• Edição 151
  • 06 de novembro de 2008

Argumento

Tratamento da água pela desinfecção solar

Cília Monteiro

A utilização racional de água potável é um grande desafio atualmente. Uma das alternativas a comunidades carentes de água de boa qualidade é o método da Desinfecção Solar (SODIS). “Países subdesenvolvidos o utilizam há várias décadas. Consiste em deixar a água não tratada em garrafas PET expostas ao sol, por até seis horas, na tentativa de melhorar sua qualidade microbiológica”, explica Ivan Gláucio Paulino Lima, aluno de doutorado do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF).

No entanto, o doutorando considera este um processo bastante demorado, além de restrito, por depender de alta insolação para ser realizado. Com o objetivo de acelerar o procedimento, o Laboratório de Radiobiologia Molecular do IBCCF, do qual Ivan é integrante, vem desenvolvendo um projeto para diminuir o tempo de exposição solar da água e viabilizar o uso da metodologia em locais onde a insolação não é tão alta.    

Para tal, foram utilizados fotocatalisadores, substâncias que absorvem a luz visível e contribuem para a inativação bacteriana e de microorganismos em geral. Segundo Ivan, realizaram-se diversos experimentos controlados, inoculando a bactéria Escherichia coli. “Contaminamos propositalmente a água com uma concentração conhecida da bactéria e variamos as quantidades do fotocatalisador, neste caso o azul de metileno. A partir disto, observou-se a porcentagem de inativação ao longo do tempo”, aponta o pesquisador.

De acordo com Ivan, foram obtidas várias alíquotas da água utilizada, em que se aplicaram procedimentos para saber o número de colônias que apresentavam. “Com isso, foi encontrado um valor numérico em que se pode estimar a porcentagem de inativação microbiana”, aponta o doutorando. Ele acredita que este estudo vem apresentando resultados bastante promissores e o processo de desinfecção solar está sendo acelerado. 

Próximos passos

Ivan considera necessário partir para uma próxima etapa do estudo, que corresponde à realização de testes com microorganismos patogênicos, como salmonela e estafilococos – presentes na contaminação das águas. O objetivo é encontrar um corante vital que não seja tão prejudicial quanto outros produtos freqüentemente utilizados, como o hipoclorito. “Comparados ao cloro, os corantes utilizados nos testes possuem uma toxidade muito mais baixa e não alteram tanto o gosto da água”, observa o pesquisador.

Para ele, a meta é tentar achar o composto que apresente uma maior eficiência na associação com a luz solar para inativar os microorganismos. E, além disso, realizar experimentos com águas não tratadas, como de lagos. “Queremos atingir comunidades carentes, que não possuem acesso à água tratada. Trata-se de um procedimento muito barato, que pode ser feito de maneira doméstica. Seria uma boa alternativa a estas comunidades, uma metodologia opcional de tratamento de água”, conclui Ivan Lima. Ele acredita que o resultado final do estudo teria um grande impacto no âmbito social, diminuindo o número de internações devido a doenças causadas por contaminadores de água.