• Edição 149
  • 23 de outubro de 2008

Por uma boa causa

Proteínas contra a obesidade

Luana Freitas

Considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a epidemia do século XXI, a obesidade afeta, atualmente, cerca de 300 milhões de adultos em todo o mundo. A doença crônica é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de problemas cardiovasculares, tendo como causas o estilo de vida sedentário e a alimentação inadequada. Para o tratamento de indivíduos obesos, alguns especialistas recomendam um cardápio rico em proteínas e com baixo teor de carboidratos – a chamada dieta das proteínas, tema do Por uma boa causa desta edição, dando continuidade à série “Dietas terapêuticas e preventivas”.

As proteínas são os constituintes básicos do corpo humano e desempenham diferentes funções biológicas, como estruturação dos tecidos, formação de anticorpos, constituição de enzimas e coagulação sangüínea, por exemplo. As fontes protéicas mais importantes para organismo são representadas por alimentos animais e vegetais, principalmente carnes, ovos, laticínios e leguminosas.

Uma dieta hiperprotéica, por sua vez, baseia-se na restrição de carboidratos do cardápio. Portanto, alimentos como cereais, batatas, açúcares, massas, pães e biscoitos estão proibidos. Segundo Lenita Zajdenverg, professora adjunta da Faculdade de Medicina e do Serviço de Nutrologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ, esse tipo de alimentação vem sendo empregado por pessoas obesas como uma maneira eficaz de emagrecimento.

– Seguida por, no máximo, quatro meses, a dieta das proteínas é tão eficaz quanto uma dieta de baixa caloria para perda de peso. Antigamente, acreditava-se que uma alimentação hiperprotéica poderia aumentar os níveis de colesterol e afetar outros parâmetros metabólicos do organismo, o que, na verdade, não aconteceu em curto prazo – observa a nutróloga.

A polêmica dieta do dr. Atkins

A dieta hiperprotéica ganhou fama na década de 1970, quando o cardiologista norte-americano Robert Atkins publicou o livro A dieta revolucionária do dr. Atkins” após observar os efeitos desse tipo de alimentação em pacientes cardiopatas. De acordo com o médico, a falta de carboidratos – principal fonte energética do organismo – leva o corpo a queimar gordura para produzir energia. No entanto, o cardápio rico em proteínas acabou dividindo opiniões entre a comunidade científica.

– O grande temor da classe médica era se a dieta podia piorar o perfil lipídico e levar o indivíduo a desenvolver um quadro de perda de energia por falta de glicose. Na verdade, a dieta hiperprotéica se mostrou segura quando seguida por uma população obesa durante um período de 16 semanas. O problema é que não se sabe ainda seus efeitos em longo prazo – revela Lenita.

Contudo, a nutróloga alerta que é preciso consultar um especialista antes de iniciar a dieta, já que uma alimentação hiperprotéica pode ser prejudicial à saúde de pessoas que apresentem outras doenças, como, por exemplo, insuficiência renal ou níveis elevados de ácido úrico no sangue (doença conhecida como gota). Lenita destaca ainda a importância da reeducação alimentar no combate à obesidade.

– Não adianta seguir a dieta durante quatro meses e depois voltar a se alimentar de forma inadequada novamente. O fator mais importante no tratamento da obesidade é a mudança dos hábitos alimentares, ou seja, manter uma alimentação em que os nutrientes estejam distribuídos de forma balanceada – garante a médica.

Consumo de proteínas pode ajudar no controle do peso

Estudos recentes revelaram que aumentar o consumo de proteínas na dieta, após emagrecer, pode contribuir para o controle do peso. O Projeto Diógenes (Dieta, Obesidade e Genes), realizado em oito países (Dinamarca, Holanda, Reino Unido, Bulgária, Grécia, República Tcheca, Alemanha e Espanha), acompanhou, durante seis meses, indivíduos que deveriam perder pelo menos 8% de sua massa corporal. Nesta etapa, 763 dos envolvidos emagreceram em média 11,2 quilos, por pessoa.

Após a primeira fase do projeto, 565 famílias (763 adultos e 787 crianças) foram submetidas então a cinco dietas distintas – quatro envolviam quantidades diferentes de proteínas e carboidratos, já a outra se baseava nos hábitos alimentares da família e em recomendações sobre uma alimentação saudável. As famílias que seguiram a dieta rica em proteínas não recuperaram o peso perdido, enquanto que as demais ganharam entre 2 e 2,5 quilos.

Os resultados finais da pesquisa, no entanto, serão divulgados somente no Congresso Europeu da Obesidade, que acontece em maio do próximo ano, em Amsterdã.

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