• Edição 153
  • 19 de novembro de 2008

Por uma boa causa

Novos destinos para os copinhos plásticos

Marcello Henrique Corrêa

Quando Leo Baekeland sintetizou a baquelite em 1909, talvez não tivesse noção do processo que estava desencadeando naquele momento. Tratava-se, porém, do primeiro polímero sintético da história; surgia, naquele instante, um dos precursores do plástico. Desde então, o material não parou de se popularizar. A partir da Segunda Guerra Mundial, o plástico começou a ser usado para os fins mais diversos e, atualmente, é encontrado em quase todos os objetos — da simples caneta até componentes de aviões. Como grande parte desses objetos vai parar no lixo um dia, hoje, o plástico é o tema de Por uma boa causa, que, em novembro, traz as análises de especialistas sobre os tipos de lixo e como lidar com eles, sem agredir a natureza.

É essa a idéia de Elen Vasques Pacheco, professora do Instituto de Macromoléculas Eloísa Mano (IMA). Em breve, o grupo coordenado pela professora deve implantar, na Cidade Universitária, um programa de reciclagem de copos plásticos, usados com muita freqüência em todo o campus. Elen conta que é raro encontrar projetos com poliestireno (polímero encontrado nos copinhos), o que serviu de motivação para o trabalho. “No Brasil, são pouquíssimas instituições ou unidades que reciclam esse tipo de plástico, principalmente em copinhos. Então, se nós usarmos uma tecnologia para obter um produto a partir desse lixo, espera-se que haja um interesse na tecnologia por parte dos recicladores”, afirma.

O projeto prevê a reutilização dos copos na confecção de placas de sinalização externa, por meio da transformação do poliestireno em madeira plástica. “O IMA já tem um know-how em reciclagem e na fabricação de madeira plástica. Nesse trabalho, vamos transformar os copinhos em um tipo especial de madeira plástica para fazer as placas de sinalização do próprio campus”, informa a professora. O grupo aguarda a confirmação de um convênio com a Petrobrás, que, se assinado, garantirá mais estrutura e recursos para a empreitada.

Plástico e reciclagem

Ao contrário de resíduos como o lixo hospitalar, comentado na edição anterior do Olhar Vital, o plástico não representa riscos elevados para o meio ambiente, por não segregar substâncias tóxicas. Segundo a professora, quando o material é descartado corretamente, não há problemas. “No que diz respeito ao material no meio ambiente, o plástico é inerte: praticamente não reage. Se colocado no aterro, não é um material perigoso”, comenta a professora, mas completa com um alerta: “O problema é quando o descarte é irregular, que pode causar entupimento de bueiro e outros transtornos”.

Outro aviso de Elen diz respeito ao valor econômico do lixo. Nos últimos anos, o Brasil vivenciou uma explosão no percentual de reciclagem de latas de alumínio. De acordo com dados da Associação Brasileira de Alumínio (Abal), o país é o maior reciclador de latinhas do mundo – ano passado, 96,5% das latas foram recicladas.  O número é explicado pela importância da reciclagem na renda de famílias mais pobres.

Para a pesquisadora, vale a pena investir em tecnologia para também tornar copinhos plásticos economicamente viáveis. “Estamos enterrando um material com grande potencial de ser reciclado. Quando falamos em reciclagem no Brasil, falamos de geração de emprego e riqueza. É importante que percebamos esse potencial”, afirma Elen Pacheco.

O trabalho começa em breve, com a coleta do lixo das unidades. “O primeiro passo é a coleta, que não é uma tarefa fácil. O estudo vai funcionar como se fosse um piloto, para que possamos pensar, no futuro, em aplicar o método até num bairro ou numa cidade”, conclui a pesquisadora.