• Edição 164
  • 19 de março de 2009

Microscópio

UFRJ inaugura laboratório de Ressonância Magnética

Sofia Moutinho

Quando ouvimos falar em ressonância magnética, geralmente a associamos a algum exame médico, porém a técnica é utilizada por diversas áreas, como física, biologia, agricultura, indústria petrolífera, farmacêutica e de produtos naturais. A Ressonância Magnética Nucelar (RMN) chegou ao Brasil em meados dos anos 90 e ainda são poucos os centros de pesquisa equipados com aparelhos de última geração. Agora o Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais (NPPN) inaugura o Laboratório Multiusuário de Análises por RMN (LAMAR), que conta com dois novos espectrômetros CL-RMN Varian, um de 500 MHz acoplado a um cromatógrafo líquido e outro de 400 MHz.

― A RMN funciona como os olhos dos químicos. Já que a gente não vê as moléculas das substâncias, a ressonância nos permite identificar átomos e ver com quais outros eles estão conectados. Isso nos leva à construção da molécula como um todo, é quase a tradução da informação daquela substância em um desenho molecular ― explica Luzineide Tinoco, coordenadora do LAMAR.

O espectrômetro de 500 MHz é o terceiro implantado em todo o país e único na região sudeste. Será utilizado principalmente para a elucidação estrutural de substâncias em misturas complexas, análise de substâncias em fluidos biológicos, determinação estrutural de pequenos peptídeos e estudos de interação entre pequenas e médias moléculas em estado líquido. Segundo Luzineide, o aparelho vai trazer grande contribuição principalmente para a área de química de produtos naturais e de desenvolvimento de fármacos no Rio de Janeiro, pois possui o diferencial do cromatógrafo que permite separar as moléculas de determinada substância líquida antes de introduzi-la para a análise no espectrômetro. Já o aparelho de 400 MHz será usado para suprir a demanda de rotina do laboratório, estimada em mais de 50 espectros por dia, e também para cursos especiais que serão oferecidos em regime teórico e prático a estudantes de graduação em Química e Farmácia.

A idéia de criar o LAMAR surgiu a partir do lançamento de um edital da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) para aquisição de equipamentos multiusuários em 2006. Luzineide e os professores do NPPN Sonia Soares Costa e Paulo Roberto Costa submeteram um projeto para conseguir um Espectrômetro de Ressonância Magnética Nuclear acoplado a um Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência (CL-RMN) e, com o apoio de 50 pesquisadores de diferentes entidades, como Embrapa, IME, Fiocruz e UFMG, obtiveram aprovação.

A RMN é hoje uma técnica imprescindível em muitos centros de pesquisa. Sem dados de RMN não é possível ao pesquisador de produtos naturais e fármacos, por exemplo, publicar seus artigos. Além disso, a falta de espectrômetros em uma universidade faz com que esta dependa de outros centros de pesquisa e, por conseqüência, tenha que diminuir sua quantidade de amostras a serem analisadas.

— Para o NPPN vai ser um ganho muito grande, irá suprir uma diferença de quase 20 anos de atraso no uso da técnica de RMN. Agora o NPPN vai estar no mesmo nível de qualidade de análise que é feito em outras universidades do mundo e do Brasil —, afirmou Luzineide, que acredita que esses novos equipamentos irão incitar o surgimento de novas linhas de pesquisas e descobertas científicas na UFRJ.

Funcionamento do laboratório

O LAMAR será aberto a qualquer pesquisador que saiba manejar os espectrômetros. Para aqueles que não têm esse conhecimento, já é oferecido no NPPN um curso intensivo de treinamento de quatro créditos, aberto ao público geral, com vaga para dez alunos. Estão também previstos cursos de verão direcionados a pesquisadores de fora da UFRJ ou do Estado. Além dessa opção de operar diretamente os aparelhos, o usuário do laboratório tem a assistência de dois técnicos disponíveis para análises de rotina. “Os espectrômetros funcionarão dia e noite, inclusive nos fins de semana, analisando amostras de quem deixou lá”, explica Luzineide. O LAMAR possui ainda uma sala de preparo de amostra para ser usada por pesquisadores de fora da universidade e uma sala com computadores onde podem ser acessados os dados e resultados das análises solicitadas aos técnicos.

― Diversas linhas de pesquisas poderão ser desenvolvidas no LAMAR. Um exemplo é a minha, que busca o desenvolvimento de inibidores de enzimas de parasitas que causam doenças negligenciadas, como leshimaniose e malária. Também há projetos na área de elucidação estrutural de produtos naturais, como a análise de flavonóides que têm uso medicinal muito amplo; projetos de síntese orgânica; projetos relacionados à análise de metabólitos, que vão, por exemplo, analisar a urina e o sangue de alguém que tomou determinado medicamento para ver em que esse medicamento se transformou ― esclarece a coordenadora do laboratório.

Luzineide conta que o LAMAR já foi procurado por empresas interessadas no uso de seu equipamento: “Tivemos duas solicitações que não eram esperadas, de uma indústria farmacêutica e outra na área de alimentos.” A prestação de serviços via Fundação Universitária José Bonifácio (FUSB) é uma forma de custear a dispendiosa manutenção do laboratório.

Para divulgar o laboratório, que está sendo inaugurado hoje (19/3) com a presença do reitor, será realizado o I Simpósio de RMN do NPPN – A RMN no Brasil: Avanços e Perspectivas. O evento, que começa 17h e se estende por todo o dia 20, pretende contar um pouco da história da RMN e informar ao público os possíveis usos da técnica. Para tal, foram convidados renomados especialistas, como o professor Raimundo Braz Filho, um dos pioneiros da ressonância magnética no país, e José Daniel Figueroa Villar, presidente daAssociação de Usuários de Ressonância Magnética (AUREMN).