituto Nacional do Câncer (Inca), iniciando seu discurso. Ele acredita que a sociedade espera das Ciências Biomédicas uma melhor qualidade de vida e a cura de doenças, por exemplo.

No entanto, segundo Marcos, a maioria da população não possui conhecimento sobre o que exatamente é a pesquisa biomédica. Ele explicou procurando traduzir em dinheiro o que significa. Como base, utilizou o trabalho “Measuring the Gains from Medical Research” (“Mensurando os Lucros da Pesquisa Médica”), de Kevin M. Murphy e Robert H. Topel. A pesquisa buscou o valor econômico das melhoras na área da saúde.

Marcos citou o aumento da expectativa em 30 anos de vida como fruto dos investimentos na saúde. “Em 1900, 18 por cento dos homens morriam no primeiro ano de vida. Em 2000, o índice de mortalidade não atingia 18 por cento dos homens aos 68 anos. É uma inversão”, relatou. Também lembrou da redução na mortalidade infantil, que em 100 anos teve queda de em 95 por cento.

Os avanços da medicina também reduziram mortes por doenças infecciosas e cardíacas. “Em 30 anos, segundo dados da pesquisa, economizou-se 95 trilhões de dólares com o investimento americano na saúde”, exemplifica. De acordo com Marcos, a redução de doenças e da mortalidade evita prejuízos na economia, pois além de uma doença não curada custar caro, a mortalidade faz com que se tenha menos gente produzindo dentro do país.

Além das descobertas científicas, é preciso que a população também faça sua parte. “Para se reduzir doenças crônico-degenerativas, 85 por cento do processo depende do estilo de vida”, aponta. Marcos concluiu sua palestra citando uma frase de Mary Lasker: “Se você pensa que pesquisa custa caro, experimente doença”.




Cerimônia de posse na direção do Instituto de Bioquímica Médica



Cília Monteiro


A comunidade acadêmica compareceu em peso à cerimônia de posse nos cargos de direção do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ, realizada na última terça (12/5), no auditório Leopoldo de Meis. Débora Foguel foi novamente nomeada como diretora, assim como Mário Alberto Cardoso da Silva Neto também foi renovado no posto de vice-diretor.

— Queria cumprimentar o Instituto de Bioquímica por dois motivos: primeiro pela conclusão de quatro anos de um brilhante mandato; segundo pela certeza de que vão existir mais quatro anos para aprimorar e melhorar ainda mais a gestão, embora pareça impossível — declarou Almir Fraga Valladares, decano do Centro de Ciências da Saúde (CCS), ao abrir os trabalhos.

A doença dos sonhos

Débora Foguel, em vez de falar sobre as conquistas do IBqM ao longo do tempo em que já esteve na direção da unidade, optou por focar seu discurso em sonhos para o futuro. “Estar à frente de uma instituição só faz sentido se quem dirige estiver contaminado de prazer, contagiado de entusiasmo e doente de muitos sonhos e expectativas. São esses os germes necessários e essenciais para alimentar a disposição pelo ‘fazer acontecer’”, declarou.

— Denominei de doença a capacidade de sonhar, de se entusiasmar com os novos desafios e de acreditar que, juntos, podemos e devemos fazer tudo aquilo que nos parece bom, seja para a instituição, para nossa universidade, seja para a sociedade — explicou a diretora.

Ela garantiu que para esse mal não quer conhecer a cura. “Pelo contrário. Procuro acima de tudo ‘contagiar’ meus pares e amigos do Instituto. Durante esses primeiros dois anos tive a sorte e a honra de interagir com pessoas até mais doentes do que eu, cronicamente doentes, e que fazem desta universidade um lugar especial e que vale a pena”, observa.

— Doente grave de sonhos foi e é o professor Leopoldo de Meis, quando há mais de 30 anos guiou sua nau rumo ao Departamento de Bioquímica Médica. Leopoldo é certamente um doente crônico, incurável e altamente contagioso, desses que nem numa bolha de plástico deixa de disseminar os germes de sua doença — brincou Débora Foguel.

Ela também considera doentes de sonhos o biólogo Francisco Esteves e seu grupo. “São aqueles que, no passado, semearam Macaé, que cresceu e já desponta como importante polo de ensino, pesquisa e extensão”, aponta. Ainda citou mais enfermos: os criadores do polo de Xerém, o reitor e a vice-reitora da UFRJ, os pró-reitores, o prefeito da Cidade Universitária e os presidentes e diretores científicos de agências de fomento.

Desafios da educação

Para Débora, no momento está sendo colocado a professores e funcionários um dos maiores desafios da universidade: tornar-se uma instituição de acesso democrático, que deve crescer sem perder a qualidade. Além disso, a diretora acredita que há um desafio na educação de modo geral. “Precisamos diminuir os vergonhosos índices: 40% dos jovens entre 15 e 19 anos estão fora do ensino médio; 87% dos jovens entre 18 e 25 anos não estão na universidade; e os outros 99,5% estão fora do sistema de pós-graduação”, revela.

Seu trabalho à frente do IBqM certamente contribuirá para enfrentar tais desafios. “Tudo que fiz pelo Instituto foi norteado por um ensinamento de meu amigo e inspirador, o professor Adalberto Vieyra: ‘Se quiseres chegar rápido, vá sozinho; se quiseres chegar longe, vá junto; mas se quiseres chegar a lugar nenhum, procura ir com todos que não querem sair do lugar.’ Tomei esses dizeres como minha bíblia. E o que fiz nesses dois anos foi tratar de manter vivo o germe da tal doença do sonho e realizar algumas melhorias no Instituto”, concluiu Débora Foguel.

Sylvia Vargas, reitora em exercício da UFRJ, encerrou a cerimônia. “A UFRJ está absolutamente convicta de que esta direção, hoje reconduzida, não só repetirá a mesma dimensão da primeira gestão, como também poderá superá-la, pois está perfeitamente preparada para enfrentar os próximos grandes desafios”, concluiu Sylvia. Também compondo a mesa estivam o prefeito Hélio de Mattos e Ana Inês Souza, superintendente-geral de extensão, representando a pró-reitora de extensão, Laura Soares.