• Edição 146
  • 02 de outubro de 2008

Teses

Modelo inovador estuda origem das organelas

Heryka Cilaberry

Amanhã, dia 3 de outubro, o estudante de mestrado do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), Allan Cézar de Azevedo Martins dará um importante passo em sua carreira acadêmica. Às 9h30, na sala G1-022, localizada no bloco G do Centro de Ciências da Saúde (CCS), na Cidade Universitária, ele defende a dissertação “Síntese de fosfatidilocolina em Crithidia deanei: a influência do endossimbionte“, orientada pelos professores Maria Cristina Machado Motta e Marcelo Einicker Lamas, ambos do Instituto.

De acordo com o mestrando, alguns protozoários da família Trypanosomatidae abrigam uma bactéria simbiótica em seu citoplasma, com a qual mantém uma relação mutualística, interação benéfica entre duas espécies. Constituindo assim, um excelente modelo para o estudo da origem das organelas e da evolução celular.

O trabalho de Allan mostra que a Crithidia deanei, um tripanosomatídeo que hospeda um simbionte, incorpora duas vezes mais 32Pi em fosfolipídeos, após crescimento em meio de cultura, quando comparada a uma cepa deste protozoário que foi curada do simbionte. O principal fosfolipídeo sintetizado por ambas as cepas é fosfatidilcolina (PC), seguida de fosfatidiletanolamina (PE) e fosfatidilinositol (PI). Após o fracionamento deste protozoário, 32Pi-PC é o fosfolipídeo majoritário nas frações de simbionte e mitocôndria.

O simbionte isolado é capaz de sintetizar fosfolipídeos independente do tripanosomatídeo hospedeiro. Entretanto, as bactérias isoladas sintetizam grande quantidade de PE, mais que PC, sugerindo que a associação com o protozoário hospedeiro é essencial para a produção de PC do simbionte.

Para obtenção dos resultados, o endossimbionte isolado foi incubado com [3H]-colina para verificar se a bactéria poderia incorporar o traçador do meio e sintetizar PC-marcado, mas nenhuma incorporação foi observada. Além disso, os genes, que codificam as enzimas envolvidas na biossíntese de PC, não foram encontrados no genoma do endossimbionte. Contudo, estas buscas revelaram um gene codificante de uma putativa fosfolipase, indicando que a troca entre os grupos de cabeças polares pode explicar a síntese de PC em parte.

Sobre o consumo de O2 pela fração mitocondrial, taxas mais elevadas foram observadas quando comparadas à fração de simbionte, sugerindo que, embora metabolicamente ativa após o fracionamento celular, a mitocôndria é incapaz de sintetizar fosfolipídeos. O consumo de O2 pelo protozoário que contém o endossimbionte é mais elevado quando comparado ao aposimbiótico, reforçando a idéia de que a bactéria simbiótica acelera o metabolismo do hospedeiro. Dados obtidos por microscopia eletrônica de transmissão revelaram ainda uma proximidade entre endossimbionte, núcleo e retículo endoplasmático. Juntos, esses resultados sugerem que a bactéria simbiótica pode obter parte de sua PC ou mesmo precursores de PC, do tripanosomatídeo hospedeiro.