• Edição 149
  • 23 de outubro de 2008

Microscópio

Encontro com mestres resgata cultura popular

Cília Monteiro

A herança cultural de povos indígenas, africanos e europeus deixou como legado várias formas de manifestação, dentre elas as danças, normalmente ligadas a aspectos religiosos, lendas, festas, acontecimentos cotidianos ou brincadeiras. “A aproximação do folclore com a Educação Física acontece através das danças, que correspondem a uma linha de pesquisa na UFRJ”, explica Frank Wilson Roberto, chefe do Departamento de Arte Corporal da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ (EEFD).

De acordo com Frank Wilson Roberto, o Encontro com Mestres surgiu a partir de idéias elaboradas no Núcleo de Estudos Cultura e Sociedade, da Companhia Folclórica do Rio UFRJ. “Pensamos neste encontro como forma de criar uma conexão entre os saberes populares, através destes mestres de grupos originais, dentro do espaço acadêmico”, expõe o professor.

Dança é atividade física

O Grupo de Danças Folclóricas, criado por Sônia Chemale, contribuiu na formação de diversos profissionais da área de Educação Física. Em 1982, o grupo passou a ser coordenado pela professora Eleonora Gabriel, uma de suas ex-alunas. O projeto recebeu apoio quando surgiu o programa de bolsa de iniciação artística e cultural. “O grupo cresceu e somos resultado disso”, constata o professor.

A aproximação do folclore com a Educação Física, segundo Frank Wilson, acontece através das danças e corresponde a uma linha de pesquisa na Universidade.

– Há uma idéia de que trabalhamos em um campo mais relacionado a esportes e ginástica, mas a dança, inclusive a folclórica, também se insere neste contexto como um importante instrumento – observa Frank. Ele cita cirandas, folias de reis, mineiro pau, boi pintadinho e a dança de São Gonçalo como bons exemplos de manifestações folclóricas.

Segundo o professor, o primeiro grande estudo realizado na área foi sobre grupos do Estado do Rio de Janeiro. Cada um é ligado a uma dança específica, relacionada à cultura local. “Um deles, muito interessante, é o de Quissamã, que tem uma dança bastante tradicional, chamada Fado de Quissamã, praticada pelos remanescentes dos quilombos”, aponta o professor.

– Em Tarituba (cidade próxima a Paraty, no sul do estado), onde aconteciam as cirandas (por algum motivo, tinham abandonado a prática) realizamos o trabalho e, a partir de uma relação estabelecida, participamos do processo de reativação do grupo – relata Frank. Ele considera importante que a instituição ajude a preservar as manifestações folclóricas, para que a cultura do povo brasileiro não seja esquecida.

Folclore e Saúde

O professor da EEFD acredita que as manifestações também servem como um indicador de saúde, pois quando elas deixam de acontecer há relação, em geral, com a precariedade local. “A realização das danças é um sinal de que a comunidade está bem. Por fazerem parte da vida cotidiana de diversos indivíduos, as danças folclóricas estão bastante relacionadas à saúde social”, afirma o professor.

Além disso, Frank acredita que indivíduos, dentre eles idosos, ao se juntarem para dançar, estão praticando um exercício colaborando com a saúde. “Este é um detalhe que não pode ser isolado de um contexto maior, a abrangência da prática folclórica envolve muito mais questões, as musicais, as cenográficas e as de relações sociais”, argumenta o professor.

O Encontro

Entre os dias 4 e 7 de novembro, acontece na Escola de Educação Física e Desportos (EEFD) da UFRJ, o 2° Encontro com Mestres Populares na UFRJ. O evento remete a uma linha de pesquisa inaugurada pela professora Sônia Chemale, artista e pesquisadora da cultura popular na década de 70 e que fundou o Grupo de Danças Folclóricas da UFRJ.

O evento conta com oficinas, debates e trocas de experiências com Mestres Populares de grupos de São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Dentre os convidados, Paulo Carrano, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Afonso Furtado, presidente da Comissão Fluminense de Folclore. “O principal é a possibilidade de um diálogo interdisciplinar para se pensar políticas públicas destinadas aos próprios mestres. Acabamos quebrando rótulos, como o de que a Educação Física só trata do corpo fisiológico e biológico. Temos também preocupações voltadas ao corpo social”, informa Frank Wilson.