• Edição 166
  • 02 de abril de 2009

Saúde em Foco

Plantas transgênicas na prevenção da Aids

Espécie infectada por vírus modificado produz proteína capaz de impedir entrada do HIV nas células

Thaís Fernandes

Um novo método permitirá a produção em larga escala de uma substância que poderá ser usada no desenvolvimento de um gel barato e eficaz para evitar a transmissão da Aids pelo contato sexual. Pesquisadores dos Estados Unidos e da Inglaterra usaram uma planta contaminada por um vírus geneticamente modificado para sintetizar uma proteína que impede a infecção das células pelo HIV.

Existem muitas substâncias obtidas por meio de engenharia genética que inibem a entrada do HIV nas células. Um dos mais potentes inibidores é a proteína griffithsina, isolada da alga vermelha Griffithsia. Mas o uso dessa substância como microbicida esbarrava na dificuldade e no alto custo de sua produção em laboratório, feita por meio de microrganismos.

Agora uma equipe liderada por Kenneth Palmer, da Escola de Medicina da Universidade de Louisville (Estados Unidos), usou a planta Nicotiana benthamiana, um parente próximo do tabaco, para sintetizar uma proteína idêntica à griffithsina. O grupo modificou o vírus mosaico do tabaco com um gene da proteína e infectou 9.300 plantas cultivadas em uma estufa de 464,5 m 2 .

As plantas modificadas acumulam em um quilo de suas folhas mais de um grama de proteína recombinante, o que permitiu aos pesquisadores extrair mais de 60 gramas da substância. Essa taxa de expressão da proteína é significativamente mais alta do que a obtida por meio de microrganismos ou do que os níveis de outras proteínas anti-HIV produzidas a partir de plantas.

“Essa taxa é suficiente para a produção de microbicidas em larga escala e a baixo custo”, diz Palmer à CH On-line. E acrescenta: “Achamos que será possível produzir cada dose da proteína por centavos, talvez o mesmo custo de uma camisinha masculina.”

Inibidor amplo e potente

Em testes feitos em coelhos e amostras de tecido cervical humano, os pesquisadores comprovaram a atividade da proteína produzida pela N. benthamiana contra vários subtipos do vírus HIV-1. “A molécula talvez seja o mais potente inibidor da entrada do HIV já descrito e é específica para esse patógeno”, destaca Palmer.

Para evitar a transmissão do HIV, a proteína se liga a moléculas de açúcar que o vírus usa para se disfarçar do sistema imune. Dessa forma, ela impede a interação do HIV com as moléculas CD4 (presentes na superfície de alguns linfócitos) e com receptores que permitem a entrada do vírus nas células humanas. A inativação do HIV ocorre quase imediatamente após seu contato com a proteína.

Segundo Palmer, a griffithsina produzida pela N. benthamiana tem atividade de amplo espectro contra os subtipos A, B e C do HIV. “Isso indica que ela deve funcionar contra vírus presentes nas principais áreas do mundo”, afirma.

Os resultados da pesquisa, publicados na revista PNAS desta semana, também mostraram que a proteína recombinante é estável em diversas condições físicas e não causa irritação ou inflamação. Além disso, diferentemente de outras proteínas extraídas de plantas, ela não induz a ativação e divisão de linfócitos humanos, o que poderia aumentar o risco de entrada do HIV – em vez de prevenir sua transmissão –, já que os linfócitos são os alvos do vírus.

A griffithsina tem ainda a vantagem de não ser usada atualmente como droga antirretroviral. Isso diminui a chance de que ela promova a resistência do vírus e permite seu uso contra infecções resistentes a múltiplas drogas.

O grupo agora vai identificar uma formulação adequada para o emprego da proteína como microbicida. “Estamos investigando formas de dosagem sólidas, pois acreditamos que serão mais populares entre as mulheres”, diz Palmer. Segundo o pesquisador, os testes clínicos devem começar nos próximos dois anos e, depois disso, ainda deve levar pelo menos cinco anos até que o microbicida esteja pronto para comercialização.

Ciência Hoje , Editoria Notícias - Biotecnologia

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