• Edição 152
  • 13 de novembro de 2008

Ciência e Vida

Estudo investiga morte celular provocada pelo vírus da dengue

 

Luana Freitas

Considerada um dos principais problemas de saúde pública no mundo, a dengue afeta anualmente cerca de 100 milhões de indivíduos em diversos países. No Brasil, somente em 2007, foram registrados 536.519 casos da doença. Para compreender melhor os fatores que levam à morte celular durante o processo de infecção viral, os estudantes Samir Campos e Diego Martins vêm desenvolvendo, há cerca de um ano e meio, o estudo “Apoptose induzida pelo vírus da Dengue-2: investigação do papel da via mitocondrial”. Sob a coordenação da professora Andréa Cheble de Oliveira, do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ, a pesquisa conta ainda com a participação do doutorando Daniel Sanches,  do Programa de Pós-Graduação em Química Biológica do IBqM.

— A dengue apresenta um impacto sócio-econômico muito grande na sociedade brasileira, já que, além de atingir diretamente a população, repercute sobre os gastos da saúde pública, aplicados no combate à doença. Ao mesmo tempo, os estudos sobre a infecção viral nas células-alvo do nosso organismo são muito difusos e complexos. Ainda não está muito claro como ocorre esse processo de interação entre vírus e célula — afirma Daniel Sanches, destacando a importância da pesquisa.

Segundo Daniel, o estudo buscou analisar o papel da via mitocondrial no processo de morte celular programada, conhecido como apoptose. O doutorando explica que, entre as diferentes formas de destruição das células, existe a morte celular programada, chamada assim devido às vias intra e extracelulares que, quando disparadas, provocam a morte da célula. No caso da apoptose, existem três vias já identificadas que ocasionam a destruição da célula: a via extrínseca, quando o estímulo para a indução da morte é extracelular; a via de estresse de retículo endoplasmático, que é uma organela celular; e a via mitocondrial, quando a mitocôndria induz à morte.

— O trabalho se dedica ao estudo específico do papel da via mitocondrial, apesar de termos interesse em estudar também a via de estresse de retículo endoplasmático. A mitocôndria mantém, entre sua membrana externa e interna, uma diferença de potencial eletroquímico. Diversos estímulos podem causar a perda desse potencial, ativando enzimas que digerem os substratos celulares e levam a célula à morte — explica o pesquisador.

O doutorando observa ainda que, entre os quatro sorotipos da dengue já conhecidos, o trabalho envolveu apenas o sorotipo 2. Por meio da comparação entre células normais e células infectadas, todas submetidas às mesmas circunstâncias, foram avaliadas as condições de morte celular e a importância da via mitocondrial durante o processo.

— Além de analisarmos as vias ativadas, observamos em que momento isso acontecia e percebemos que, até o quarto dia de infecção, as células sobreviviam, embora o vírus estivesse se replicando no interior delas. Sinais de morte foram observados de forma mais significativa somente a partir do quinto dia — revela Daniel.

Durante o desenvolvimento da pesquisa, um dos principais métodos utilizados para a obtenção dos resultados foi a microscopia multifotônica, técnica que foi implantada na universidade sob a coordenação do professor Rafael Linden, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF) da UFRJ. De acordo com a professora Andréa Cheble, o diferencial da técnica está em utilizar a excitação por dois fótons, processo que danifica menos a célula.

Para Samir Campos, os resultados observados mostram a importância da via mitocondrial no processo de morte celular programada. Dessa forma, a pesquisa se propõe a levantar mais do que hipóteses.

— O objetivo foi entender quais moléculas estão, de fato, envolvidas nesse mecanismo de indução de morte da célula. Conhecendo essas moléculas, especialistas terão uma base para, futuramente, desenvolver novas formas de terapia — conclui o estudante do sexto período do curso de Biomedicina.