• Edição 165
  • 26 de março de 2009

Por uma boa causa

Um café para acordar

Cinthia Pascueto - AgN/PV

Muitas pessoas tomam café para se manterem acordadas. Outras evitam consumi-lo após determinado horário, para evitar a insônia. Mas... Café realmente diminui a sensação de sonolência? Respondendo a essa pergunta, o Olhar Vital encerra a série “Café e Saúde”, tema do mês de março na editoria Por uma Boa Causa.

Segundo Antônio Egídio Nardi, psiquiatra e professor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, essa preocupação tem, sim, fundamento: “O café diminui a sonolência, melhora a concentração e o estado de alerta”, afirma o especialista, que confere essa característica também a outras substâncias: “Apesar de o café ser uma bebida que tem a maior concentração de cafeína, essa substância está presente no chocolate, em alguns remédios para enxaqueca, refrigerantes, alguns tipos de chás”, disse Nardi, que inclui nessa lista bebidas e suprimentos energéticos. “São concentrados de cafeína com glicose. Isso, é claro, aumenta a capacidade da pessoa de ficar em alerta”, explica.

De que modo o café me mantém acordada? De acordo com Antônio Nardi, a principal hipótese é a de que a cafeína apresenta um efeito dopaminérgico – o aumento da função de um neurotransmissor responsável pelo estado de alerta e pela capacidade de concentração: a dopamina. “Estudos indicam que, provavelmente, a cafeína estimula a produção cerebral de dopamina”, disse o neurologista. No entanto, a produção excessiva desse neurotransmissor pode não ser tão positiva. “A pessoa começa a apresentar sintomas como dificuldade de concentração, insônia, quadros de ansiedade, expectativa ruim de que algo vai acontecer”, enumera o especialista, que aponta sintomas físicos como tremores, urgência urinária, dor de cabeça, palpitação e dificuldade de relaxar como possíveis consequências do excesso de cafeína.

Como já vimos na matéria Loucos por Café?, o excesso pode sim trazer prejuízos. Em relação ao sono não é diferente. “O ideal é não exceder 150mg por dia”, afirma Nardi. Afinal, o café pode agravar não apenas problemas do sono, mas também outros tipos de distúrbio. “Em geral a intoxicação por cafeína leva à dificuldade de iniciar o sono, chamada insônia inicial, e faz com que o indivíduo acorde muitas vezes durante a noite, que tenha um descanso interrompido, superficial”, descreve, lembrando de pesquisas recentes nas quais observou que o teste da cafeína provoca sintomas semelhantes ao de um quadro de ansiedade patológica.

Cafeína e saúde mental

Antônio Nardi participa de estudos relacionando a cafeína a quadros patológicos de ansiedade, depressão e transtorno de pânico, como “Caffeine challenge test in panic disorder and depression with panic attacks”, de 2007, e “A caffeine challenge test in panic disorder patients, their health first-degree relatives and healthy controls”, de 2008, que indicam a relação existente entre pacientes com esses distúrbios e o consumo de cafeína.

Segundo o professor, pessoas com outros distúrbios que não o sono, principalmente transtornos de pânico e de ansiedade generalizada, têm o quadro agravado pelo uso da cafeína. “Chegamos a recomendar a alguns pacientes que parem com o consumo de cafeína.” Nardi reconhece a dificuldade de reduzir o uso dessa substância, pois outros alimentos, como aqueles que listamos no início da matéria, contêm cafeína. Além disso, pessoas com ansiedade frequentemente não associam o abuso desse consumo com a piora dos sintomas. “No entanto, há a melhora do quadro clínico e da resposta terapêutica do paciente com a simples redução do uso da cafeína, fazendo com que ele tenha melhora na qualidade de vida”, afirma o especialista.

Quem pode com o café?

- A intoxicação pela cafeína em qualquer indivíduo não é saudável -, reforça o médico.  Por outro lado, se perceber alterações comportamentais e psicológicas a partir do consumo da cafeína ou qualquer outra substância, está mais do que na hora de procurar um especialista.

- Nesses casos, a pessoa deve não somente evitar a cafeína como procurar tratamento específico, que pode envolver não apenas remédios e terapia, mas também mudança na qualidade de vida: técnicas de relaxamento, atividade física regular, meditação. Esses hábitos melhoram muito o quadro de ansiedade do indivíduo -,,  recomenda Antônio Egídio.

Pessoas que apresentam outras formas de sensibilidade ao café, como insônia, também devem tomar certas precauções. “Uma dica é evitar o consumo de café à noite ou até mesmo no final da tarde, por volta de 16h”, aconselha o professor, que ressalta: “A pessoa tem que se conhecer para saber se é vantajoso ou não para ela o consumo da cafeína.”

O café, portanto, é um alimento saudável, com vasta quantidade de nutrientes e que traz uma série de vantagens para a pessoa que o consome – como vimos ao longo do Por uma Boa Causa deste mês. Contudo, todos os especialistas com quem conversamos foram unânimes ao destacar o perigo do excesso. Em caso de qualquer reação à cafeína, os entrevistados recomendam: suspenda o uso, procure um especialista e informe-se!

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