• Edição 160
  • 12 de fevereiro de 2009

Notícias da Semana

Estudo revela traços em comum na evolução do homem e de outros primatas



Marcio Castilho - AgN/PV

A construção e estrutura do cérebro do homem seguem as mesmas regras aplicadas a outros animais da natureza. A superioridade cognitiva humana se explica pelo fato de o homem ser um primata, com mais habilidades do que os roedores, por exemplo, possuir, dentro da sua espécie, o maior cérebro e, com isso, maior quantidade de neurônios. É o que demonstra um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que será publicado na próxima semana, sob a coordenação de Suzana Herculano-Houzel, professora do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, e outros pesquisadores. Parte desse trabalho foi divulgada nesta quarta-feira (11/02) em sua palestra “E se formos apenas grandes primatas?”, na Casa da Ciência, encerrando o ciclo de debates da exposição “Paisagens neuronais”.

Segundo Suzana, que atua também como apresentadora e roteirista da série Neurológica, da Rede Globo de Televisão, o estudo confirma a tese de que somos primatas até na estrutura do cérebro. “O nosso cérebro tem o tamanho esperado de um primata do nosso porte e tem exatamente o número de neurônios que se espera de um cérebro desse tamanho. Não somos especiais. E por que deveríamos ser? Se a evolução se aplica a todos, nada mais natural o ser humano ser apenas mais uma espécie que segue as mesmas regras de outros animais. O que se aplica a outros animais também vale para o homem em matéria de construção de cérebro”, afirma a pesquisadora.

O trabalho ajuda a desmistificar algumas concepções sobre o que diferencia o homem de outros animais, como o tamanho absoluto ou relativo do cérebro ou as dobras do córtex. Segundo Suzana, se o critério fosse o tamanho absoluto, os cetáceos levariam vantagem, pois chegam a possuir um cérebro de até nove quilos contra 1.450 gramas do cérebro humano. Ela lembra ainda que os golfinhos apresentam também um número maior de dobras no córtex em comparação ao ser humano.

Para identificar a particularidade do potencial cognitivo do homem, os pesquisadores buscaram verificar aproximações e distanciamentos das regras celulares de construção de cérebros de tamanhos diferentes em roedores e primatas. O primeiro trabalho, como explica Suzana, foi contar as células. Para isso, os cientistas desenvolveram um método de transformar o cérebro em uma suspensão homogênea, processo identificado como fracionador isotrópico.

A pesquisa revelou que, entre os roedores, a capivara tem 23 vezes o número de neurônios de um camundongo. Como o homem possui mais de 85 bilhões de neurônios, Suzana calculou que um roedor precisaria ter um cérebro de 45 quilos em um corpo de 109 toneladas para apresentar um quadro cognitivo semelhante ao do ser humano. Nos primatas, ao contrário, o cérebro teve crescimento isométrico, ou seja, um crescimento linear do tamanho do cérebro e da quantidade de neurônios. Os primatas apresentam assim, segundo Suzana, “mais neurônios com o mesmo tamanho do cérebro” numa comparação com os roedores, o que explica habilidades superiores do primeiro em relação ao segundo.

“Partimos da premissa que o número de neurônios é o diferencial. A nossa vantagem é, em primeiro lugar, sermos primatas e, dentre os primatas, termos o maior cérebro, reunindo, portanto, maior número de neurônios”, conclui a professora do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ.


Relembrar é viver

Em conferência, idealizador da Escola de Verão relata a trajetória de 15 anos

Marcello Henrique Corrêa

Estudantes de todo o país compareceram na manhã do último dia 9 ao auditório Rodolpho Paulo Rocco, o Quinhentão, para a abertura da XV Escola de Verão em Química Farmacêutica e Química Medicinal. Sobre o palco do auditório, os integrantes da mesa de honra falaram brevemente, representando os diversos setores do Centro de Ciências da Saúde e da UFRJ. Estavam presentes Hélio de Mattos, prefeito da Cidade Universitária; Miriam Ribeiro Leite, representando a Faculdade de Farmácia da UFRJ; Diana Maul, coordenadora de Extensão do CCS; e Eliezer Barreiro, coordenador e idealizador do projeto.

A rápida abertura, de cerca de 20 minutos, deixou espaço para uma agenda lotada de atividades: são cinco dias de cursos e conferências que acontecem de 8h às 18h. Os cursos estão sendo acompanhados por 215 alunos – muitos vindos de outros estados –  inscritos no evento. De acordo com a organização do evento, este é um ano especial, em que se comemoram os 15 anos da iniciativa.

A longa trajetória do evento foi relembrada hoje à tarde por Eliezer Barreiro. Durante uma hora de conferência, Barreiro apresentou os caminhos que o levaram a idealizar o evento, os objetivos e as dificuldades que surgiram ao longo do período. Recordou também os nomes que ajudaram a consolidar essa idéia.

O desejo de fazer uma Escola de Verão surgiu a partir da visita de Barreiro à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Em 1971, o professor teve contato com a Escola de Verão em Química, que era realizada na Universidade por Otto Gottlieb, mais indicado ao Prêmio Nobel de Química em 1999. Posteriormente, a experiência no projeto semelhante realizado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde Eliezer Barreiro lecionou por um tempo, também contribuiu para aumentar o interesse do pesquisador sobre o assunto.

Isso se revelou assim que Barreiro foi transferido para a UFRJ. “Depois de participar de uma na Rural e fazer outra na UFSCar, o que, então, deveria fazer quando chegasse à UFRJ? Escola de Verão, é óbvio”, comentou o professor, revelando como a iniciativa tinha se tornado instigante para ele. A Escola de Verão em Química Farmacêutica nasceu em 1995 e já trazia, na primeira edição, cursos que se tornaram tradicionais ao longo da história, como “Introdução à Química Farmacêutica”.

Naquele ano, cerca de 90 alunos participaram e, desde então, a avaliação do evento tem sido positiva. A maioria dos participantes de 1995 avaliou o curso como “ótimo”, seguido de um número expressivo que optou por “bom” no questionário que é distribuído desde a primeira edição do evento. “Esse retorno foi o que nos incentivou a fazer o segundo evento. Quando a avaliação também foi positiva no segundo ano, resolvemos fazer o terceiro, e assim por diante”, comentou o professor, lembrando a importância de ouvir o público, a razão de ser do projeto.

De 1995 a 2008, a Escola de Verão em Química Farmacêutica recebeu 2.105 participantes, a maioria de outros estados. Para Eliezer Barreiro, isso representa um sinal de sucesso do efeito multiplicador do evento. O grande número de participantes, de acordo com ele, permite também o intercâmbio de experiências, como, por exemplo, possibilitar o diálogo entre pesquisadores de universidades e profissionais de química medicinal de instituições privadas.

Para o professor, a colaboração de uma equipe competente foi fundamental durante esse tempo. Eliezer Barreiro definiu o grupo de trabalho como “alérgicos a preguiça”. A parte final da conferência foi dedicada a relembrar os rostos e nomes nas fotos recuperadas por Barreiro. A conclusão do professor foi clara: “Temos uma equipe e tanto!”, concluiu com orgulho.